Eu reconheço que desconheço: apontamentos sobre o direito e a importância de errar
Compartilho uma das minhas memórias de erro, com o objetivo de fazer pensar sobre a importância de errar e de assumir o erro, nos mais diferentes momentos de formação.
Mesmo em momentos de formação, tendemos a acreditar que precisamos apresentar respostas para todas as perguntas surgidas. Tendemos a pensar que a exposição da ignorância pode ser grifada, por outros, como negativa. Precisamos nos sentir proficientes em tudo, ou quase tudo, para que os outros nos aceitem e nos respeitem. É um comportamento condicionado, nisso tendo a concordar com a teoria comportamentalista, quando esta diz que nossas ações são, muitas vezes, reações a estímulos. A vida em sociedade nos estimula a manutenção de um padrão. Somos o que nos impulsionam a ser. Sobretudo quando já passamos por humilhações públicas. A realidade é que nos tornamos os reflexos produzidos por outros em nós. Tendemos a criar um escudo capaz de nos proteger do agressivo julgamento social. Mas será mesmo que a aceitação de nossas lacunas é sinalização de um fracasso? Estamos então em completo estado de perfeição? Nunca erraremos? E os que nos julgam, tendem a nunca errar? Seria essa a sociedade dos humanos completos e plenos? Penso que não.
Sempre fui um pouco deslocada em tudo, na academia não poderia ser diferente. Sempre estive circulando pelos vários cursos da UFAL, quando fazia graduação em Pedagogia. O “Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes” (ICHCA), foi um dos lugares que me formou durante breves e reflexivos anos de graduação. Esse lugar se mantém em minha vida atual, por meio do grupo de estudos formalizado a partir do “LABORATÓRIO DE PESQUISAS E PRÁTICAS EM EDUCAÇÃO HISTÓRICA” (LAPPEHis). Recordo que, há alguns meses, fazia a minha primeira exposição em formato de conferência. Um dos meus lapsos de felicidade, cabe ressaltar (diante das incertezas da vida futura, a manutenção da felicidade tem sido utópica). Estava discorrendo sobre a minha trajetória como docente, no projeto que integro atualmente: “Trajetórias, identidades e saberes docentes”. O último vinculado ao laboratório supracitado. Me planejei rapidamente e acreditei que nada poderia me surpreender, em uma exposição de memórias.Decidi iniciar a exposição, discorrendo sobre o termo “Consciência Histórica”, por entender que foi isso que o grupo, e projetos por ele desenvolvidos, havia feito surgir em mim. Ele em meio a outros elementos marcantes em minha História de Vida e no contado com o conhecimento historicamente acumulado pelo conjunto da humanidade. Mencionava o termo, ao tempo que fundamentava a minha reflexão em autores que tenho estudado no tempo presente, ao escrever a minha dissertação, no Mestrado. Mencionei algumas vezes o Álvaro Vieira Pinto, fazendo alusão a obra “Consciência e Realidade nacional”. Portanto, não utilizava a palavra como conceito, mas a conceituava. Não recordava que outro autor havia feito essa conceituação, e que, por sua vez, havia estabelecido, para esse processo, alguns momentos que denominou de estágios. Jörn Rüsen era o nome dele. Entre as reflexões posteriores a minha exposição, a professora Lídia tentava me ajudar a recordar e, com educação, parecia me apontar o erro, e eu, como alguém que descompreendia o que ela tentava dizer, contornei a situação tentando responder a pergunta, ao tempo que fugia da alusão ao conceito que ela mencionava: “Consciência Histórica Crítico Genérica”. Aí está um clássico erro. Por que não admiti, simplesmente, que desconhecia o termo? Teria evitado me expor, poderia ter concluído a fala desvelando a minha incompletude como acadêmica em formação. Ao tentar recordar um autor que havia estudado há longa data, no campo da didática, eu me atrapalhei e acabei sentindo um mal estar no momento final da conferência.
Ao dialogar com a professora que me coordenava no projeto, após a conferência, triste e desapontada pela exposição de minhas lacunas, ouvi dela confortantes palavras que me ajudavam a perceber como positiva aquela falha. Ela falava sobre a importância do erro em meu processo de construção. Falava que aos poucos, iria amadurecer a minha percepção da realidade e que a leitura ao autor mencionado poderia ser pertinente a esse momento da minha vida. Eu precisava mesmo errar naquele momento, e falar sobre isso depois. Os equívocos em minha primeira conferência, fazem parte desse evoluir e reconstruir. Sem ele eu jamais teria notado as minhas evidentes lacunas. A professora me formava em uma breve conversa. Me ensinou o significado dos termos: estudante e docente.
Penso que é essa a postura que precisamos aprender a ter, quando nos deparamos com as nossas incompletudes. Recordei a quantidade de vezes que interpretei mal alguns autores. Recordei como falei e pensei de modos distorcidos sobre um conjunto de coisas. Entendi como ainda tenho a crescer. Aprendi, por meio dessa experiência, que os erros formam mais que os acertos, e hoje compartilho, sem sentir vergonha, a minha memória de exposição, afinal, todos já vivenciaram ou vivenciarão algo semelhante, em muitas situações da vida.
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Sobre o autor
É Pedagoga, Mestra em Educação e autora da obra "Uma década de PROSA". Busca desenvolver, por meio desta coluna, reflexões majoritariamente autobiográficas sobre as condições de vida das pessoas de origem interiorana, especificamente do interior de Alagoas. Escreve, comumente, crônicas e artigos de opinião, mas também utiliza-se da linguagem poética, quando pertinente à temática destacada.