Relembrando os velhos tempos
O dia em que finalmente conheci a maior loja de quadrinhos do País
Com exceção das tirinhas nos jornais, não leio quadrinhos há mais de dez anos. Além da falta de tempo, muito comum a todo proletário adulto, as temáticas comumente abordadas já não fazem parte do meu interesse mais imediato.
Há uns três ou quatro dias, no entanto, lembrei-me da época de adolescente, quando as histórias de seres superpoderosos, usando collants super apertados, eram parte substancial do meu entretenimento. À época a revista Wizard Brasil – um periódico especializado nos bastidores da produção da nona arte – ainda era publicada. Como você já deve ter concluído, eu era colecionador.
Lia matérias sobre publicações com tiragens limitadas, que só poderiam ser compradas nas livrarias especializadas. É bom lembrar que estou falando da pré-história da internet. Eu, morando em Ipiaú, no interior da Bahia, só podia sonhar com essas lojas e com o acesso a edições de Sin City, Hellboy e tantas outras.
Sei o quanto isso deve soar estranho hoje em dia. Atualmente bastam alguns cliques para que você compre toda e qualquer coisa. Depois dos 18 anos, quando me mudei para o Rio de Janeiro, tive acesso à Gibimania, uma dessas lojas de quadrinhos, que ficava na praça Saens Peña. Ali pude matar meu desejo. O Marquinhos, o dono da loja, era um cara de uma simpatia sem igual, e isso cativava o público. Acabei me tornando freguês.
De qualquer forma, a maior e mais importante de todas essas lojas, segundo a Wizard, era a Comix Book Shop, que ficava na Alameda Jaú, em São Paulo. Nunca tive o prazer de conhecer, até ontem.
Aproveitando a aparição do meu amigo Rafael, que veio me visitar depois de uma estadia em Santiago, no Chile, resolvi realizar esse fetiche adolescente. Não leio mais quadrinhos, não coleciono, não assisto a filmes ou séries de super-heróis, em resumo, não tenho mais qualquer interesse por esse universo. Mesmo assim convidei o Rafael para essa louca aventura.
Pegamos o metrô até a Paulista e caminhamos duas ou três quadras até a loja. Durante o trajeto, relembrávamos histórias engraçadas ocorridas com alguns amigos nerds.
A loja era bem menor do que eu imaginava. Seu acervo é formado, quase que exclusivamente, por quadrinhos americanos de super-heróis, alguns mangás muito populares, action figures e coleções de DVDs do universo pop.
A única mulher em toda a loja era a minha namorada, que me fazia companhia. A cara de deboche dela era muito grande. O Rafael ficou espantado com os preços estratosféricos de algumas peças.
Eu me dei conta de que aquela era uma realidade à qual eu não pertencia mais. No entanto, senti falta de publicações sul americanas, como El Loco Chávez, do material da Sergio Bonelli Editore, como Tex, Zagor e Dylan Dog, e de mais conteúdo independente.
No fim, essa é só mais uma parte da indústria cultural. É mais fácil alavancar as vendas do material que tem apoio audiovisual.
Saí de lá com o sentimento de missão cumprida. E com vontade de escrever sobre as minhas experiências com o universo das histórias em quadrinhos. Talvez eu releia algo da Sergio Bonelli Editore antes, só para lembrar os velhos tempos.
José Fagner Alves Santos
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Sobre o autor
José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.
Em defesa da loja, tudo nessa cidade é caro kkk
Ahhh, Comix Book Shop…
Rainha dos meus sonhos molhados de adolescente.
Prefiro mantê-la apenas na memória como o mundo mágico das últimas páginas das revistas que colecionava na adolescência.