Birdman
Um turbilhão de emoções fomentadas pela raiva, egoísmo, frustrações e uma vontade incessante de se destacar acima de tudo e todos é que compõe o roteiro desta produção, tornando-a tão agitada e envolvente durante os seus 120 minutos de duração.
Birdman (ou A Inesperada Virtude da Ignorância) – sim, tudo isto forma o nome do filme – trama que gira em torno de um artista chamado Riggan Thomson (Michael Keaton), cujo passado grandioso acabou se transformando num presente marcado pela busca desesperada de se tornar um grande astro novamente. Thomson era uma das maiores estrelas do cinema, por sua interpretação do super-herói Birdman, papel que ele se recusou a fazer no quarto filme da série, após já ter participado dos três longas anteriores.
Desde então, o famoso “homem-pássaro” acaba caindo no esquecimento do público e não é chamado para fazer mais nenhum papel importante nos telões. Numa tentativa desesperada de alavancar sua carreira artística, Thomson resolve então montar e encenar uma peça teatral no Teatro St. James, em Nova York. Mas a tarefa não se revela nada fácil para ele que, quanto mais quer atingir a perfeição em seu projeto, mais entraves encontra.
Depois que um spot de luz despenca sobre a cabeça do pior ator do elenco, que abandona a peça por conta do incidente, Thomson se vê obrigado a lidar com uma série de outros entraves: as impertinências de Mike Shiner (Edward Norton) – ator que substitui o que sofreu o acidente e que passa a se intrometer e criticar a forma como Thomson está conduzindo a peça, desafiando-o o tempo todo – os surtos da namorada (Andrea Riseborough) – que diz estar grávida dele –, a presença constante da ex-mulher (Amy Ryan) e a filha adolescente (Emma Stone) – que se sente incomodada por não ter a devida atenção do pai e que já esteve internada numa clínica por consumo de drogas.
Mas o entrave maior de todos jamais o abandonou, trata-se dele mesmo, ou melhor, uma voz que fala o tempo todo dentro de sua cabeça e o faz se sentir culpado por ter abandonado o personagem de herói que o consagrou nos telões. Esta voz aparece algumas vezes para o protagonista em formato do próprio Birdman, permitindo que ele transite entre a ilusão e a realidade, imaginando-se como o super-herói.
Dirigido pelo mexicano Alejandro González Iñárritu, esta comédia dramática acerta numa série de requisitos que a fizeram ser aclamada pela crítica e liderar o número de indicações ao Oscar (9), juntamente com O Grande Hotel Budapeste, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator (Michael Keaton), Melhor Ator Coadjuvante (Edward Norton) e Melhor Atriz Coadjuvante (Emma Stone).
O diretor parece brincar com a câmera em cena de modo a aproximar o público cada vez mais da realidade vivida pelos personagens. A série de planos-sequência que ele adota, nos quais a câmera transita pelos corredores e camarins dos bastidores do Teatro St. James – onde ocorre a maior parte das cenas de Birdman – quase sem cortes, ou com cortes muito sutis, contribui para transformar o espectador em um personagem, o qual é levado para a coxia e camarins do teatro de Nova York.
Quem já assistiu ao grandioso filme Festim Diabólico, dirigido pelo gênio do cinema Alfred Hitchcock – em que o diretor chegou a gravar cenas de 10 minutos sem nenhum corte, o qual, quando acontecia, era feito quase que imperceptivelmente aos olhos do público, transformando a cena cinematográfica num verdadeiro “palco teatral” para os olhos da plateia e conferindo uma nova perspectiva de se fazer cinema – certamente notará tais semelhanças de filmagem em Birdman.
As atuações de Keaton, Norton e Emma são elogiáveis e merecedoras das indicações ao Oscar, especialmente pela forma como se entregam às cenas que exigem a expressão de uma forte carga emocional dos atores para interpretar personagens de personalidades tão distintas e fortes ao mesmo tempo.
Outro requisito de destaque é o roteiro que, recheado de humor negro, nos provoca uma reflexão sobre até que ponto as pessoas se sujeitam a chegar em busca da fama e do reconhecimento e como tudo não passa de uma manipulação da mídia que transforma todos em fantoche. Agora é esperar a cerimônia do Oscar, no dia 22 de fevereiro de 2015, e ver quem leva a melhor.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas
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Sobre o autor
Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.