Globalização da indiferença

Publicado em 4 de setembro de 2015 

Por Mariana da Cruz Mascarenhas 

Na primeira semana de setembro de 2015 duas fotografias chocaram o mundo: a imagem do corpo de um menino sírio, de apenas 3 anos, encontrado morto em uma praia na Turquia e, na outra foto, o mesmo corpo sendo carregado nos braços por um policial turco.

O garotinho morreu afogado após o naufrágio de um barco que tirou a vida de mais 11 pessoas, as quais, assim como ele, tentavam chegar à ilha grega de Kros. Entre elas estavam o irmão do menino, que tinha 5 anos, e a mãe – para desespero do pai, que sobreviveu ao naufrágio e acompanhou o drama.

Infelizmente este é apenas um retrato de uma realidade muito mais ampla que vem se acentuando cada vez mais: a imigração ilegal. Nos últimos anos, o aumento de conflitos no Oriente Médio resultou na elevação de refugiados dispostos a arriscar tudo em busca de um asilo na Europa, pois já não têm mais nada a perder em nações tomadas pelas guerras e ódio entre diferentes grupos religiosos e políticos. Um relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) revela que, em 2014, cerca de 60 milhões de imigrantes deixaram seus países por causa de guerras e conflitos.

O fluxo migratório na Europa sofreu uma grande mudança ao longo dos anos. No pós-guerra, os imigrantes foram muito bem recebidos para ajudar na reconstrução do continente europeu, fornecendo mão-de-obra barata. Nas últimas três décadas a situação mudou, uma parte dos europeus teme que seus empregos sejam roubados pelos imigrantes e que sejam uma ameaça à seguridade social.

É fato que a primeira solução para evitar a morte de tantos imigrantes, que tentam a todo custo atravessar fronteiras, seria o fim dos conflitos em suas nações de origem. Também é certo que a economia europeia ainda se recupera do grande tombo levado pela crise de 2008, que resultou em ajuste fiscal e desemprego. Todavia, a Europa não pode simplesmente fechar os olhos, ou melhor, fechar as portas para esta trágica realidade que acontece a cada instante.

A flexibilização da rigidez do controle de imigrantes contribuiria até mesmo para movimentar ainda mais a economia europeia e fazer maior jus à globalização tão propagada no mundo – fenômeno que ficou conhecido por unificar partes de todo o planeta, mas que, ao mesmo tempo, agravou as desigualdades sociais por meio da monopolização de cadeias de produtos comercializados pelo mundo, em determinados países. As nações menos desenvolvidas tornaram-se dependentes destas cadeias, com seus cidadãos à mercê de grandes marcas, sendo explorados por elas, seja comercialmente, ou fisicamente, por meio do trabalho escravo, por exemplo, ainda tão presente hoje.

Portanto, é preciso dar voz a esses cidadãos que clamam por ajuda, e não apenas com medidas assistencialistas, mas com verdadeiros investimentos que os tornem capazes de produzir suas próprias riquezas e não fiquem dependentes de explorações e subsídios. É preciso romper as fronteiras, eliminar preconceitos e tratar seres humanos como seres humanos. Isso é globalização!

 

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Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.


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