Palavras de quem leva a sociedade nas costas: o olhar de UMA PROFESSORA DEODORENSE

Localizei a escrita dessa professora quando realizava o meu último estágio de regência durante o curso de Graduação em Pedagogia. A imagem escolhida para esta matéria, encontra-se disponível em nota publicada pela professora deodorense.

Hoje pela manhã, quando lia o anúncio de greve feito pelos professores Alagoanos, que, por sua vez, reivindicavam por melhores salários, pensei sobre como ainda vivemos situações de rebaixamento profissional no estado. Isso me remeteu à muitas memórias, mas especificamente a uma História em particular. A História da professora Eleuza Galvão, fundadora da atualmente denominada Escola Municipal Professora Eleuza Galvão Rodas localizada no Centro da histórica Marechal Deodoro, cidade alagoana. Em nota publicada em 2013, a docente reivindicava melhores condições para a instituição:

 

“O ABANDONO EM QUE SE ENCONTR A ESCOLA MUNICIPAL PROFE. ELEUZA GALVÃO RODAS. TENHA PACIÊNCIA, MEUS AMIGOS, EU MESMA DOEI QUASE 6.000m de terra para a construção dessa ESCOLA e hoje ouço e vejo que está abandonada pelas autoridades educacionais da minha QUERIDA MARECHAL DEODORO. ISTO NÃO É ADMIRÁVEL. AQUI NÃO TEM MAIS EDUCAÇÃO, NÃO TEM SAÚDE, NÃO TEM SEGURANÇA. ESTÁ UM CAOS. ISSO NÃO É COISA POSSÍVEL E VAI AQUI O MEU PROTESTO. LECIONEI E FUI DIRETORA 42 ANOS NESSA ESCOLA E SEMPRE TIVE POR ELA O MAIOR CARINHO. E DIGO COM MUITO ORGULHO QUE FIZ BEM A MINHA GENTE” (PROFESSORA…, 2013).

 

A professora parece ter doado parte de sua propriedade para a construção da escola. O relato revela dois fatos importantes: a entrega profissional que ultrapassa as funções do ofício e a capacidade de reflexão crítica a realidade marcada pela injustiça. As palavras confirmam-se a partir da fotografia a elas, anexada (Imagem 1). Dois meses após a reivindicação, a professora apresentou uma nova nota de repúdio ao estado no qual encontrava-se a instituição (NOTA…, 2013), ilustrando o texto com nova fotografia.

Em nota, a professora continuava a solicitar por melhores condições: “[…] não fui e nem serei a professora mais competente daqui mas fui e continuarei sendo a que mais tive e tenho interessse que os meus alunos aprendam algo” (NOTA…, 2013). Por mais que note existir, nas palavras da professora, a percepção do decadente estado da escola, ela parecia acreditar ser a condição de trabalho a qual estva sendo submetida, decorrente da necessidade profissional.

No relato de Eleuza, parece existir a centralização nas necessidades estudantis, com o desejo de tornar o ambiente escolar apropriado à boas experiências discentes. A deodorense orgulhava-se do que havia sido a escola sob a sua gestão: “[…] aquela escola foi outrora a melhor escola deste município. Fiquem Sabendo” (NOTA…, 2013). Existia a necessidade de tornar a sociedade mais justa por meio da educação, e isso parecia ancorar as justificativas ao seu sacrifício, quase missionário: “Fui e sou muito exigente, todos sabem disto porque queria que meus alunos, aquelas criaturas que deus me mandavam para instrui-las e educa-las, fossem mais tarde alguém” (Idem). As falas de Eleuza Galvão fazem-nos pensar sobre as configurações do trabalho docente em Alagoas, em tempos que não vão distantes, e ajudam-nos a pensar sobre as causalidades dos problemas enfrentados pela categoria na atualidade.

 

 

Sobre o autor

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É Pedagoga, Mestra em Educação e autora da obra "Uma década de PROSA". Busca desenvolver, por meio desta coluna, reflexões majoritariamente autobiográficas sobre as condições de vida das pessoas de origem interiorana, especificamente do interior de Alagoas. Escreve, comumente, crônicas e artigos de opinião, mas também utiliza-se da linguagem poética, quando pertinente à temática destacada.


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