A história do samizdat

Hoje vou falar sobre um tema muito interessante e relevante: a literatura clandestina na União Soviética. Vamos conhecer a história do samizdat, uma forma de dissidência cultural em que as pessoas reproduziam e circulavam publicações censuradas pelo regime comunista, muitas vezes à mão. Vamos ver também como o samizdat se relaciona com o fanzine ocidental, uma expressão de arte independente e alternativa que surgiu no século XX. E vamos descobrir como dois grandes escritores russos usaram o samizdat para divulgar seus textos proibidos ou perigosos: Anna Akhmátova e Soljenítsin.

Anna Akhmátova foi uma das mais importantes poetisas acmeístas russas do século XX. Ela começou a escrever poesia aos onze anos de idade, mas teve que adotar um pseudônimo para não desonrar o nome da família. Ela se casou com o poeta Nikolai Gumilev, que foi executado pelo governo soviético em 1921. Ela foi forçada ao silêncio pela censura estalinista e não pôde publicar seus poemas por quase trinta anos. Ela viveu de traduções e de uma pequena pensão, e testemunhou as perseguições e prisões de seus amigos, familiares e admiradores. Sua obra é marcada pelo lirismo, pela simplicidade e pela clareza da linguagem, e pelos temas do tempo, da memória, do destino da mulher criadora e das dificuldades em viver e escrever sob o totalitarismo. Seu poema mais famoso é Requiem, uma elegia às vítimas do terror estalinista.

Soljenítsin foi um escritor, dramaturgo e historiador russo. Ele serviu como capitão no Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial, mas foi preso em 1945 por criticar Stalin em uma carta privada. Ele foi condenado a oito anos no Gulag e depois ao exílio interno. Como resultado de sua experiência na prisão e nos campos, ele se tornou um cristão ortodoxo e um crítico do comunismo. Ele publicou seu primeiro romance, Um Dia na Vida de Ivan Denisovich, em 1962, com a aprovação de Nikita Khrushchev. Esse livro foi um relato das repressões stalinistas e causou grande impacto na sociedade soviética e no mundo. Soljenítsin continuou a escrever sobre a repressão soviética e suas experiências em obras como Pavilhão dos Cancerosos, O Primeiro Círculo, Agosto de 1914 e Arquipélago Gulag, esta última uma obra monumental que denunciava o sistema de campos de trabalho forçado na União Soviética. A publicação de Arquipélago Gulag enfureceu as autoridades soviéticas, que cassaram sua cidadania e o expulsaram do país em 1974. Ele recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1970, mas não pôde ir recebê-lo por medo de não poder voltar. Ele viveu na Suíça, na França e nos Estados Unidos, onde continuou a escrever.

O samizdat e o fanzine têm em comum o fato de serem formas de autopublicação que buscam escapar da censura ou da padronização cultural. Eles também se assemelham na forma de produção artesanal e na circulação restrita ou alternativa. No entanto, eles se diferenciam pelo contexto histórico e político em que surgiram e pelo grau de risco envolvido. Enquanto o samizdat era uma forma de resistência política e cultural em um regime autoritário e repressivo, o fanzine era uma forma de expressão artística e cultural em um ambiente democrático e pluralista. Enquanto o samizdat podia significar a prisão ou a morte para seus autores e leitores, o fanzine podia significar apenas a diversão ou a satisfação pessoal.

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Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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