Sobre o foco errado na educação

Educação é o processo que nos permite fazer parte do legado humano

Uma  das mentiras mais prejudiciais que me contaram na infância é aquela sobre a educação formal ser garantia de emprego. “Estude para ser alguém na vida”, diziam os mais velhos. Tenho a impressão de que eles nem faziam ideia do que estavam falando, apenas repetiam um chavão que, aos seus olhos, parecia incentivador.

A instrução básica é realmente necessária para fins pecuniários. É preciso saber contar e realizar pequenas anotações se você deseja viver em sociedade. O ensino acadêmico, por outro lado, deveria ser incentivado por outros motivos. Afinal, dificilmente alguém vai se tornar um milionário por ter um doutorado. Mas essa obsessão que temos pelos títulos – provavelmente uma herança ibérica – é algo que ainda precisa ser superado.

Há uma ilusão de que o processo educacional forma pessoas melhores. Tenho minhas ressalvas quanto a isso. Alguns comandantes nazistas eram altamente instruídos. Matavam judeus nos campos de concentração durante o dia e ouviam música clássica à noite, para relaxar. No entanto, a educação permite que participemos do legado humano, de toda nossa herança cultural. É essa mesma educação que nos permite o melhor aproveitamento de certas experiências. Sem falar que o nível de instrução pode definir o quão facilmente você poderá se enganado.

Essa deveria ser a linha de argumentação daqueles que querem nos convencer. Mas ainda hoje, muitos indivíduos seguem a carreira acadêmica como forma de galgar melhores salários ou cargos públicos, resquício da mentira que nos foi contada na infância. É claro que certos postos no funcionalismo público exigem determinados títulos, não é disso que estou falando. O fato é que, existem caminhos menos sacrificantes se a sua intenção é só ganhar dinheiro.

O direito à educação é um direito a fazer parte da humanidade. O que você vai fazer com essa oportunidade já é outra história. Mas, como aconselhou Goethe, o talento se aprimora na solidão, o caráter na agitação do mundo. Aquele conhecimento que você adquiriu lá atrás, e que parecia inútil, pode ter contribuido para uma melhor análise do mundo que te cerca.

Perceber como esse conhecimento desinteressado molda sua personalidade é entender a função da educação em sua vida. E ela não deveria ser exclusivamente financeira.

José Fagner Alves Santos

Foto: Adrian Enache

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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