Educação, História e Saúde: O primeiro museu sobre uma planta medicinal no Brasil

Os museus são lugares que me ajudam a pensar em um passado real ou planejado. A verdade é que eles são mais uma das formas criadas pelo humano, de tornar algo lembrado. Então essa foi a hora de lembrar de uma simples planta, e da imagem social que ela foi recebendo com o passar do tempo. Cabe ressaltar que tudo o que apresento nesse texto, decorre do que me foi dito durante visita a um museu. Reconheço que apresentava completa ignorância, no que diz respeito ao tema.

Em 24 de abril de 2023, foi inaugurado na cidade de João Pessoa, estado da Paraíba, o primeiro museu brasileiro intencionado em contar a História da Cannabis, como planta medicinal. A iniciativa partiu da ABRACE (ASSOCIACAO BRASILEIRA DE ASSISTENCIA AS FAMILIAS DE CRIANCAS PORTADORAS DE CANCER E HEMOPATIAS).

Utilizada desde 10.000 a.C. na produção de tecidos e cordas, de acordo com pesquisas arqueológicas, comentadas no Museu, os primeiros vestígios de uso da Cannabis medicinal, foram encontrados na China, em 4.000 a.C.

A China que em 2.700 a.C. já dizia existirem mais de 100 doenças tratáveis com esta.  O estrato da planta passou a ser utilizado em 2.500 a.C. na Ásia. Era um dos remédios naturais mais utilizados pela civilização Egípcia. Na Índia recebia o nome de “Ganja”, chegando a ser mencionada em documentos sagrados.

Os primeiros artigos e livros informativos dos benefícios medicinais da planta, surgiram em 1563, pelo fisiologista português Garcia da Orta. Isso interfere na decisão por incentivo a plantação nos Estados Unidos em 1600. Na Escócia, é percebida como útil no tratamento de tosse e cistite, em 1794. Desde então, variadas foram as formas de percebê-la e de a mostrar em produções de muitos gêneros, tornando-a noticia em capa de algumas revistas.

Em 1913, a Califórnia torna-se o primeiro estado americano a fazer legal o cultivo, a venda e o uso da planta. Já no Brasil, em 1932, Getúlio Vargas decreta como ilegais quaisquer que sejam os modos de contato com a planta. Seguindo na mesma posição política, os Estados Unidos da América, em 1937 também adotam grifam como ilegal a planta. Em 1961 a ONU e os países a ela integrados, definem a planta como perigosa e sem benefícios a saúde humana.

Em 1976, um paciente recebeu autorização judicial para utilizar o CBD no tratamento de glaucoma. No ano de 1978, o México cria a primeira lei que reconhece a função medicinal da Cannabis. A Califórnia se torna o primeiro estado a legalizar o uso medicinal da Cannabis, ao tempo que cria uma proteção para médicos que a indicarem em tratamentos, em 1996.

Em 2005 é iniciado o programa de Cannabis medicinal. Até tal ano, os pacientes com doenças raras, precisavam produzir o medicamento para o tratamento de suas patologias, em suas casas, sem a menor estrutura, como, de acordo com os registros expostos no Museu, ocorreu com um dos fundadores da instituição.

Em 2006, a lei 11.343 afirma que o Brasil autoriza o cultivo medicinal e científico da Cannabis. Em 2009 o CONAD reconhece os equívocos históricos no olhar destinado a planta, e reafirma os seus benefícios medicinais. Em 2011 surge o Sativex, medicamento produzido com extrato da planta. Em 2017, surge a ABRACE, primeira instituição Brasileira a produzir medicamentos com extratos da Cannabis. Anvisa aprovou em 2019 uma regulamentação a venda de produtos dessa natureza, em farmácias de manipulação. Em 2020 indiciam-se os benefícios da planta na produção de medicamentos para o tratamento de COVID.

Os primeiros pacientes que se utilizaram do medicamento produzido pela ABRACE, aparecem em imagens expostas em uma das paredes do museu. chamam a atenção também as cartas emolduradas, escritas por pacientes que receberam autorização para comprar o Sativex, e o utilizar em tratamentos. De acordo com trabalhadores da instituição, o museu foi pouco visitado pela população local, até o mês da minha visita.

Sobre o autor

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É Pedagoga, Mestra em Educação e autora da obra "Uma década de PROSA". Busca desenvolver, por meio desta coluna, reflexões majoritariamente autobiográficas sobre as condições de vida das pessoas de origem interiorana, especificamente do interior de Alagoas. Escreve, comumente, crônicas e artigos de opinião, mas também utiliza-se da linguagem poética, quando pertinente à temática destacada.


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