Apartidarismo. “Cê” Acredita?

No conjunto de obras conhecido como Velho Testamento, encontramos a narrativa em que dois irmãos oferecem aquilo que têm de melhor, com objetivo de agradar sua divindade. Sem nenhuma justificativa aparente, a divindade simplesmente aceita o presente de um e rejeita o regalo do outro. Diante disso, podemos nos questionar: Se até os deuses têm seus favoritos será que nós, meros mortais, podemos fugir a essa inclinação?

A maioria dos veículos de informação, seja rádio, TV ou impressos, costuma sugerir ao público que apresenta os fatos e nada mais que os fatos. Dizem agir com imparcialidade e, nos dias atuais, com suposto apartidarismo.

Talvez seja inocente pensar que tudo se resuma à mera inclinação afetiva, talvez. Que não existem patrocínios ou trocas de favores que influenciem as opiniões expressas. Afinal, não é possível que uma mesma informação seja apresentada dando-se foco a alguns elementos e ignorando outros, enquanto – para outro veículo de comunicação – as informações ignoradas seriam fundamentais.

É incompatível com a pressuposta atitude apartidária a forma com a qual revistas como a Veja apresentam matérias contra a chamada esquerda política, ao passo que minimizam quando o foco seria um político de centro ou da direita. Falando de peixes menores, mas nem por isso menos influentes, temos, por exemplo, o site O Antagonista e as múltiplas plataformas do MBL que trabalham quase que exclusivamente no sistema antiesquerda. Não importa o que os esquerdistas façam, é ruim, tem algum erro ou é mal intencionado.

Claro que tem o outro lado da moeda. O também multiplataforma, Brasil 247, tem por objetivo apoiar a esquerda e sempre que possível fazer alguma crítica aos movimentos realizados pelos centro-direitistas. No anseio desmedido por apoiar Lula, por exemplo, o referido portal chegou até a criar e propagar algumas fake news famosas, como aquela sobre o terço que teria sido enviado pelo Santo Papa ao ex-presidente. Mas não é só o Brasil 247, tem também a Revista piauí a qual aparentemente existe para defender uma perspectiva única a respeito dos fatos.

Desde o surgimento, em 2014, do aparentemente apartidário movimento contra a corrupção política, conhecido como Vem Pra Rua, cada vez mais surgem, principalmente por meio de canais no Youtube, pessoas que antes sequer falavam de política, mas sabe-se lá por que diabos, de uma hora para a outra se tornaram uma mistura de ativistas e especialistas. Alguns exemplos fáceis de identificar são casos como o do Nando Moura, que antes usava seu canal para falar de música, guitarras e afins. Atualmente usa a maioria dos vídeos para criticar ações relacionadas ao PT e a seus aliados. Além do Nando, temos um ex ator pornô em declínio (Alexandre Frota), também anti-PT; e até um cantor de rock que andava meio apagado que é o Tico Santa Cruz, mas esse é pró Lula. A fila é grande, tem lutadores de MMA, jornalistas (Alexandre Garcia, Paulo Henrique e tantos outros) e toda sorte de gente escolhendo um lado ou uma versão dos fatos.

Há quem diga que Globo e Record costumam dosar para este ou aquele lado na hora de apresentar notícias políticas, sendo a Globo maquiadamente anti-PT, mas não tem quem garanta que a Record ou qualquer outro canal de TV seja completamente imparcial na hora de falar do Partido dos Trabalhadores.

O fato é que, a cada dia parece mais surreal acreditar na existência de meios de informação apartidários. Os veículos de comunicação pertencem a alguém. Esse alguém paga contas, faz parcerias de negócios e não raramente objetiva o lucro. Nenhum ativismo é gratuito. Como dizem que ocorre na Seleção Brasileira de Futebol, quem escolhe os jogadores são os patrocinadores.

Assim como a divindade que escolheu o presente de um irmão e ignorou o carinho depositado na oferta do outro, revelando ser carnívoro e não vegetariano, não escolhemos com imparcialidade. Se não formos movidos pelo afeto, elemento que, segundo a psicologia, tem poder de nos fazer responder positiva ou negativamente a algum estímulo ou experiência emocional, seremos movidos por alguma recompensa que nos garantirá fiéis, se não aquilo que acreditamos, certamente aquilo que nos é lucrativo.

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