Poesia: A resistência caiçara e a demolição das casas na Juréia
De: Cleiton do Prado Carneiro
Péra … Deixa eu ver se me lembro…
Chegamos nessa tapera, acho que era setembro.
Minha vó nos disse pra se aprecatá,
Porque muita visage tomava conta de lá
Piava um suncim no lado da cachoeira.
Não gosto desse danhisco,
Uma ave goradeira.
Mas nós fomos apegados com nossos sete anjos:
Todos eles liderados por São Miguel Arcanjo
Fizemos nossas casinhas.
Simples, mas de muita beleza…
Procuramos não mexer em nada da natureza.
Pois ali já tinha abacate,
Um pezinho de jaqueira.
Jissara, guavirotaia, fragalha , uma goiabeira.
Era o lugar que morava
A minha tataravó
Ela tinha inté plantado um pézinho de abricó.
Mas o estado não quer
Nem saber da nossa história,
Nem conhecem os costumes que guardamos na memória,
E repassamos aos filhos , sobrinhos e aos afilhados,
Aos netos e a quem quiser levar como aprendizado .
Derrubaram nossas casas, nos chamaram de infratores
Eles são donos de tudo,
Nós que somos invasores
Acabam com nossos lares
E somos destruidores.
Ignorando cultura, expulsam os moradores,
Acho que não tem no mundo
Momento mais assombroso
Do que ver um guarda parque
Se achando vitorioso
Pegar uma motosserra
Cortar uma casa ao meio,
Serrando porta, janela, travessa, parede, esteio…
Triste o tucano cantava, lá no pé do jarová…
Parecia que chorava ao ver a casa se deitá.
No chão daquela tapera que tanta gente morou
E que o estado opressor nossa casa derrubou
Cadê nossa identidade?
Onde está nossa história?
E a ancestralidade???
Quando teremos vitória???
Continuamos lutando, enquanto houver território
Enquanto existir caiçara,
Estamos em ajuntório
Para enfrentar opressor
Lutar por nossos direitos
Cada casa derrubada
É um degrau construído
Nos deixa um pouco mais alto
Nos faz menos oprimidos
E uma casa assegurada é uma família feliz .
Casa pra tocar fandango
Perpetuar a raiz
É onde a tapera vive
É onde vive a coivara
É onde brinca feliz
O filho do caiçara.
Criação e Autoria: Cleiton do Prado Carneiro
Imagem: Associação dos Jovens da Juréia
Contato: [email protected]
Leia outras histórias
ONG faz estudos nos manguezais da região e apresenta os primeiros resultados
Bióloga mexicana fotografa gavião ameaçado de extinção na Zona Rural de Peruíbe
Escritor de Itanhaém, Everton Ilkiu, divulga resenha do seu novo livro "Sol Negro"
Peruíbe pode ganhar 1º hospital hotel para atender de graça pessoas pobres com câncer
IEZ tem projeto aprovado no IPA para trabalhar com o lixo internacional
Verídico: Um breve relato sobre o modus operandi do crime organizado no Sul da Bahia
Feliz aniversário: Conheça cidades que prestam homenagens para Peruíbe todos os dias
Está difícil acordar no Brasil ou acordar o Brasil
Sobre o autor
Sou Jornalista, Técnico em Turismo, Monitor Ambiental, Técnico em Lazer e Recreação e observador de pássaros. Sou membro da Academia Peruibense de Letras e caiçara com orgulho das matas da Juréia. Trabalhei na Rádio Planeta FM, sou fundador do Jornal Bem-Te-Vi e participei de uma reunião de criação do Jornal do Caraguava. Fiz estágio na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Peruíbe e no Jornal Expresso Popular, do Grupo "A Tribuna", de Santos, afiliada Globo. Fui Diretor de Imprensa na Associação dos Estudantes de Peruíbe - AEP. Trabalhei também em outras áreas. Atualmente, escrevo para "O Garoçá / Editoria Livre" e para a "Revista Editoria Livre."