a MÚSICA POPULAR e a sua capacidade de ser FORMATIVA

A escrita é uma maneira de eternizar os sentimentos que os lugares deixam em nós.

Hebelyanne Pimentel da Silva

No dia 5 de agosto de 2023, ao somar 438 anos de existência, a cidade de João Pessoa recebeu o cantador cearense SANTANNA, um dos personagens mais importantes da Música popular nordestina. Nas palavras que proferia por meio das poéticas letras musicalizadas, unidas as expressões faciais emocionadas de um humano que transparece suas raízes, encontramos a memória viva da nossa resistência. Após a conclusão da primeira música, o cantor enfatizava o significado que o evento tinha para ele:

“-Depois dessa demonstração, eu chego à conclusão de que eu não estou sozinho. Eu chego à conclusão de que a música popular está protegida porque vocês assim o querem!”

Santanna mostrava como a defesa a uma causa é expressa na forma de viver. Como ela transborda por meio das lágrimas que definem o sentimento carregado pela alma. A apresentação musical recebe um significado que apenas a capacidade de ser verdade pode trazer. Eu, como ouvinte, sentia a cada letra como uma mensagem confortante.

Eu sou da Paraíba, é meu esse lugar/A cara desse povo tem a minha cara/Encanto de beleza que me faz sonhar/Lugar tão lindo assim pra mim, é joia rara/Que bom estar no ponto mais oriental/Astrologicamente ser um ariano/Rimar como um Augusto tão angelical/Eu sou muito feliz/Eu sou paraibano”

Recados necessários a vida na sociedade capitalista.

“Se avexe não/Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada/Se avexe não/Que a lagarta rasteja até o dia em que cria asas/Se avexe não/Que a burrinha da felicidade nunca se atrasa/Se avexe não/Amanhã ela para na porta da sua casa/Se avexe não/Toda caminhada começa no primeiro passo/A natureza não tem pressa, segue seu compasso/Inexoravelmente chega lá/Se avexe não/Observe quem vai subindo a ladeira/Seja princesa ou seja lavadeira/Pra ir mais alto, vai ter que suar”

As palavras dialogavam com o som sensível dos violinos. A arte popular interagia com a clássica, e ambas mostravam o significado que o diálogo tem. As palavras postas nas músicas nordestinas, parecem nos lembrar como somos pertencentes aos lugares que nos produziram e que ajudamos a produzir. Momentos como esses, fazem visível o que existe dentro dos verdadeiros artistas, ao tempo que nos ajudam a recordar o que temos dentro de nós.

Sobre o autor

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É Pedagoga e autora da obra "Uma década de PROSA". Busca desenvolver por aqui, reflexões, majoritariamente autobiográficas, sobre o conceito de democracia na sociedade capitalista. Escreve, esporadicamente, poesias e crônicas.


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