Resenha: O Máskara publicado pela Pipoca e Nanquim

“Devo compartilhar esses poderes com a humanidade, usá-los pra proteger os necessitados.

Mas antes…”

 

Esta edição compila as três primeiras histórias do personagem, que saíram no ano de 1991 pela editora Dark Horse (“O Máskara”, “O Retorno do Máskara” e “O Máskara Contra-Ataca!”) e inspiraram o filme de 1994.

A história começa com o Stanley Ipkiss num antiquário, após uma briga com a namorada – a Katherine –, comprando uma máscara ornamental para ela. À noite, após se reconciliarem, Stanley resolve experimentá-la e ela, a máscara, se revela um artefato mágico que confere estranhos poderes ao usuário. Com a máscara, ele é capaz de materializar armas, carros, todos os tipos de bugigangas, tornando-se invulnerável ao usá-la. Mas, mais importante que conceder poderes, o artefato liberta todo o sentimento retraído pelo usuário. E é graças a este detalhe que O Máskara se tornou conhecido.

Stanley Ipkiss é uma pessoa introvertida, que dificilmente expõe seus sentimentos. Mesmo ao ser enganado, passado para trás, roubado e agredido, ele guarda para si o que está sentindo e segue em frente. Ao colocar a máscara, ele liberta toda a raiva reprimida e, antes de salvar os inocentes, parte para a vingança. Com muita violência ele acaba com uma gangue de motoqueiros que o agrediu, com o dono de uma oficina mecânica que sempre o roubava e até mesmo sua antiga professora do primário foi punida.

VÁRIOS MÁSKARAS

Com o desenrolar da história, a máscara passa pela mão (ou rosto) de vários personagens diferentes, e cada um deles adquire uma personalidade diferente, mas características se mantêm constantes: O humor negro e sarcástico, e a violência. Todos os usuários usam extrema violência para atingir seus objetivos, e fazem isso contando e se tornando piadas. O final da história é uma corrida, em que vários personagens disputam a posse da máscara, mas ocorre o mais improvável.

O roteiro criado pelo americano John Arcudi é muito bem “amarrado”. Ao final das três histórias, não sobra nenhuma ponta solta. Tudo acaba bem amarrado. As piadas, bem como os trechos de canções que o Máskara canta, funcionam muito bem para cada momento da narrativa. Os textos simples, em quantidade razoável, torna muito rápido o ritmo de leitura, sendo possível ler todo o encadernado em apenas um dia.

VARIAÇÃO NOS DESENHOS

Os desenhos do Doug Mahnke são muito bonitos. O artista varia o estilo da arte conforme a necessidade do roteiro, tornando o traço mais realista em algumas passagens, e cartunescas em outras. O ponto alto da narrativa gráfica são as expressões faciais dos personagens, principalmente ao usarem a máscara. É possível identificar através de uma única visualização a emoção dos personagens, tamanho o exagero das expressões.

Ao começar a ler este quadrinho é impossível não o associar ao filme de 1994, ou ao desenho animado do ano seguinte. As diferenças, entretanto, são inúmeras e aparecem logo nas primeiras páginas. Apesar de serem inspirados nas HQs do Máskara, essas duas adaptações excluíram toda a violência do personagem deixando de fora o espírito sanguinário. Irresponsabilidade para com inocentes e humor negro foram trocados por piadas e sátiras bem mais amenas.

Outra grande diferença está nos personagens principais. Crescemos vendo o Stanley Ipkiss monopolizar a máscara em grande parte dos episódios. Nos quadrinhos ele é apenas um dos usuários da máscara, e por um tempo bem limitado, sendo que os personagens principais são: a sua namorada, a Katherine, e o tenente Kellaway. Este último pode até ser considerado um herói dentro da narrativa.

PARA PENSAR

Uma discussão interessante sobre o personagem é: o que cada um de nós faria sem as amarras da culpa e da moral? Quais seriam suas ações, caso uma entidade se apossasse do seu corpo e eliminasse o superego, trazendo à tona todos os instintos, anseios e impulsos interiores? O Máskara talvez seja uma amostra disso.

Gostei muito de ler essa história. Ela me remeteu às horas em frente à TV assistindo à série animada ou jogando “The Mask” no Super Nitendo. O jogo possui características tanto da história dos quadrinhos quanto das adaptações. E ao terminar de ler o encadernado, lembrei que não terminei o jogo. Ele merece algumas horas em frente ao meu computador, com um emulador, para que enfim seja “zerado”.

Sempre consumi todos os produtos do personagem e ler “O Máskara” pela primeira vez foi muito divertido. O roteiro foi pensado exatamente para isso, diversão e entretenimento por algumas boas 3 horas. Para quem gosta de sentar e ler algo apenas por diversão, é um prato cheio.

Um único detalhe me deixou desapontado: a ausência do Maylow. O cachorrinho rouba parte das atenções todas as vezes em que aparece no filme e na série animada. Ele, inclusive é um dos poucos personagens a usar a máscara, quando ganha dentes e com os olhos enormes. Sempre quis ter um cachorro da raça Fox Paulistinha ou Jack Russel Terrier e colocar o nome de Maylow.

A edição do Pipoca e Nanquim é muito bem trabalhada, possui capa dura com verniz localizado, 380 páginas, miolo de papel couché e preço de capa de R$ 84,90, mas como sempre, pode ser encontrada em promoção.

 

Por Maxson Vieira

Sobre o autor

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Formado em Física, Mestre e Doutor em Engenharia Espacial / Ciência dos Materiais. Fã de J. R. R. Tolkien, José Saramago, Sebastião Salgado e Ansel Adams. Passou a infância e adolescência dividido entre Astronomia, quadrinhos, livros e D&D. Atualmente é professor do IFBA.


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