RETRATOS do INTERIOR
Das catarses criativas. A escrita sempre será a minha forma de viver.
Autora da poesia: Hebelyanne Pimentel da Silva.
As terras eram de herdeiros.
Eram terras abençoadas.
Terras dos que pregavam a justiça.
Dos que diziam ter um lugar próprio para a mulher.
Eram terras preservadas há longa data,
Retiradas de quem lá antes estava,
Justificadas pelo projeto de fé.
Havia um modelo de homem de mulher,
Ancorado em narrativas sonhadoras,
No desejo de transformar o que se é.
A educação seria um instrumento.
Um sustentáculo.
Regeneradora da nação.
As terras eram demarcadas por muros.
Os muros que, às vezes, pareciam grandes demais.
Demarcação de terra (não)pertencente.
Poucos o ultrapassavam.
Tudo dependia de quanto possuíam.
Ela partia de lá.
Ela deixava o que lhe construía.
Ela ia e voltava.
Aos poucos, via que existia algo que diferenciava dois ambientes:
Capital e Interior.
Ela estava olhando tudo.
Mesmo quando não percebia a direção dos olhos.
Saia menina e chegava mulher.
Era alguém que escrevi(vi)a.
Sim! Es-cre-vi-vi-a.
Era construída pelo que deveria mudar.
Mas as vezes parecia se adaptar.
Apenas mais uma mulher de origem interiorana.
As vezes, um mecânico pensar.
Alguém que tinha o que herdar.
E eu,
Tentei dizer dela e deles.
Eu disse deles,
Com eles,
Sobre eles,
Para eles,
Mas, por meio disso,
Encontrei-me.
Escrevi-me.
Falei de e para mim.
Acho que me fiz só entre eles
Era diferente deles,
Mas me distanciava de mim também.
Eu escrevia para me encontrar entre as sobras de nós
Após.
Éramos sós em meio a tantos,
Sobrevivíamos a trancos e barrancos.
Nem conseguia acreditar em algo mais.
Sabia que apenas existia.
E na inexistência me via.
Sim, eu vi(nh)a de lá.
Leia outras histórias
Sobre o autor
É Pedagoga, Mestra em Educação e autora da obra "Uma década de PROSA". Busca desenvolver, por meio desta coluna, reflexões majoritariamente autobiográficas sobre as condições de vida das pessoas de origem interiorana, especificamente do interior de Alagoas. Escreve, comumente, crônicas e artigos de opinião, mas também utiliza-se da linguagem poética, quando pertinente à temática destacada.
Simplesmente a representação da vivência no interior… Essa discrepância de Capital – interior; que somente os que realmente vêm de baixo… E não na capital… Os interioranos que vêm de baixo têm propriedade de falar e de sentir.
Que lindo o seu comentário, Magdiel!!
É exatamente isso!
Parabéns! Hebelyanne Silva pela bela poesia, muito tocante e reflexiva.
Poesia linda e cheia de reflexões importantes para compreender a vida interiorana. Parabéns!
Muito obrigada, Fabiana!!
Uma poesia incrível, cheia de significado, é como se desse sentir para palavra ganhando vida na sua narração.
Que linda!! Obrigada pelo carinho, Monique!!
Obrigada, Maria!!