Sláine – O Deus Guerreiro

 

“Em um tempo que não há tempo, em um lugar que não é lugar, eu escrevo. Sobre o outrora Grande Rei, Sláine Mac Roth, governante de um império que não era império um passado que não é passado, ou futuro, mas eternidade. Pois as lendas são eternas”

Publicação da editora Mythos, do ano de 2018, essa publicação traz uma aventura fechada do personagem Sláine escrita por Pat Mills e ilustrada por Simon Bisley. Originalmente, o personagem era publicado nas páginas da revista 2000AD, e aqui no Brasil na Juiz Dredd Magazine também pela Mythos.

O personagem, uma espécie de bárbaro celta, foi inspirado nas histórias de Conan da década de 70 e no mito do primeiro rei da Irlanda. Contudo, Slaine tem várias peculiaridades que o diferem muito do cimério de bronze, uma delas é a sua relação com a magia e o sobrenatural. Nas suas aventuras, Slaine e seu companheiro, o anão Ukko, constantemente fazem uso de magias, artefatos mágicos e da ajuda dos deuses.

Neste encadernado, a história começa com Ukko relatando, de forma bastante saudosa, o tempo em que acompanhava Sláine em aventuras pelo mundo, mas agora que ele se foi só lhe resta escrever a maior de suas aventuras. Tudo que lemos, a partir de então, é do ponto de vista do anão.

Sláine é, até então, um andarilho irresponsável que busca riqueza, mulheres e confusão; não necessariamente nessa ordem. Mas quando retorna à sua tribo percebe que uma grande guerra se aproxima e ele precisa ajudar nesta batalha.

Para ganhar a guerra, Slaine percebe que precisa reunir quatro artefatos mágicos que estão nas mãos das quatro tribos bárbaras. Para isso faz um pacto com a Deusa para conseguir persuadir os reis de cada tribo e em contrapartida vai convencer às pessoas a retornar o culto a ela e ao matriarcado. Dessa forma, Sláine consegue reunir tais artefatos e ser coroado Rei Bárbaro e partir para a batalha.

Um dos pontos altos do encadernado é a arte da história. Ela é simplesmente sensacional. O Simon Bisley, que já trabalhou com o Juiz Dredd e Lobo, se superou. A história é toda pintada e possui nível incrível de detalhes, principalmente nas cenas de batalha e em planos mais fechados. As cores são usadas com bastante sagacidade, e transmitem perfeitamente o clima do roteiro. Cores em tom escuros quando Slaine está no submundo ou quando o anão Ukko está velho e melancólico, e cores vivas e alegres quando o roteiro tem um viés cômico. No final do encadernado existe um material extra com texto do roteirista Pat Mills, e ele faz bastante elogios exatamente à arte do Simon Bisley

O roteiro da história é muito bom, apresenta muitas peculiaridades da cultura celta e é um tanto quanto denso. Entretanto, a história não é fluida. A leitura é lenta e vez ou outra é necessário voltar algumas páginas para entender melhor o que está acontecendo. Por causa do estilo de narrativa, em vários momentos temos a impressão de que a obra não é uma história em quadrinhos, mas sim um livro ilustrado. Outro ponto negativo da narrativa é que, em alguns momentos, o roteirista tenta dar um viés cômico ao personagem principal. Ele faz isso utilizando piadas e situações de humor um tanto quanto forçadas, o que não funciona muito bem, mas nada que atrapalhe a experiência de leitura.

Por ser contada por um narrador onisciente e onipresente, a história por vezes usa do recurso dramatúrgico conhecido como “deus ex machina”, mas isso ocorre de maneira muito natural.

Também é importante destacar a clara diferença entre os quatro atos da narrativa, e cada uma com elementos próprios. Primeiro temos a apresentação de um bárbaro boêmio se metendo em confusões e voltando para a sua tribo e descobrindo que ela pode ser destruída por uma guerra. Em um segundo, momento temos Sláine buscando os artefatos necessários para ganhar a guerra. Em terceiro, temos a tão esperada guerra. E por último, a volta da guerra e os últimos relatos de Ukko sobre a vida do seu amigo. Cada uma dessas quarto partes possui a sua própria dinâmica, onde cada personagem e elemento narrativo tem seu devido lugar.

Duas coisas me chamaram a atenção. A primeira é o uso dos elementos da cultura celta. Tudo do personagem e no seu entorno foi criado com muito estudo deste povo e da sua mitologia. Como exemplos, posso citar o matriarcado e o culto à deusa. Além disso, há um momento em que Sláine executa, em nome da deusa, o último soldado do seu exército a chegar no local de batalha. Isso evita atrasos. Eu adoraria implementar essa tática nas reuniões do meu trabalho.

A segunda coisa que me chamou a atenção é o fato de que os heróis utilizam de elementos geralmente atribuídos ao lado “do mal”. Como, por exemplo, usar um artifício necromante para reviver os mortos da batalha para lutarem ao seu lado. Nunca veríamos isso numa história dos Vingadores, da Liga da Justiça ou de qualquer herói da Marvel ou da DC.

A edição é em formato europeu, 26,4 x 16,2 cm, capa dura, 212 páginas ao preço de capa de R$ 79,90.

Comprando em alguma promoção, vale muito a pena.

Por Maxson Vieira

Sobre o autor

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Formado em Física, Mestre e Doutor em Engenharia Espacial / Ciência dos Materiais. Fã de J. R. R. Tolkien, José Saramago, Sebastião Salgado e Ansel Adams. Passou a infância e adolescência dividido entre Astronomia, quadrinhos, livros e D&D. Atualmente é professor do IFBA.


One Reply to “Sláine – O Deus Guerreiro”

  1. Lucas de Deus

    Interessante a escolha do tema, o conhecimento de Sláine me chegou a vários anos e não lia a muito tempo, está de parabéns o artigo e será aquisição certa para minha coleção, texto fluído e de compreensão excelente que me fez querer a HQ, mais uma vez parabéns e continue a escrever sobre outros materiais…

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