O Livro das Baladas e Sagas

“Eu queria que voce estivesse no poço’ disse o falso cavaleiro na estrada.”

“‘E você tão profundamente no inferno’ declarou o garotinho, e dali não arredou o pé”.

O Livro Baladas e Sagas é um projeto pessoal do artista Charles Vess. Ele é um apaixonado pelas histórias cantadas nas músicas da Grã-Bretanha pré-século XVII e resolveu quadrinizar algumas dessas. Para este trabalho, ele convidou alguns grandes nomes da indústria dos quadrinhos, como Neil Gaiman e Jeff Smith, para adaptar estas antigas composições.

Essa é uma publicação da editora Sckipt, do ano de 2022, que traz para os leitores brasileiros o quadrinho ganhador do Eisner de 1998.

O resultado é simplesmente espetacular, com os roteiros casando com a arte de maneira perfeita. A curadoria dos contos para a obra é outro ponto positivo, e a seleção traz temáticas variadas. Tem conto de amor e paixão, luxúria, humor e terror, e até uma adaptação com temática nórdica. Apesar de serem muito boas, estas adaptações são, em sua maioria, muito curtas, o que dificulta o trabalho de resenhar sem algum tipo de spoiler. Essas histórias propiciam uma pequena ideia acerca do pensamento e dos temas que as pessoas dessa época conversavam ao redor de uma fogueira à noite, quando dificilmente havia a preocupação de algum tipo de registro.

Os autores tomaram o cuidado de adaptar ao pé da letra, mas também criando alguma introdução ou final, quando estes não existiam no original. Juntamente com a adaptação, há o original no final de cada adaptação, o que da ao leitor a chance de comparar os dois.

Apesar do ótimo trabalho dos roteiristas ao adaptar contos curtos que foram criados para serem cantados em pouco tempo, o que salta aos olhos é a arte do Charles Vess. De estilo cássico, seus desenhos são espetaculares e, não  por menos, ele ganhou o premio Eisner de melhor desenhista e artefinalista de 1998 por esse trabalho. Quem é um apreciador da arte, vai passar um bom tempo adimirando as páginas, e um leitor mais experiente vai perceber a semelhança com os traços do John Bolton e Hall Foster.

Outro ponto positivo é um texto de 9 páginas contextualizando o processo de pesquisa para recuperar e catalogar estes textos e músicas. Neste escrito o leitor é informado que este trabalho foi iniciado em 1765, com um bispo chamado Thomas Percy, e se estende até os dias atuais. Dessa forma é possível perceber a grandiosidade da obra. No final da edição tem uma lista dos discos onde é possível achar as músicas selecionadas para as adaptações.

Apesar da obra ser fantástica, há alguns pontos negativos e todos eles remetem á edição. A impressão ficou um pouco fraca, e em algumas passagens de texto fica a lembrança daquelas impressões de trabalhos do ensino médio em que eu escolhia o modo “impressão econômica”. E apesar desse detalhe, em algumas passagens é possível notar transparencia entre as páginas. Apesar do ótimo acerto do uso do papel polen, a gramatura poderia ser maior. Mas esses pontos não atrapalham em nada na leitura e beleza do quadrinho.

Gostei muito da edição e, ao terminar a leitura, fiquei com grande vontade de procurar essas canções para ouvir. Recomendo para todos que gostam de uma boa leitura ou de ver lindos desenhos.

A edição consta de capa dura, fitilho, miolo em papel pólen, 240 páginas em preto e branco, com preço de capa de R$ 149,00, mas pode ser achado facilmente com bons descontos em sites especializados.

Maxson Vieira

Sobre o autor

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Formado em Física, Mestre e Doutor em Engenharia Espacial / Ciência dos Materiais. Fã de J. R. R. Tolkien, José Saramago, Sebastião Salgado e Ansel Adams. Passou a infância e adolescência dividido entre Astronomia, quadrinhos, livros e D&D. Atualmente é professor do IFBA.


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