Júlia: As aventuras de uma criminóloga 06 – Jerry Desapareceu
Esta resenha contém spoilers, siga por sua conta e risco
Essa é uma publicação, lançada no ano de 2020 pela Editora Mythos, que continua republicando em formato original italiano, e periodicidade especial, as histórias da personagem italiana.
Esse volume possui roteiro espetacular do Giancarlo Berardi e a arte fica por conta de Marco Soldi.
A história começa num parque público, com uma mulher chamada Susan, desesperada porque o seu filho, Jerry de quatro anos, acabou de desaparecer. Ela relata que o tinha deixado sentado num banco enquanto foi comprar pipoca, mas quando voltou ele tinha sumido. Rapidamente houve movimentação das pessoas presentes, mas ninguém conseguiu encontrar a criança. O caso foi parar no departamento de polícia, e naturalmente chegou até Júlia Kendall.
O caso tem progressão lenta até Susan receber uma carta relatando que seu Jerry foi sequestrado. As suspeitas recaem sobre algumas pessoas: O namorado de Susan, que é um talentoso músico e precisa de dinheiro para gravar seu primeiro disco; o amante de Susan que também é dono do apartamento onde ela mora e que precisa de dinheiro para se livrar da esposa rica; o patrão de Susan que já foi investigado várias vezes por pedofilia e o pai da criança. O pai do Jerry era violento com Susan. Ele desconfia que o garoto não seja seu filho e precisa de dinheiro para pagar seu novo caminhão. Todos os suspeitos possuem motivos para terem envolvimento no sumiço do garoto, e Júlia tem em mãos várias peças para tentar montar um quebra-cabeça.
Durante as investigações são reveladas várias passagens traumáticas da vida de Susan, como casos de violência sexual e abandono. Após várias oitivas e diligências, o caso é resolvido e tem um desfecho bastante impactante.
Essa é uma das histórias que mais me impactaram ao acabar de ler. Mesmo entre livros é difícil ler alguma coisa que causa tanta comoção quanto essa história. Um dos motivos para isso está no fato de considerarmos a morte de crianças uma coisa não natural ou fora de ordem.
Desde os nossos primeiros anos na escola aprendemos que todos os seres vivos nascem, crescem, se reproduzem e finalmente morrem. Crescemos nos acostumando com a triste partida natural de nossos de avós e parentes mais velhos. Qualquer forma diferente dessa ordem dos acontecimentos causa grande sentimento de interrupção precoce. Quando uma pessoa do nosso ciclo íntimo se parte ainda jovem, temos a sensação que “ela se foi cedo demais” e que “ela ainda tinha a vida toda pela frente”. Esse sentimento é ainda maior quando perdemos uma criança. Por todas as experiências que ela não viverá, amores que não terá, lugares que não irá conhecer, gostos e aromas que não irá experimentar, luares que nunca presenciará e a inocência que se interrompeu. Todo este sentimento de perda é sentido ao fim desta história e é potencializada pela forma com que é contada.
Durante minha vida de leitor, várias passagens de livros e quadrinhos causaram grande impacto e, seguramente, o trecho onde o corpo do garoto Jerry é encontrado está entre as mais fortes. A forma com que o autor encontrou para descrever todos os sentimentos que envolvem a realização do crime é tocante e impressionante. Amantes da leitura vão carregar para sempre essas páginas na memória.
O roteiro é muito bem desenvolvido, apesar de haver alguns pulos na narrativa, mas que seriam facilmente solucionados se o autor dispusesse de mais páginas para trabalhar. Os roteiros da editora Bonelli raramente ultrapassam uma quantidade de páginas previamente definida, e este limite para Júlia é de 130 páginas.
A arte é bonita e destoa do tom “Noir” dos volumes anteriores, sendo que os traços combinam de forma muito harmoniosa com o roteiro.
Recomendo essa História em Quadrinhos (sim, com HQ maiúsculas) para todos que gostam de boas histórias.
Esse volume contém 132 páginas em preto e branco, miolo em papel off-set e capa cartão por preço de R$ 30,90, podendo facilmente ser encontrada em promoção em lojas especializadas ou no site da própria editora.
Por Maxson Vieira
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Sobre o autor
Formado em Física, Mestre e Doutor em Engenharia Espacial / Ciência dos Materiais. Fã de J. R. R. Tolkien, José Saramago, Sebastião Salgado e Ansel Adams. Passou a infância e adolescência dividido entre Astronomia, quadrinhos, livros e D&D. Atualmente é professor do IFBA.