Lendo e compreendendo

Para se entender um texto qualquer é preciso ter a bagagem necessária

Ler é compreender a mensagem com base nas informações que tínhamos anteriormente. Por isso, quanto mais se conhece sobre determinado assunto, melhor será sua leitura sobre ele.

Propus outro dia, um exercício de reestruturação de dois versículos do livro de Gênesis (aqui). O exercício, que parece fácil a princípio, mostra-se um verdadeiro quebra-cabeça. Alguns colocarão a culpa nos mistérios divinos dos textos sagrados. Outros dirão que a tradução não foi bem feita e que é impossível entender o que o original dizia. Mas, uma boa parte dos que tentarem fazer o exercício sem obter sucesso, perceberão que falta alguma coisa, falta alguma informação que possa esclarecer o contexto em si.

Se você tem conhecimentos em teologia, treinamento em filosofia, ou se for um pouco perspicaz, pode ter percebido logo de cara que Adão não é um homem, mas um símbolo metafórico para a primeira nação humana que algum dia existiu (essa interpretação é meramente literária, sem nenhuma relação com valores religiosos).

Eis como eu interpretei o trecho:

Este livro é referente às diversas gerações que existiram na nação adonita. A primeira nação que pregava ter sido feita à imagem e semelhança de Deus. Deus criou os homens e mulheres que deram origem àquela tribo e os chamou (aos membros da tribo de Adão) de adonitas. E Ele abençoou a todos.

Essa é apenas uma das inúmeras interpretações possíveis. Cem pessoas diferentes podem oferecer cem interpretações diferentes. Uma mais interessante que a outra.

É impossível compreender qualquer que seja o texto sem a bagagem necessária. É por isso que alguns escritos nos são tão próximos, enquanto outros não nos dizem nada. É por isso que gostamos tanto de alguns autores enquanto outros nos parecem chatos.

É importante que tenhamos isso sempre em mente quando iniciarmos uma leitura qualquer. Será que eu tenho a bagagem necessária para tirar o melhor proveito dessa leitura? Será que tenho ferramentas para compreender o mínimo necessário? Não seria melhor adquirir o conhecimento mínimo exigido para a compreensão desse texto antes de iniciar sua leitura?

Parece chato, e pode até ser em alguns casos, mas é assim que nos tornamos capazes de compreender o mundo à nossa volta. A opção é continuar sem compreender as coisas. O exemplo foi dado com um trecho bíblico, mas essa é uma verdade que pode ser facilmente transferível para outras situações. Pense nisso.

 José Fagner Alves Santos

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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