Diversos brasis cantados por Bethânia se destacam no carnaval de SP

Que Bethânia merece todas as homenagens possíveis, disso temos absoluta certeza e ninguém discute. A artista, que em 2022 teve seu extenso legado preservado no livro e também documentário “Maria – Ninguém Sabe Quem Sou Eu”, começa o ano de 2023 sendo homenageada pelo tradicional bloco paulista “Explode Coração”, dedicado exclusivamente à artista baiana.

Consolidado como um dos principais blocos do Carnaval de Rua de São Paulo, reunindo mais de 150 mil pessoas em seu último desfile, o Explode Coração vai fazer vibrar as ruas do centro de São Paulo, no domingo de carnaval, com os diferentes brasis cantados por Maria Bethânia.

A inspiração deste ano é o álbum Brasileirinho, que completa duas décadas em 2023, além do  contexto histórico que vivemos nos últimos anos. “Queremos chamar a atenção para as nossas belezas naturais, para a nossa diversidade cultural e para a potência que somos enquanto país criativo, forte e cheio de resistência. Marca o retorno do verde e amarelo para o Brasil democrático e plural que acreditamos e representamos no nosso desfile”, afirma Gee Galvão, baiana, diretora criativa e uma das fundadoras do bloco.

O desfile do Bloco Explode Coração acontece neste domingo (19). A concentração será às 13h na Praça da República, no centro de São Paulo. A saída acontece às 14h e depois o grupo segue pela Praça da República, Av. Ipiranga, Av. São Luís, R. Cel Xavier de Toledo, Shopping Light – Praça Ramos, Rua Conselheiro Crispiniano, Largo do Paissandú, Av. São João, com encerramento da Av. Ipiranga com a Av. São João, esquina famosa na cidade graças à imortalidade decretada pelo irmão da grande homenageada do desfile, Caetano Veloso.

Formado em 2017, o Explode Coração é um coletivo de artistas profissionais, com integrantes de diferentes cidades do Brasil e do mundo, que toca, em ritmos de Carnaval, canções gravadas pela artista Maria Bethânia, que tem em seu repertório canções de Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Gonzaguinha, Raul Seixas, Roberto Carlos e muitos outros compositores da Música Popular Brasileira. Tanto as músicas quanto a identidade visual dos álbuns são fontes de inspiração para os temas, direção artística, figurino e decoração do trio elétrico. 

Este ano, o bloco promete uma surpresa para os foliões durante o cortejo, em frente à Praça Ramos, e contará ainda com as participações especiais e diversas, de Pernambuco à Angola, dos artistas Luiza Fittipaldi (Pernambuco), Denise Diniz (Bahia), Diego Moraes (São Paulo), Jéssica Areias (Angola) e Zé Ibarra (Rio de Janeiro).

Para Carolina Amorim, cofundadora do Explode, essa atividade explora a sensibilidade e a alegria. “Uma das coisas mais fortes e bonitas é poder tocar as pessoas por meio da música. Criamos um momento único de libertação e amor. É um projeto que se funda basicamente na alegria e tudo o que envolve isso, por mais trabalhoso que seja, vale muito a pena. Partimos da obra de uma artista que admiramos e criamos uma nova obra. Isso me traz sorrisos. É muito poderoso”, diz.

Para Cleber D’nuncio, também cofundador e um dos vocalistas, pontua que além de homenagear a obra de Bethânia, o Explode celebra a pluralidade. “Temos todas as raças, cores e credos fazendo a festa com a gente. A proposta é não deixar a cultura do Carnaval de rua morrer. Nossos foliões são de todas as gerações. São pessoas que foram encantadas pela música de Bethânia e que agora curtem o Carnaval com a certeza de que vão ouvir música de qualidade, na paz e na alegria”, afirma.

 

Compromisso social e ambiental

A sustentabilidade é um dos pilares do Explode e toda ação do bloco é pensada com o objetivo de gerar um engajamento sustentável. Além de desfilar no Carnaval, o Explode também realiza intervenções artísticas, festas, shows de São João, apresentações no formato acústico, Dj Set, oficinas de dança, canto, percussão e direção criativa para eventos.

Resgatamos as tradições do Carnaval da Bahia e usamos os palcos para contar histórias e crenças da cultura nacional, além de ocuparmos, de forma responsável, os espaços públicos. Fazemos uma festa inclusiva, pacífica e democrática onde todes são bem-vindes”, explica Gee Galvão.

O projeto também atua como um agente de exercício da cidadania. “Não somos só um bloco de Carnaval. Somos um projeto artístico de ocupação do espaço público. Ao mesmo tempo em que fazemos música, convidamos as pessoas a saírem das suas casas para virem para o meio da rua conhecerem a cidade onde vivem, por meio de um novo olhar. Mais do que nunca é preciso ter uma postura politizada sobre o espaço em que vivemos”, enfatiza.

 

História

Fundado em 2017, logo no primeiro ano o repertório contou com as clássicas “Reconvexo”, “Explode Coração”, “Tigresa”, “Fera Ferida”, “Mel” e “Sonho Meu” e aproximadamente 10 mil foliões tiveram como ponto de encontro a Rua Barão de Tatuí, no bairro Santa Cecília, em 28 de fevereiro.

Na segunda edição, a inspiração veio de “Pássaro Proibido”, álbum lançado em 1976, que fez com que a intérprete baiana ganhasse o primeiro Disco de Ouro. O trio partiu do Páteo do Colégio, no coração de São Paulo, no dia 13 de fevereiro de 2018, junto com 30 mil pessoas.

O terceiro desfile foi embasado em “Alteza”, disco de 1981 com mais de 750 mil cópias vendidas, que resultou na criação do tema: “Alteza Tropical no País das Bananas”, chamando atenção para o momento político do Brasil. Mais de 100 mil foliões acompanharam o trio, que saiu da Praça da República no dia 3 de março de 2019, domingo de Carnaval.

No desfile de 2020, o bloco se posicionou: “O nosso reino é a rua! Nossa espada é o coração, e é com ele que vamos desfilar pelo centro de São Paulo. Neste dia, o concreto ganha cor e São Paulo vira Bahia”. O discurso de abertura foi marcado por homenagens a Marielle Franco, ex-vereadora do Rio de Janeiro, e ao mestre de capoeira Moa do Katendê.

Em 2021, que será para sempre lembrado como o ano em que a festa do povo não pode ser celebrada, o Explode Coração realizou, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, a intervenção urbana “Quando o carnaval chegar”. Delimitou-se uma área na rua frontal do Theatro Municipal, como fazem os cordeiros com os trios, e o espaço permaneceu vazio durante os dias do Carnaval, evidenciando a ausência das pessoas, destacando o protagonismo dos foliões na festa e a necessidade de ocupação do espaço público. No chão, na parte interna do vazio criado, foi escrita em tinta branca a frase: “TÔ ME GUARDANDO PRA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR”. O verso faz parte da música “Quando o Carnaval chegar”, de Chico Buarque, de 1972. Da mesma música foram escolhidos os versos que foram aplicados em faixas instaladas na fachada principal do edifício. 

Sobre o autor

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Cidadão do mundo, jornalista por formação, comunicador por vocação, apaixonado por música, hardnews e ironia, fotógrafo por hobby, escritor e inquieto por criação. Autor de "Coisas da Vida", "O Diário de Arthur Ferraù", "Águas de Março", "Coisas da Vida" e da série "Labirintos do Coração".


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