100 dias de gestão Laryssa Dias: entre números, promessas e uma pergunta no ar
Ipiaú, 100 dias depois
Na manhã de terça-feira, 15 de abril, a prefeita de Ipiaú, Laryssa Dias, reuniu sua equipe de secretários e representantes da imprensa para prestar contas dos primeiros 100 dias de sua gestão. Em meio à formalidade do evento, um tom de entusiasmo pontuou a apresentação: dados, iniciativas, programas e uma sensação latente de que algo está se movimentando. Mas, por trás das cifras e dos feitos, a cidade se debruça sobre a interrogação que paira como neblina sobre o gabinete da prefeita: A prefeita Laryssa Dias supera as críticas e surpreende com grandes feitos em tempo recorde de 100 dias?
Educação: um carro-chefe em ascensão
No coração do discurso da gestora, a educação surge como prioridade indiscutível. Os números apresentados falam por si: mais de 6 mil alunos matriculados na rede municipal, 1.500 deles em escolas de tempo integral — um formato que oferece, além do ensino regular, reforço escolar, esportes, arte, cultura e quatro refeições diárias.
A aposta em tempo integral se apresenta como medida estratégica. Além de garantir segurança alimentar e permanência dos alunos na escola, visa dar suporte a famílias em situação de vulnerabilidade, permitindo que pais e mães trabalhem com mais tranquilidade. Há, no entanto, um desafio latente: a ampliação do modelo para toda a rede, o que exigirá recursos, planejamento de longo prazo e, sobretudo, continuidade.
Outro destaque é o investimento em segurança, com instalação de câmeras em 30 unidades escolares. Na esfera da formação de jovens e adultos, os cursos profissionalizantes ligados ao EJA prometem qualificação com certificação nacional, através de parcerias com o SENAI. A iniciativa contempla áreas como eletricista, costureira, padeiro, confeiteiro e mecânico de refrigeração.
Ainda no setor, a prefeita anunciou a criação do programa “Rota Universitária”, com recursos próprios da Prefeitura — um aporte de mais de R$ 1 milhão por ano para subsidiar o transporte de estudantes até municípios vizinhos, como Jequié, Itabuna e Ilhéus. Um investimento ousado, considerando-se a não obrigatoriedade legal do município neste tipo de custeio.
Entretanto, o maior desejo da gestão é mais ambicioso: trazer cursos de Direito e Medicina Veterinária para o campus da UNEB-Campus XXI em Ipiaú. Um pleito que depende do Governo do Estado e de articulações políticas mais amplas, mas que sinaliza uma visão voltada à fixação de talentos na cidade.
Mas talvez o ponto mais simbólico, pela sua abordagem social, seja o programa “Escola com a Família”. A proposta busca reaproximar pais e responsáveis do ambiente escolar, promovendo maior integração entre comunidade e aprendizado. É, no mínimo, uma tentativa interessante de reconstruir os laços entre o que se aprende dentro e fora da sala de aula.
Saúde: mutirões, números expressivos e vigilância constante
Na área da saúde, a prefeita apresentou uma série de dados robustos: mais de 4.400 atendimentos realizados em mutirões, 3.972 atendimentos individuais na atenção primária e quase 10 mil consultas médicas registradas nos primeiros três meses do ano. A funcionalidade do raio-X no próprio Complexo de Saúde é apontada como conquista, assim como os mutirões de mamografia e os atendimentos aos finais de semana.
O transporte de pacientes, segundo a gestora, somou 2.100 viagens para cidades como Feira de Santana e Vitória da Conquista. Há também a criação de programas específicos, como o voltado para pessoas com fibromialgia — já com 196 pacientes em acompanhamento, majoritariamente mulheres.
Na prática, esses dados revelam um sistema que busca expandir acesso e eficiência. No entanto, a constante demanda por serviços especializados fora do município ainda escancara um gargalo estrutural: a falta de uma rede de alta complexidade em Ipiaú, que siga além dos atendimentos primários e mutirões.
Assistência Social: alimento, acolhimento e autonomia
A frente da assistência social apresentou uma pauta diversificada. Foram 12 mil cestas básicas entregues a famílias em situação de vulnerabilidade, mais de 600 famílias atendidas com o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) com recursos próprios e 8 toneladas de peixe previstas para distribuição na Semana Santa.
A política habitacional também marca presença, com a continuidade do programa de aluguel social e a liberação de recursos no valor de R$ 1,8 milhão por unidade para a construção de duas novas “unidades de saúde” — expressão que, apesar de incomum no vocabulário técnico da política social, parece apontar para novos espaços de convivência ou suporte social.
A inauguração do CRAS do bairro Emburrado, com estrutura moderna, serviços de psicologia e atividades como balé, hidroginástica e capoeira, mostra uma aposta no fortalecimento da rede de proteção básica, com uma visão ampliada do cuidado. Há ainda o projeto “Elas em Ação”, voltado ao empreendedorismo feminino, num aceno à autonomia econômica como estratégia de enfrentamento à vulnerabilidade social.
Infraestrutura e Urbanismo: o chão sob os pés
Os investimentos em infraestrutura somam mais de R$ 2,5 milhões, aplicados em pavimentação, drenagem, requalificação de vias e serviços de limpeza urbana. O esforço cobre tantas áreas urbanas quanto rurais, o que demonstra um olhar territorial mais abrangente. No entanto, a amplitude dos dados exige cautela: não foram detalhadas as localidades atendidas nem os critérios de escolha. O zelo anunciado pela prefeita não encontra, por ora, correspondência em indicadores técnicos públicos de impacto.
Comunicação e presença nos bairros
A estratégia de comunicação da gestão tem sido marcada por ações itinerantes, como o projeto “Prefeitura nos Bairros”. O modelo visa aproximar o poder público da população, com a presença da equipe administrativa em diferentes comunidades, ouvindo demandas, sugestões e reclamações in loco. Essa política, embora elogiável em intenção, carrega o desafio de manter regularidade, efetividade e respostas concretas às demandas recolhidas — sob pena de virar apenas um ato simbólico.
Uma gestão em construção

É impossível ignorar que a prefeita Laryssa Dias iniciou seu governo sob olhares céticos. Jovem, mulher e figura emergente no cenário político local, ela tem enfrentado resistência de grupos tradicionais e de parte da opinião pública. Em meio a esse contexto, os primeiros 100 dias foram apresentados com entusiasmo, números volumosos e projetos em andamento.
Há avanços? Sim. Há promessas ambiciosas? Também. O tempo, contudo, será o verdadeiro juiz das intenções agora anunciadas.
Resta saber se os pilares lançados nestes primeiros meses sustentarão uma política pública sólida, duradoura e transformadora — ou se se tratarão de estruturas temporárias, como andaimes erguidos às pressas para impressionar plateias.
Enquanto isso, a pergunta ecoa pelos corredores da cidade, pela imprensa e, quem sabe, pela própria prefeita diante do espelho: A prefeita Laryssa Dias supera as críticas e surpreende com grandes feitos em tempo recorde de 100 dias?
Por Thomas Leuri Souza — Para o site Editoria Livre
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Sobre o autor
Estudante de Letras pela Universidade Estadual da Bahia, Thomas Leuri Souza desenvolve sua paixão pela construção de narrativas transformadoras. Criador do podcast "Narrativas Invisíveis", oferece um espaço para histórias marginalizadas e promove diálogos sobre diversidade e inclusão. Também é artista, apaixonado por sua própria arte e pelo audiovisual, combinando sua sensibilidade criativa com um olhar crítico e apurado. Transforma suas dores e as dores alheias em arte, conectando sensibilidades e revelando a riqueza das vivências humanas.