[…] mas são tantas as formas de AMAR

Compartilho duas sínteses da leitura ao texto: “O que é essa coisa chamada amor: identidade homossexual, educação e currículo”, de Deborah Britzman. Na primeira síntese, apresento as minhas impressões por meio de uma leitura individual, depois apresento os meus apontamentos após uma reflexão feita coletivamente, com pessoas que estudaram o mesmo texto. Disponho não apenas um convite ao estudo, mas também ao debate coletivo, com divergência de ideias.

Referência do texto estudado: BRITZMAN, Deborah P. O que é esta coisa chamada amor: identidade homossexual, educação e currículo. Educação & Realidade. 21(1): 71-96. Jan-jun, 1996.

Autora do texto síntese: Hebelyanne Pimentel da Silva.

Síntese anterior ao debate

No texto O que é essa coisa chamada amor: identidade homossexual, educação e currículo, escrito por Deborah Britzman, em 1996, é feita uma exploração à maneira como se dá a construção da identidade sexual, na sociedade moderna. A autora apropria-se do conceito de Capital Cultural, elaborado por Bourdieu, para dar origem a nova categoria: Capital Sexual. Por meio desta, explica como as formas de viver a sexualidade foram sendo construídas e repensadas no decorrer da história, enquanto elementos de significação das hierarquias de poder. A ótica utilizada pela autora é pós-estruturalista, havendo questionamentos a verdades pré-estabelecidas pelo conjunto da humanidade. Aproxima-se de Michel Foucault, pontualmente.

 De acordo com a perspectiva, tudo o que se faz entre humanos, decorre de uma construção interativa. São destacados três momentos de identidade sexual: Juvenil, por meio da educação escolar e não escolar; Dinâmica, por meio da cultura popular, que se mantém econômica ao desejo; Processual, comum nos ambientes de formação de professores, profissionais geralmente preparados para a vitimização das pessoas com orientação sexual transgressora à “normatividade”. Todos fundamentados no binarismo: homem ou mulher. Imposto progressivamente: primeiro as pessoas adquirem o gênero correspondente ao sexo e, posteriormente, vivenciam a sexualidade com seus sexos opostos. Essa lógica também determina escolhas de outra natureza: educacional, profissional. Fatos que levaram Eve Sedgwick, a recordar que não existem ou não devem existir manuais para a criação de pessoas em função do exercício da sexualidade, esta é uma dimensão intima e pessoal.

Na década de 1990, os eventos e produções de pessoas homossexuais, eram comuns, mas existia a ideia de que as pessoas participantes destes, eram homossexuais. Martin e Hetrick, citados, favorecem a apresentação de três tipos de isolamento sofridos por gays e lésbicas: cognitivo, social e emocional. A estes, Britzman acrescentara o isolamento estético, dada a exigência a estilos obedientes às padronizações. Em alguns casos, parece estar em debate a vivência ou negação ao prazer. Enquanto em uma dimensão encontram-se os que buscam por satisfação pessoal, em outra, encontram-se os que se abstém da felicidade, por obediência às imposições. Por tal razão, a autora discorre sobre a relevância do estimulo ao autoconhecimento. Para tanto, é mencionado um trecho do conto de Charles Pouncy, que narra o drama de um jovem que se descobre gay, em contexto de repressão familiar. O conto favorece a percepção de como se dá a construção do amor e da amizade, por jovens, fazendo notável a naturalidade de construções. Os professores, bem como as demais entidades escolares, precisam fazer mais que vincular os temas de sexualidade homoafetiva a homofobia, como recordado. Eles devem fazer pensar sobre o amor e sobre as inúmeras maneiras de construí-lo e exercitá-lo. Assim é possível formar para a vida coletiva.

 

Síntese posterior ao debate

A discussão com Mestrandos e Doutorandos de variados programas e Linhas de Pesquisa, com um mesmo interesse comum de pensar sexualidade, deu origem a novas formas de olhar para o texto. Sobretudo, porque no debate houve associação da reflexão de Deborah Britzman, com a de Stuart Hall. A ideia de identidade foi percebida coletivamente enquanto construção, dada a ênfase comum nos dois textos. Além disso, os principais conceitos, bem como, as correntes teóricas que os inspiraram, foram analisados.

A corrente teórica existencialista, fundamenta ambos, quando discutem à construção das pessoas enquanto seres sociais, a partir de olhar pós-moderno. Existe neles, o desejo de tornar compreensível que a cultura, ao tempo que colabora com a estruturação dos seres, é composta por normas que definem: comportamentos, escolhas, perspectivas. Percebe-se que as influências do essencialismo, predominante por longa data, perde prestígio acadêmico, com o passar dos anos, mas ainda se faz presente no imaginário social. Isso justificara a reação dos pais de meninos no jogo de futebol que tinha uma garota como destaque, exemplo mencionado por Britzman para mostrar como se efetivam as expressões de pensamentos padronizados. A mesma exemplificação configura-se no conto de Charles Pouncy, quando o personagem principal se descobre atraído por outro garoto, em contexto familiar repressor. Britzman tenta mostrar que os estigmas decorrem do desconhecimento de como se dá a construção das pessoas enquanto coletivas. De como se dá a construção do amor e a amizade. Tal desconhecimento vem sendo reafirmado, inclusive, em ambientes escolares. Por meio de ingênuas posturas docentes: a apresentação da homossexualidade como atrelada apenas à homofobia, é um dos exemplos. A percepção parece encaminhar o debate para a necessidade de olhares desaprisionados às diferentes formas de exercício do amor, portanto, da sexualidade.

O problema da descriminação, decorre da ausência de compreensão profunda dos fenômenos, por meio dos exercícios: cognoscente e prático. Ocorre pela setorização do conhecimento: restrição a academia ou a escola. É preciso que exista compromisso individual e coletivo, com a vida cotidiana. É sobre isso que os autores discorrem. Atentam a formação de professores. À supracitada acadêmica, sugere maneiras de superação da opressão imposta aos oprimidos, apresentando a análise do que conceitua como Capital Sexual: privilégio heterossexual e branco, em função do detrimento à homossexualidade. Também enfatiza marcadores sociais como: classe, etnia, geração. Mostrando que a formação da cultura se atrela a elementos que ultrapassam gênero e orientação sexual.

 

Para mais ampla percepção da síntese após o debate, recordemos o que disse Marlise Matos sobre gênero:

Autora do Mapa Mental: Hebelyanne Pimentel da Silva.

 

Referência do texto estudado para a elaboração do Mapa Mental:

MATOS, M. Teoria de gênero ou teoria e gênero? Se e como os estudos de gênero e feministas se transformaram em um campo novo para as ciências. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, maio-agosto, 2008, pp. 333-357.

Sobre o autor

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É Pedagoga, Mestra em Educação e autora da obra "Uma década de PROSA". Busca desenvolver, por meio desta coluna, reflexões majoritariamente autobiográficas sobre as condições de vida das pessoas de origem interiorana, especificamente do interior de Alagoas. Escreve, comumente, crônicas e artigos de opinião, mas também utiliza-se da linguagem poética, quando pertinente à temática destacada.


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