Escrever como terapia

Cursei jornalismo na Universidade Católica de Santos. Lá havia uma série de jornais laboratoriais para que os alunos pudessem praticar. No primeiro ano existia o Ladrilho, um jornalzinho feito do tamanho exato de um ladrilho, contendo uma única notícia, que era colado na parede da sala. Cada aluno escrevia o seu. O conteúdo precisava ter pauta aprovada pelos editores, que eram o Marcelo Di Renzo e a Tereza Cristina Tesser, professores da instituição. A matéria era pesquisada, as entrevistas eram feitas, o texto era redigido e passava pela revisão, avaliação e copydesk dos editores. Só depois seria diagramado no formato correto para que pudesse, então, ser colado na parede, no formato de ladrilho.

No segundo ano havia o Jornal Agência Facos. Tínhamos que estar na faculdade aos sábados, às sete da
manhã. Apresentávamos pauta e, se ela fosse aceita, corríamos para a rua para fazer as entrevistas, voltávamos para a redação que ficava dentro da faculdade, redigíamos o texto, passávamos pelos editores e, se tudo corresse bem, a matéria seguia para a diagramação e publicação.

O jornal era publicado por volta das 13 horas, o que nos dava até o meio dia para o fechamento da publicação. A correria simulava o ritmo de um jornal diário, para que os jovens repórteres tivessem noção daquilo que deveriam esperar em suas futuras carreiras.

Apesar da correria, todos se lembram com muito carinho do Agência Facos. A experiência era única.

No terceiro ano havia o Jornal Entrevista, páginas coloridas, diagramação profissional, uso de fotos, matérias mais longas. Saía uma vez ao mês. Seguia o mesmo processo: apresentação de pauta, entrevistas, redação, revisão, diagramação, escolha de fotos.

No quarto ano havia a Revista Arco, uma parceria entre o curso de Comunicação e o de Arquitetura. As matérias eram ainda mais longas e também seguiam o mesmo processo.

Em paralelo a tudo isso havia as produções para o Rádio, TV e sei lá quantas outras formas de se comunicar. Tudo isso porque era necessário praticar. Era necessário escrever diariamente. Só se aprende a escrever, escrevendo. Nossos professores sabiam disso. Também havia exercícios de leituras dos principais jornais do País. Se você quer escrever, tem que conhecer o estilo a que se propõe.

O que eu sempre vi de fantástico nos blogs era essa possibilidade de se escrever diariamente, de manter contato com outras pessoas que também se interessam pelos mesmos assuntos. Mas aconteceu de alguns blogueiros ganharem muito dinheiro. A partir daí, as pessoas se esqueceram de escrever para praticar, de escrever por prazer, de escrever para se expressar. A grande preocupação era: como ficar rico produzindo um blog?

Depois vieram as redes sociais e tudo ficou ainda mais pulverizado. Agora, depois de tanto tempo, volto a utilizar essa plataforma. Talvez eu esteja falando sozinho no deserto. Talvez não. O que importa é que eu volto a praticar a escrita mais livre e isso me é terapêutico.

 

José Fagner Alves Santos

 

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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