O essencial e o supérfluo

Segundo a mitologia cristã, pouco tempo antes de acender aos céus, Jesus teria dito aos seus discípulos que onde quer que viessem a estar reunidos em seu nome dois ou três indivíduos, alí o próprio Messias estaria.

Com pensamento diverso daquele proposto pelo Cristo, os líderes das principais denominações religiosas neopentecostais adeptas da doutrina da prosperidade no Brasil, pleitearam o direito de mesmo diante do estado de quarentena imposto à população continuarem a realizar aglomerações em nome da religiosidade.

Segundo essas lideranças, manter seus templos/empresas abertos é fundamental, pois se trata de serviço essencial ao povo.

Curioso, no entanto é observar que apenas as denominações cujo principal produto a oferecer não é Jesus, mas sim curas milagrosas e prosperidade financeira, são as únicas a quererem suas portas abertas. As instituições tradicionais inclusive as igrejas Católicas estão fechadas.

Estão fechados os templos Umbandistas, Candomblecistas, Espíritas, e se você procurar verá que nenhuma igreja tradicional – Batistas, Adventistas, Presbiterianos, Testemunhas de Jeová – está funcionando. Seus líderes sabem que cuidar do rebanho é mais importante que captar recursos.

Essencial é a fé, não a religião. Essencial é o templo que cada um é, conforme dito pelo apóstolo Paulo aos Coríntios, e não os templos construídos pelos mega empresários da fé.

Ao mesmo tempo podemos nos perguntar os motivos pelos quais aglomerações são aceitáveis se acontecem dentro de igrejas, mas não podem ocorrem em shoppings centers, praias ou parques públicos.

Vou explicar.

Há muito mais probabilidades de que você se contamine com uma doença aérea ou de contato qualquer (incluindo o COVID-19) em uma aglomeração em ambiente fechado como um templo da Igreja Universal ou Mundial, do que aglomerado em uma praça pública ou na praia, locais onde o ar circula livremente e os contatos são mais facilmente evitáveis.
Mais a troca de favores e o lobby político existem para essas horas. Não é a toa que nos últimos anos tantos bispos e pastores buscaram vagas de senadores e deputados. Quando seus mentores solicitam a contrapartida, estão prontos a aprovar quaisquer absurdos.

Depois, se der merda é só culpar o Diabo.

Mas afinal de contas aglomerar-se em templos religiosos – mesmo que colocando em risco a vida das pessoas lá fora – é algo essencial ou supérfluo?

Uma vez mais o que vai determinar a importância de um comportamento somos nós. Se entendermos que sem o templo de tijolos e cimento e sem o pastor, bispo ou apóstolo não conseguiremos nos conectar com Cristo, então teremos as aglomerações nas igrejas como algo essencial.

Por outro lado se acreditamos naquilo que o próprio Jesus teria dito aos seus discípulos, não precisaremos de atravessadores, pois onde quer que estejamos reunidos em seu nome Ele mesmo se fará presente e suficiente.

No final quem vai decidir se algo é essencial ou supérfluo é você consumidor.

Crédito da imagem: Pinterest

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