Resenha: Conan – A Torre do Elefante

Adaptação da Dark Horse é mais fiel ao texto de Robert E. Howard, mas pode desagradar fãs da versão Marvel

 

Essa é uma publicação da editora Mythos de 2018, que traz, num encadernado, seis histórias do Conan escritas por Kurt Busiek e desenhadas por Cary Nord e Michael Kaluta para a editora americana Dark Horse.

A história começa mostrando o Conan fugindo de uma hospedaria após ser roubado por duas mulheres durante a noite. Após partir à procura delas, ele chega à cidade de Zamora, conhecida como “A Cidade dos Ladrões”. Sem dinheiro, o Cimério passa a viver de furtos, até conhecer um mercador que lhe conta do maior tesouro da cidade, uma pedra chamada “Coração do Elefante”. Essa joia, entretanto, pertence ao poderoso feiticeiro Yara e é guardada dentro de uma fortaleza tida como impenetrável de nome Torre do Elefante. Conan decide invadir a torre e roubar o Coração do Elefante.

Ao invadir a primeira muralha, Conan percebe não ser o único com intensões de roubar a famosa joia e se depara com Taurus da Nemédia, também conhecido como o “Príncipe dos Ladrões” e juntos partem para o trabalho. Os dois enfrentam os guardiões do pátio com a sagacidade de Taurus e, passando por este primeiro obstáculo, já se deparam com a grande torre. Após uma difícil escalada – e depois de sofrerem o ataque de uma aranha gigante, que mata Taurus – o Cimério encontra a joia. Mas junto a ela está um ser humanoide, metade homem e metade elefante chamado Yag-Kosha.

Conan descobre que a figura é um ser de outro planeta que veio parar na Terra milênios antes, e que o feiticeiro Yara o escravizou para roubar seu poder. Yag-Kosha pede a Conan que o ajude num último feitiço para se libertar. E para isso, o Cimério deve matá-lo e derramar o sangue de seu coração sobre a jóia e por fim entregar ao feiticeiro Yara. Após executar o pedido de Yag-Kosha, a torre é destruída e Conan foge sem nenhum tesouro.

Cena em que Conan derrama o sangue do coração sobre a joia

Essa história é uma adaptação do conto original escrito por Robert E. Howard no começo do século passado. Esse mesmo conto já havia sido adaptado para os quadrinhos duas vezes, por Roy Thomas, no início da década de 1970, com desenhos de Barry Windsor Smith na primeira versão e de John Buscema na segunda. Essa nova adaptação tem algumas particularidades que deixam a desejar quando comparadas às primeiras. O Conan retratado aqui é um bárbaro sem muita inteligência e que não pensa antes de suas ações. Como exemplo, ele parte para escalar duas muralhas e uma torre e nem ao menos leva consigo uma corda. Ele também briga e xinga as pessoas sem pensar nas consequências, chega a bater numa criança logo no início do primeiro capítulo. Essa diferença, entretanto, aproxima o personagem do original, o que pode agradar os fãs mais puristas do Cimério.

Nessa página é possível perceber o contraste entre o desenho e a pintura.

O roteiro é bem escrito e peca apenas por usar um artifício narrativo que foi deixado de lado há pelo menos três décadas, que é o fato de descrever nos balões o que está sendo mostrado no desenho. Fora esses pequenos deslizes, a narrativa é bastante agradável.

O que deixa a desejar nessa nova edição são os desenhos. Quem leu as histórias desenhadas por Barry Windsor Smith (BWS) e John Buscema vai ter pesadelos ao ver os desenhos da edição mais recente. Em vários momentos o artista utiliza traços com estilo cartunesco, o que causa grande contraste com o estilo mais realista do BWS e do Buscema. Os problemas, entretanto, não se resumem à estética do traço, mas também à anatomia dos personagens. Em várias partes os corpos dos personagens estão distorcidos, e o rosto do próprio Conan é desenhado de forma bastante infeliz em vários quadros. Simplesmente aterrador.

Do seu lado esquerdo, a versão colorida da Dark Horse; do seu lado direito, a versão em preto e branco da Marvel, com desenhos do John Buscema

 

Apesar dos desenhos deixarem a desejar, o trabalho de pintura é espetacular. A paleta de cores escolhida pelo Dave Stewart é muito bonita e, sem sombra de dúvidas, um dos pontos fortes da publicação.

Para quem nunca leu nada do personagem e não tem a chance de obter as histórias feitas nas décadas de 70 e 80, vale a pena conhecer a repaginada. Entretanto, aqueles que gostam de desenhos bonitos juntamente com boa narrativa gráfica irão odiar essa edição.

O volume possui belíssimo acabamento, com capa dura, 180 páginas coloridas e miolo em papel couchê, a preço de capa de R$ 69,90. Pode ser facilmente encontrada em sites e lojas especializadas ou no site da editora.

 

Maxson Vieira

Sobre o autor

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Formado em Física, Mestre e Doutor em Engenharia Espacial / Ciência dos Materiais. Fã de J. R. R. Tolkien, José Saramago, Sebastião Salgado e Ansel Adams. Passou a infância e adolescência dividido entre Astronomia, quadrinhos, livros e D&D. Atualmente é professor do IFBA.


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