Sejamos mais tolerantes

Mesmo que fôssemos, você e eu, irmãos gêmeos, teríamos experiências de vida diferentes e, consequentemente, gostos e interesses diferentes. Essas diferenças são utilizadas, muitas vezes, como desculpas para discriminar, mas são elas que fazem com que cada um de nós seja único.

Conforme vou envelhecendo e amadurecendo, tenho buscado respeitar as singularidades de cada indivíduo. Não tenho o menor interesse por futebol, mas tento não criticar a paixão dos torcedores; não gosto de filmes de super-heróis, mas faço certo esforço para não ridicularizar marmanjo de quarenta anos que vai ao cinema fantasiado.

É claro que, aqui e ali cometo também os meus deslizes, mas quero acreditar que vou melhorando com o passar do tempo. Por exemplo: já fui religioso e respeito muito os credos alheios. Qualquer um que já tenha me convidado para participar de uma celebração religiosa sabe que não tenho problemas em aceitar. Qualquer um que venha falar da sua fé de forma honesta terá minha atenção. Compreendo muito claramente o valor do credo na vida desses indivíduos e jamais faltaria com o respeito.

No entanto – e sempre tem uma conjunção adversativa –, comungar da mesma fé não é algo tão simples. Já acreditei na teologia cristã porque recebi educação religiosa desde muito cedo. Até recentemente eu me interessava por temas teológicos, mesmo não sendo mais alguém que acredita. Nunca escondi de ninguém meu ateísmo.

O problema é que, a sociedade brasileira ainda tem certa dificuldade em aceitar que alguém possa não crer numa inteligência superior que governe o mundo.

Após escrever que não acreditava na ressurreição de Jesus, fui bombardeado com um monte de mensagens indignadas. “Como alguém tão instruído pode dizer uma besteira dessas?”, “Eu realmente esperava mais de você”, “Você caiu no meu conceito” e outras mensagens com teor semelhante.

O preconceito contra ateus ainda é um problema muito sério. Algumas pessoas chegaram a dizer que não falarão mais comigo. Fico triste com isso. Tenho amigos evangélicos, católicos, judeus, mulçumanos, umbandistas, membros do candomblé, espíritas, budistas e não sei mais quantas religiões. Curiosamente, são sempre os representantes do cristianismo aqueles que demonstram mais dificuldade em aceitar minha falta de fé.

Mas preciso ser justo, muitos são os cristãos que sabem da minha descrença e respeitam isso. Convidam-me esporadicamente para uma visita a sua igreja sem jamais querer impor o seu credo. Desses eu sempre continuarei amigo. Os outros se afastam por sua própria conta.

No quinto capítulo de Mateus, entre os versículos 32 e 34, Jesus diz:

Pensam que merecem elogios só por amarem os que vos amam? Isso até as pessoas más o fazem! E se fizerem bem somente aos que vos fazem bem, o que tem isso de extraordinário? Até os pecadores procedem assim. E se emprestarem dinheiro só a quem vos puder pagar, que bondade há nisso? Até os mais perversos emprestam aos da sua espécie para depois receberem tudo de volta.

Alguns cristãos parecem não ter entendido a mensagem. Tornam-se inimigos de alguém pelo simples fato de não compartilhar da sua fé. Imagine se eu estivesse fazendo mal para algum deles, será que me ofereceriam a outra face?

Boa semana para todos.

José Fagner Alves Santos

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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