Victória dos Santos lança seu primeiro single “Ave de Rapina”

Há dez anos, o fragmento de um oriki para Exu recolhido por Pierre Verger inspirou a paulistana Victória dos Santos a escrever alguns versos. “Ela abre o bico como Ave de Rapina, e devora o mundo com a cólera que é / Ela é guardiã das estradas, é o grão do jogo de ayó”. Orikis são composições poéticas da tradição iorubá.

Na época, a artista de 18 anos que já se reconhecia nessas frases dava os primeiros passos de uma carreira na percussão que a levou a tocar com Jards Macalé, Drik Barbosa, Ava Rocha, Lenna Bahule, Curumin, Geovana, Kastrup, Rodrigo Campos, Inimigos do Batente, além de fazer participações em shows de Linn da Quebrada, Mateus Aleluia e Aláfia. Com o grupo Mbeji, que co-fundou, participou do Festival do Caribe, em Cuba, em 2017.

Filha de atores, Victória dos Santos foi criada entre a coxia e o carnaval, elementos fundamentais para a sua formação. Ela também é ritmista do Vai-Vai, onde toca timbal, e mestra do bloco Agora Vai. Com a maturidade adquirida em uma década de palco, ela lança aos 28 anos “Ave de Rapina” pelo selo Orí Records junto a YB Music, o primeiro single de uma série que trará diferentes produtores para cada canção, como Caê Rolfsen, Tulipa Ruiz, Craca Beat, Maurício Tagliari e Gustavo Ruiz.

“Eu tenho muita vontade de trazer uma musicalidade tradicional percussiva, afro-brasileira, em fusão com sonoridades modernas, acessando um público que consome música hoje nas plataformas. A ideia é fazer uma ponte para minhas referências: Clementina de Jesus, discos de samba antigos, de música de terreiro”

Na faixa, produzida com Rolfsen, Victória também toca tambores. Fã de Ali Farka Touré, ela convidou o músico André Piruka para gravar o ngoni, instrumento de cordas da África Ocidental, trazendo um pouco do clima da música do malinês que permeia a canção. A base percussiva também traz influências do samba rock, do congo capixaba e do candomblé, chamando a atenção para as referências da artista e para o cuidadoso trabalho de produção. Participam ainda do single os músicos Wilson Fumaça e Maurício Tagliari.

Para fazer a tradução visual da canção, o videoclipe de “Ave de Rapina” foi gravado em uma feira livre na Barra Funda, onde a artista nasceu e foi criada. “Quis trazer o bairro para firmar, é a minha raiz”, diz ela.

Victória veste duas peças no filme, um vestido de canutilhos feito pela artista Paulette Pink e um macacão Ivy Park, grife de Beyoncé, costurando um elo entre a riqueza do cotidiano da feira, com variedade de alimentos, ervas, plantas e flores, e a sua estética esplendorosa, “pombagirística”, como define. A fotografia, edição e direção é de Correria, artista e empresário do rap, criador da gravadora Divisão de Lucro.

“Como é a minha primeira música, eu quis abrir os caminhos pedindo a benção e trazendo força. O mercado é a casa de Exu, um lugar de poder. Ele se alimenta dessa troca constante. Então nada melhor do que exaltar o poder de uma situação como a feira: a rua, a fartura, a beleza do povo. É uma saudação de prosperidade.” 

ASSISTA AO CLIPE DE “AVE DE RAPINA”: https://youtu.be/i-3dXgU0IFY

Texto de Adriana Terra

Sobre o autor

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Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.


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