Com MALALA YOUSAFZAI: partilha de um mesmo sonhar

 A luta pelo direito a formação, por a entender como necessária ao exercício pleno da cidadania, não é nova. Muitos a ela aderiram no decorrer da História, de variadas maneiras. Agora é o momento de falar sobre uma das minhas inspirações.

Autora do Texto: Hebelyanne Pimentel da Silva.

Feminista mundialmente conhecida, sobretudo após 9 de outubro de 2012, quando foi atacada pelo Talibã, em uma tentativa de assassinato, Malala Yousafzai tornou-se um símbolo da luta pelo direito à formação, acreditando ser esta necessária ao exercício pleno da cidadania feminina. Pelo modo como entendeu essa reivindicação, e pela relevância do seu ativismo, ela acabou recebendo o Prêmio Nobel da Paz, em 2014. Ontem quando escrevia um texto, recordei a importância dessa jovem em minha trajetória como menina e como alguém que pesquisa. Somos partes de uma mesma geração e nos encontramos em lugares distintos do planeta. Mas a verdade é que, aos poucos, fomos construindo uma mesma percepção: “Começamos a entender que a caneta e as palavras podem ser mais poderosas do que metralhadoras, tanques ou helicópteros” (YOUSAFZAI, 2013, p. 106). Essa percepção de Malala, foi se dando a partir dos efeitos gerados por sua escrita para um simples Blog, sugerido pela British Broadcasting Corporation (BBC), com o objetivo de divulgar os impactos do regime Talibã: “[…] para mostrar o lado humano da catástrofe que estávamos sofrendo no Swat” (YOUSAFZAI, 2013, p. 104). Ela escrevia com o pseudônimo de Gul Makai: “o diário de Gul Makai chamou atenção. Alguns jornais o reproduziram” (YOUSAFZAI, 2013, p. 105). A realidade é que ela utilizou aquele espaço como um diário. Dizia inspirar-se em Annelies Marie Frank, mais conhecida como Anne Frank, ao elaborar a proposta, por sugestão do jornalista Hai Kakar: “Ele me contou sobre Anne Frank, a menina judia de treze anos que se escondeu dos nazistas com a família em Amsterdã, durante a guerra. Disse que ela mantinha um diário sobre como era a vida ali, como passavam o dia e quais eram seus sentimentos” (YOUSAFZAI, 2013, p. 104). Uma menina que também cheguei a contatar na adolescência. Uma História que também ajudava a perceber o viver em uma sociedade que retira direitos:

Embora amássemos estudar, só nos demos conta de quanto a educação é importante quando o Talibã tentou nos roubar esse direito. Frequentar a escola, ler, fazer nossos deveres de casa não era apenas um modo de passar o tempo. Era nosso futuro” (YOUSAFZAI, 2013, p. 99).

Eu sempre a entendi: “A escola era o meu mundo, e eu mundo era a escola” (YOUSAFZAI, 2013, p. 42). Diferente de muitas vidas periféricas brasileiras, Malala teve alguém que acreditou em seus sonhos: “Meu pai costumava falar: ‘vou proteger sua liberdade, Malala. Pode continuar sonhando’” (YOUSAFZAI, 2013, p. 49). O fato é que, para as mulheres periféricas, a realidade não parece muito distante do que a personagem diz ter sido a do Talibã. Muitas jovens no Brasil, diferentes de Malala, não percebem claramente as agressões sofridas e maximizadas pelos discursos de quem, inclusive, diz as defender. Malala questionava a estrutura social: “Nasci num tipo de democracia no qual, por dez anos, Benazir Bhultto e Nawaz Sharif substituíram um ao outro no poder, sem que seus governos completassem o tempo de mandato e sempre se acusavam mutuamente de corrupção” (YOUSAFZAI, 2013, p. 53). A incoerência era por ela notada, inclusive, entre os que diziam interpretar o Alcorão: “O alcorão diz que ‘a falsidade será eliminada e a verdade prevalecerá’” (YOUSAFZAI, 2013, p. 96).

Ela também foi uma leitora de Leon Tolstói, como eu fui: “Eu lia livros com Ana Kerênina, de Leon Tolstói, e os romances de Jane Austen. Confiava nas palavras do meu pai: Malala é livre como um pássaro” (YOUSAFZAI, 2013, p. 49). Carregamos a dor de quem percebe que teve de si um direito negado. Agora compreendo os motivos que levaram Paulo Freire a dizer que conhecer dói. E a dor é profunda mesmo. Tudo seria mais fácil se não percebêssemos a realidade como ela de fato é. Se não percebêssemos os motivos de nos negarem o mínimo. Se não percebêssemos a crueldade presente em quem retira o nada de quem nada tem.

Biografia lida:

YOUSAFZAI, Malala. Eu sou Malala: a história da garota que defendeu o direito a educação e foi baleada pelo Talibã. Tradução de Caroline Chang, Denise Bottmann, George Schlesinger, Luciano Vieira Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

Sobre o autor

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É Pedagoga, Mestra em Educação e autora da obra "Uma década de PROSA". Busca desenvolver, por meio desta coluna, reflexões majoritariamente autobiográficas sobre as condições de vida das pessoas de origem interiorana, especificamente do interior de Alagoas. Escreve, comumente, crônicas e artigos de opinião, mas também utiliza-se da linguagem poética, quando pertinente à temática destacada.


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