Uma professora que INSPIRA EM VIDA: memórias de DIVA GUIMARÃES
Existem pessoas que nos ajudam a acreditar que é possível ter esperança. Que compartilham conosco uma mesma indignação.
Estava hoje recordando as pessoas que me inspiraram a continuar escrevendo, quando me faltaram forças durante a pesquisa e produção da obra “Uma década de PROSA”. Subitamente me veio a memória a professora Diva Guimarães. A contatei por meio do seu já famoso depoimento, ouvido por todos os que estavam na Flip de 2017, ou aos que contataram os documentos audiovisuais, a partir desse evento, produzidos. O último é o meu caso, afinal, ainda não realizei o sonho de ir a Flip. Talvez nunca o realize. Diva falava, por meio de uma improvisada declaração pública, sobre a sua trajetória de vida e escolar, marcada por violências de muitas naturezas.
“Eu sobrevivi e sobrevivo hoje como brasileira, porque tive uma mãe que fez de tudo. Passou por tudo o que era humilhação pra que nós estudássemos”
(parte do depoimento de Diva Guimarães na Flip)
Eu sempre me senti como ela. E naquele momento, quando já havia perdido parte da minha capacidade de sentir-me uma pessoa, eu encontrava nas palavras dela, motivações para continuar reivindicando o direito a formação. Para continuar um nado contrário a corrente. Ela era uma mulher, como eu, de origem interiorana, e a formação também parece ter sido, para ela, o que sempre foi para mim: um instrumento de emancipação. Como eu, Diva também precisou amadurecer muito cedo. O contato com a realidade concreta, unido ao conhecimento historicamente acumulado pelo conjunto da humanidade, faziam de Diva uma mulher consciente do lugar que ocupa dentro da estrutura social que nos marginaliza. Somos parte de uma mesma dor.
“Tem as coisas boas em Curitiba. Na realidade, têm. Mas os cotistas negros, índios. Sofrem preconceito dentro das universidades”
(parte do depoimento de Diva Guimarães na Flip)
Ela falava sobre uma realidade comum em todo o país, observada e apresentada, muitas vezes, pelos discursos mentirosos de quem define-se preocupado com o que nunca viu. São tantos os preconceituosos que escrevem e falam sobre pobreza. O último que contatei, quase me fez perder a vontade de viver. Falam dos tipos de marginalização como se fosse um tema que está na moda. Assim também são: os agressores que escrevem sobre mulheres; os racistas que escrevem sobre igualdade racial; as pessoas hipócritas que se dizem defensoras de direitos ao tempo que os negam rotineiramente. Em Diva encontrava uma verdade que acreditei estar distante dos espaços públicos. Ela me estimulou e estimula a ter coragem. É uma professora, de fato. Me forma, de longe, pelo exemplo.
“Eu fui uma professora muito assim, defensora dos meus alunos. E fui uma pessoa que trabalhou no tempo da ditadura. Então, como eu falava com os meus alunos, as vezes eles diziam: ‘- professora porque eu não quero mais. Porque isso, porque aquilo’. Eu falava: ‘-não’. Aí eu contava a minha história para eles. Não como miséria, como sofredora. Eu falava: ‘- como vocês são capazes. Você tem dois olhos, dois braços. Você pensa. Você quer ser respeitado, seja melhor que eles. Estude!’”
(parte do depoimento de Diva Guimarães na Flip)
Concordo tanto com ela. A ditadura da qual falou, ainda está em evidencia. Ainda faz parte do meu presente. A formação nos faz perceber os mecanismos utilizados pelos opressores para nos retirar do caminho. Ao que parece, também estudamos pelos mesmos motivos:
“Eu quero raciocinar. Eu quero saber o que eu tô lendo. Eu quero saber o que tá acontecendo com o meu país, o que tá acontecendo comigo”.
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Sobre o autor
É Pedagoga, Mestra em Educação e autora da obra "Uma década de PROSA". Busca desenvolver, por meio desta coluna, reflexões majoritariamente autobiográficas sobre as condições de vida das pessoas de origem interiorana, especificamente do interior de Alagoas. Escreve, comumente, crônicas e artigos de opinião, mas também utiliza-se da linguagem poética, quando pertinente à temática destacada.
Que se espalhe no mundo, mulheres com essas atitudes que honram nossa formação docente.
Sim, Ana! É o que desejo!