LUGARES que fazem LEMBRAR

Reflexões provocadas pela visualização da cidade de Recife e da história do cinema de rua, por meio do filme “Retratos Fantasmas” e da leitura a textos que tratam da “ritmanálise”.

Hoje ao fazer uma rápida leitura seguida de reflexões provocadas por um estudo de grupo, atento ao método da ritmanálise, rememorei os eventos constitutivos do filme “Retratos Fantasmas”, de Kleber Mendonça Filho, obra cinematográfica que assisti em dias que não vão distantes. Representando o Brasil, na indicação ao Oscar, em 2024, o filme apresenta o cinema por um ângulo peculiar, fazendo um movimento dialógico entre dimensões microscópicas e macroscópicas, por meio do olhar para os espaços em suas transformações temporais, capazes de afetar as pessoas públicas e comuns, imersas nas transformações urbanas da cidade de Recife.

Iniciando na dimensão da casa, o filme dispõe elementos que evidenciam o modo como o cineasta se construiu pessoa e artista, ao tempo que foi construindo as suas obras. É uma produção sobre e de uma pessoa que está dentro da História, e que registrou, de diferentes maneiras, eventos que perpassam a sua criação. Na obra, me chamou a atenção os modos como os lugares e pessoas de Recife, são dispostos sob o som de uma narração que remete a uma conversa informal entre o cineasta e o telespectador. Esse transformar dos lugares, através do tempo, em suas expressões empíricas, e a atenção de Kleber Mendonça Filho, aos ritmos dessas transformações, ilustram, em minha analise, o que seria a ritmanálise em uso. A transformação do presente em presença, por meio daquilo que se observa entre os fenômenos da vida cotidiana que afetaram Recife e a sua empiria cinematográfica. Ao tempo que os registros mostram que existia, em cada momento, um saber sobre o vivido, ele evidencia também, que o vivido estava sendo alterado sem que os seus agentes produtores percebessem diretamente. Henri Lefebvre, que conheci superficialmente por meio de um texto biográfico, ao propor o seu método, tornou possível a percepção de como os projetos de sociedade podem ser evidenciados por meio das modificações da urbanidade, a partir da observação a uma relação notada entre: a natureza e o homem; as coisas e a consciência.

As pessoas, portanto, produzem as sociedades ao tempo que participam dela. O método supracitado, contribui de acordo com Fraya Frehse, ao: “Mostrar a importância de se olhar com estranhamento para as mudanças corporais, para a compreensão do empírico do cotidiano”; e evidenciar a “Historicidade das regras de comportamento do corpo nos espaços públicos urbanos”. Venho arriscando dizer que as contribuições de tal método, podem ser ilustradas pelo modo como foi construído o filme “Retratos Fantasmas”. Um filme que, retratando eventos e personagens da história do cinema, se configura como uma fonte histórica para o estudo do cinema de rua e da vida e obra de um cineasta, da e na capital de Pernambuco.

Sobre o autor

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É Pedagoga e autora da obra "Uma década de PROSA". Busca desenvolver por aqui, reflexões, majoritariamente autobiográficas, sobre o conceito de democracia na sociedade capitalista. Escreve, esporadicamente, poesias e crônicas.


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