Sejamos mais equilibrados

Erros existem em qualquer profissão. Na Medicina, na Engenharia, no Direito e no Jornalismo também. A classe jornalística não é diferente de qualquer outra, ela também comete erros. Mas, como em qualquer outra profissão, existem os meios legais para se punir esses erros. Inclusive quando são intencionais.

Não deixamos de procurar o médico, o advogado, o engenheiro quando surge a necessidade. Mas algumas pessoas têm deixado de procurar a notícia bem apurada, estão dando preferência aos boatos em redes sociais, blogs sensacionalistas e partidários, mensagens encaminhadas pelo Whatsapp ou qualquer outro canal semelhante.

A desculpa é sempre a mesma: não dá para confiar na mídia golpista. Existe uma lenda de que toda a mídia está deste ou daquele lado. Eu até acredito que uma parte da mídia realmente esteja, mas não toda ela. Faça o teste, vá até a banca mais próxima e compare a capa da revista Carta Capital com a capa de Veja. Compare a primeira página da Folha de S. Paulo com a primeira página de O Globo. Compare o que se diz na Band News FM com aquilo que é dito na Rádio Brasil Atual e na Jovem Pan. Os discursos são sempre diferentes.

Sempre foi assim. Existe uma disputa pela hegemonia do discurso. Você pode alegar que a Carta Capital não tem os mesmos recursos que Veja, por exemplo. É verdade. Cabe a você, leitor, ajudar a financiar o veículo que mais se identifica. Muitos não compram A como forma de boicote, mas também não compram B, que dizem gostar.

Um outro fator merece ser abordado: “a mídia golpista inventa um monte de mentiras sobre o meu partido, mas não fala nada do outro partido que é muito mais corrupto”. Então eu pergunto, quem te contou que o outro partido é corrupto? Como você ficou sabendo dos escândalos daquele senador? Você presenciou alguma falcatrua ou ficou sabendo pela mídia golpista? A mídia só é golpista quando fala do meu partido? Só mente quando fala do meu partido? Ela diz a verdade sempre que fala dos partidos de oposição? Será que você percebe que esse tipo de discurso é muito mais emotivo do que racional? Compare versões, aguarde para ver se há desmentidos, veja se haverá repercussão da notícia.

Ah, entendi, a mídia golpista está dizendo que o seu candidato é culpado, que o outro candidato também é, mas sua fonte de informação diz que só a oposição tem culpa. Os membros do seu partido se defenderam e disseram que tudo não passa de um complô, não é? Está certo.

Quando um membro de outro partido vem a público dizer que a mídia está mentindo, você acredita? Ah, entendo. O membro do outro partido realmente é culpado. Inocente é só o seu.

Leia um pouco de Maquiavel. Descubra que não dá para comandar uma nação sendo completamente transparente, correto, idôneo. Em um sistema já corrompido desde a base, como é o sistema brasileiro, essa situação fica muito mais evidente. Estude a história política dos países latinos e vá anotando as semelhanças. Culpar o mensageiro pela notícia ruim é um ato muito pueril.

Nossa mídia tem sérios problemas. Sou o primeiro a reconhecer isso. Muita coisa precisa melhorar, mas ignorar o jornalismo tradicional para dar preferência ao achismo não é a solução. Uma população com melhor grau de instrução poderia colaborar para uma comunicação de melhor qualidade. Ou seja, nosso problema é muito mais profundo. A solução não passa pelo apego ao obscurantismo, é preciso mais informação, de melhor qualidade.

Seja seletivo com as informações que recebe, mas tenha bom senso. Se você só acredita quando a denúncia é contra a oposição, algo está muito errado.

Qualquer um que se sentir lesado por uma falsa notícia poderá recorrer ao sistema jurídico, mas só se a fonte for jornalística. É muito mais difícil rastrear um boato nas redes sociais.

Faça a sua parte. É muito difícil, eu sei, mas tente manter o equilíbrio. Isso vai ajudar a criar um Brasil mais tolerante.

 

José Fagner Alves Santos

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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