Juramento de vingança ou A Morte de Lilyth

Nova coleção do ranger lançada pela editora Mythos, As grandes aventuras de Tex (inspirada na série italiana Le grandi storie di Tex), traz a morte de sua esposa Lilyth na primeira edição

O mote principal das histórias de faroeste é a lealdade. A vingança que costuma impulsionar seus personagens é sempre motivada por esse sentimento de tentar fazer justiça àqueles a quem devemos nossa fidelidade.

O que acontece quando o ranger mais implacável dos quadrinhos italianos tem a chance de se vingar do homem que foi responsável pela morte de sua esposa? É a resposta a essa pergunta que encontramos em Juramento de Vingança, fumetti escrito por Gianluigi Bonelli e desenhado por Aurério Galleppini, o Galep. Uma narrativa de fôlego marcada por muitos traços culturais da época em que foi produzida.

A editora Mythos fez uma belíssima edição em capa dura, com todas as páginas coloridas e cadernos costurados. Logo nas primeiras páginas temos um texto do Júlio Schneider intitulado A fúria de Tex. Schneider conta um pouco sobre o contexto dessa aventura e traça algumas perorações sobre Gianluigi Bonelli e Aurélio Galleppini.

Após ler uma notícia num jornal velho, Tex, Kit Carson, Jack Tigre e Kit Willer resolvem mudar a rota que estavam fazendo até então e começar a perseguir um velho criminoso do seu passado. Para contextualizar o enredo, o caubói rememora seus últimos dias com a esposa, enquanto conta a história para o seu filho Kit. Tudo começou quando Brennan e Teller, dois comerciantes desonestos que haviam sido mandados para a prisão pelo ranger, têm a ideia de enviar para a aldeia de Flecha Vermelha um carregamento de cobertores infectados com varíola. Foi esse incidente que culminou na morte de Lilyth, a esposa de Tex e mãe de Kit, além de outros navajos. Tempos depois da tragédia, um dos mandantes do crime cai crivado pelas balas de Tex. Agora os quatro pards saem à caça do patife sobrevivente que, anos antes, havia escapado do justo castigo. Uma velha lança, fincada no túmulo da esposa de Tex, é o símbolo da promessa de vingança. Ela só será retirada quando a promessa for cumprida.

Nem tudo são flores

A narração da morte de Lilyth, perseguição dos bandidos e da fuga de Brennan começa na página 23 e segue até a 242. Por incrível que pareça, aquela que deveria ser a personagem de maior destaque da história aparece em oito páginas das 242 que compõe a edição (24, 25, 26, 44, 45, 46, 48 e na página 88 como uma lembrança impressa nas nuvens). Outros tempos.

Algumas cenas são extremamente estereotipadas. Durante a perseguição dos bandidos, logo depois da morte de sua esposa, ao chegar à cidade de Ganado, Tex pergunta a um morador – um cocheiro que cuida dos seus cavalos – se ele havia visto os fugitivos. Ao receber a notícia de que alguns deles estão na cantina, nosso herói retruca: “Esta cidade tem xerife?”, pergunta ele enquanto apeia do cavalo. “Não señor”, responde o cocheiro, “a cidade é pobre e não pode se dar ao luxo de pagar um! Sinto, Señor!”. Tex então questiona: “E por quê?”, ao que o cocheiro devolve: “Se queria prender os sujeitos por algum crime que…”, mas Tex interrompe: “Nada de prisão, amigo!”.

A mensagem é clara, ele está ali para matar os fugitivos. Lembrando que essa história foi publicada originalmente em 1969, na Itália. Tex personifica o típico caubói de faroeste italiano. Durão, impiedoso, mas com grande senso de justiça. A ideia de justiça talvez tenha mudado um pouco desde a década de 1960.

Tex provoca um tiroteio dentro da cantina, sem preocupações com os eventuais inocentes que ali estão. Ele sai do estabelecimento de costas empunhando duas armas, como forma de se defender dos inocentes que estão de pé, e vai até o cocheiro que havia dado as informações. Oferece mais algumas moedas como compensação e sugere que ele divida com o coveiro. O cocheiro responde: “Pode deixar comigo, señor!”. E lá se vai nosso herói em busca do resto do bando. A cena toda é um tanto absurda, mas estamos falando de um produto de entretenimento produzido há 50 anos. Os roteiros de Gianluigi Bonelli estavam muito à frente de outros quadrinistas de sua época. Basta ver o que estava sendo feito na Marvel ou DC durante o mesmo período.

Os desenhos de Galep, por sua vez, são muito bonitos e muito espontâneos. O artista parecia estar em seu auge. No entanto, é preciso compreender que as páginas eram desenhadas diretamente com pincel, para ganhar tempo. Em algumas cenas é possível perceber a perspectiva confusa. Personagens que parecem flutuar, outros que parecem dentro de um buraco quando relacionados com outras figuras ao redor. A desproporção é uma constante. Mas é exatamente nesse traço espontâneo que está a força da arte de Galep. Profundo conhecedor das artes gráficas, só em Tex ele deixou transbordar um estilo tão solto.  Convido o leitor a conferir o trabalho desse artista em obras como Occhio Cupo, onde seu traço era mais formal e rígido. Era um outro Galep. Sou fã confesso de seus trabalhos.

Com um final fantasioso, típico dos filmes de aventura da década de 1960, a história cumpre seu papel: diverte e entretém.

Título na capa: A morte de Lilyth. Primeiro volume da coleção: As grandes aventuras de Tex. Capa dura, encadernação costurada, 312 páginas coloridas. Com preço de R$55,92. Editora Mythos. Uma boa pedida para fãs e colecionadores do personagem.

 

José Fagner Alves Santos

 

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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