Agora é tudo novo de novo

O recentemente eleito novo presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, afirmou durante sua campanha eleitoral que se eleito iria governar sem fazer o famoso “toma lá da cá”.

Otimistas dirão que será uma forma novíssima de fazer política no Brasil o qual nunca mais será o mesmo de antes. Pessimistas, por outro lado, dirão que nada irá mudar, que na prática tudo será como antigamente, apenas a forma sofrerá mutação.

E quem disse que otimistas, assim como pessimistas, não poderão descobrir-se certos?

Vejamos: já por um longo tempo o Congresso tem sido dominado por três bancadas principais, a ruralista, a evangélica e a bancada da segurança. Juntas, as três são conhecidas como o BBB do Congresso: boi, bíblia e bala.

Os ruralistas, desde sempre, atuam voltados para os agronegócios. Trabalham para impedir novas demarcação de terras indígenas ou pelo menos valorizar as indenizações aos proprietários e, além disso, se empenham na oposição a questões relacionadas com os movimentos sociais voltados para redistribuição de terras e questões ambientais. São apadrinhados por latifundiários, pecuaristas e toda a indústria relacionada com os agronegócios.

A bancada evangélica é conhecida por seu conservadorismo e oposição a questões como igualdade de gêneros, novas configurações familiares, avanços da chamada “lei do aborto” e liberação do consumo recreativo da maconha. Os integrantes possuem o apoio dos quatro principais líderes evangélicos no Brasil e contam com o moderno voto de cabresto conhecido como “voto de cajado”.

Quanto à bancada da bala, seus integrantes defendem a redução da maioridade penal, flexibilização do direito à posse de armas e o endurecimento do código penal. A maioria de seus componentes é patrocinada pela indústria armamentista e possui apoio dos militares e policiais em sua maioria.

Para a legislatura de 2019 o Congresso contará com 513 deputados, dos quais 180 pertencem à bancada evangélica. São pastores, bispos, cantores de música gospel e pessoas que professam fé evangélica, pentecostal ou neopentecostal.

A bancada ruralista contará com cerca de 119 integrantes. São fazendeiros, exportadores de madeira, agropecuaristas e até donos de mineradoras. É a bancada mais poderosa do Congresso Nacional não apenas pelo número de integrantes, mas principalmente pelo poder de barganhar votos.

A bancada da bala pode chegar a 270 membros, pois soma a si a bancada da segurança que envolve uma série de interesses paralelos e afins. Tem apoio das industrias de armas e empresários ligados ao setor de segurança bem como pessoas ligadas ao militarismo. Em 2019, juntamente com a bancada evangélica, serão o braço direito do presidente da República.

Aí alguém pode duvidar que seja possível conseguir governabilidade sem o “toma lá dá cá”, conforme proposto pelo novo presidente. Mas se olharmos direito, parece muito simples.

São três grupos, cada um com seus interesses. E tudo o que precisam fazer é combinar votos. Isso mesmo! Se a bancada da bala quer conquistar maioria numa votação qualquer basta combinar com membros de uma outra bancada qualquer. Se obtiverem os votos que precisam no pleito atual, votarão com aquela bancada noutro momento.

Pronto. Não houve o “toma lá dá cá”, mas houve.

Negociar cargos e ministérios está démodé. Fica muito na cara para qualquer eleitor que, independentemente do nome que se dê a tal prática, ela é um ato de troca de benefícios. Já a troca de votos entre bancadas é mais discreta, mais difícil de provar.

Além disso, a próxima legislatura tem por obrigação fazer o Brasil voltar a dar certo ou pelo menos fazer parecer que isso estará acontecendo. Isso porque aos poucos já não poderão mais culpar o PT, afinal já se passaram dois anos com o MDB e agora se iniciarão os quatro anos com o PSL.

Quando à pressão da mídia, e por consequência do eleitorado, começar a aumentar, não importará se as coisas se darão da forma antiga ou de alguma forma “nova”, importarão apenas os bons resultados ou pelo menos a boa aparência deles.

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