Resenha: Poder Supremo

“Você não é humano. Sabe disso agora… Você se parece conosco, mas não é um de nós… Você não tem qualquer direito. Não temos obrigação nenhuma de tratá-lo desta ou daquela forma. Você é uma arma. Meu trabalho era de assegurar que estivesse apontado na direção certa.”

Essa é uma publicação da Editora Panini, do ano de 2018, que traz para os leitores brasileiros, desta vez em um encadernado, a reinterpretação do Esquadrão Supremo feita pelo roteirista J. Michael Straczynski, com desenhos do Gary Frank. Para quem não conhece, o Esquadrão Supremo é uma espécie de cópia da Liga da Justiça e de seus principais personagens, ambientados em um universo alternativo da Marvel.

A história começa com um casal já não tão jovem e, aparentemente, com problemas no casamento, trafegando numa caminhonete por uma estrada isolada em meio às fazendas do Meio-Oeste americano, quando uma nave cai do espaço trazendo um bebê. O casal decide levar a criança para casa, mas horas depois o exercito americano aparece para levar o garotinho e o entregam ao governo.

Ao verificarem que o bebê tinha algumas peculiaridades muito interessantes, como super força e pele praticamente impenetrável, o governo decide criá-lo como um americano patriota, para que se torne uma arma ao crescer. O garotinho ganha o nome de Mark Milton e é adotado por pais escolhidos depois de rigorosa seleção. O projeto tem início e Mark é criado numa área isolada, longe de toda a sociedade e com todo o controle do governo. Até um cachorrinho que Mark ganha foi cuidadosamente escolhido após análise de 47 raças. Só assim conseguem determinar qual delas seria mais adequada para a formação da infância de um americano patriota.

O pequeno Mark Milton descobrindo sua visão de calor.

Os problemas começam a aparecer quando Mark cresce e percebe, através da sua super audição e visão, que existem outras pessoas e toda uma comunidade a alguns quilômetros de onde eles moram. Ele se pergunta por que tem que viver preso. Nesse ponto, o Governo americano, juntamente com o exército, o convence a “ajudar” o país em algumas missões contra “terroristas” e “ditadores”.

Enquanto Mark tem suas primeiras experiências militares, alguns fatos estranhos ocorrem em partes do país. Um garoto que consegue correr a grandes velocidades surge numa cidadezinha; um rapaz afrodescendente, que teve seus pais assassinados por racistas, decide se vestir de preto e fazer justiça com as próprias mãos; uma arma que depende apenas da força de vontade do usuário se funde ao antebraço de um militar; uma criatura humanoide surge nos mares e uma misteriosa mulher, aparentando muito poder, surge de uma antiga tumba. A história se desenvolve com a sociedade e o Governo lidando com esse estranho grupo.

Para qualquer leitor de quadrinhos, nenhum desses personagens deve parecer novidade. Muito pelo contrário, estamos falando do Superman, do Flash, Batman, Mulher Maravilha e Aquaman, mas com uma nova roupagem. Essa edição nos traz claramente uma versão Marvel da Liga da Justiça, e como seriam os desdobramentos, se estes personagens aparecessem no mundo real. A Resposta é dada de forma bastante clara pelo roteirista: Os governos tentariam usar essas pessoas como armas.

Mark ao voltar de uma missão com o desejo de se revelar para o mundo

O autor deixa explicito todos os problemas originados ao usar super seres como armas, e como isso alteraria o equilíbrio das forças políticas no mundo.

Outra questão bastante interessante, discutida na história, é a forma que políticos usam e manipulam a população. Políticos deixam de enxergar as pessoas como indivíduos e cidadãos, e os utiliza como agentes de manobra que podem ser usados para quaisquer fins. Essa informação é jogada na nossa cara durante as conversas do Mark com alguns generais. Nada mais atual em nosso país.

Outra questão bastante interessante é o papel da indústria e da iniciativa privada. Imagine que o Superman ou o Flash existissem hoje em dia. Qual o poder de uma empresa que tivesse um dos dois como garoto propaganda? Em tempos de influenciadores digitais, quantos tênis não seriam vendidos se fossem usados pelo Flash? O assédio de diversas empresas sobre esses seres seria absurdo.

Stanley Stewart, o Borrão (Flash), e empresários interessados em gerenciar sua carreira.

Apesar do tema de heróis em um mundo real, e de suas desconstruções, já estarem um tanto quanto batido, o roteiro é muito bem construído pelo Straczynski, e cada página lida aumenta a vontade de ler. O único defeito bastante significativo, é a Marvel não ter dado continuidade ao projeto. Ao terminar a leitura, fica a impressão de que esse seria apenas o prelúdio de uma grande saga.

Os desenhos são muito bonitos, juntamente com a paleta de cores. O artista usa vários tipos de enquadramentos e diagramações durante a obra, o que deixa a narrativa gráfica muito fluida e divertida. O único porém é que, o desenhista peca por excesso ao desenhar os olhos dos personagens. Durante quase toda a história os olhos são quase tão grandes quanto em mangás.

Gostei muito dessa publicação da Editora Panini. É um prato cheio para qualquer leitor de super-heróis. É uma divertida e reflexiva releitura de personagens bastante conhecidos.

A edição é muito bonita, consta de capa dura, 440 páginas em papel couchê de boa gramatura e sai pelo preço de capa de R$ 112,00, podendo ser facilmente encontrado em promoção em sites especializados.

 

Por Maxson Vieira

Sobre o autor

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Formado em Física, Mestre e Doutor em Engenharia Espacial / Ciência dos Materiais. Fã de J. R. R. Tolkien, José Saramago, Sebastião Salgado e Ansel Adams. Passou a infância e adolescência dividido entre Astronomia, quadrinhos, livros e D&D. Atualmente é professor do IFBA.


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