Por que é preciso existir empresas e profissionais ruins?

Lembro de ter me feito esta pergunta desde que entrei para o mercado de trabalho. E hoje, com vinte e oito, achei a resposta que mais me agrada.

Meu primeiro emprego foi em uma escola de cursos profissionalizantes, aos quinze anos aproximadamente. Comecei a trabalhar por ter repetido o primeiro ano do ensino médio. Minha mãe havia dito que eu iria custear meus livros e que isso me serviria de lição para o resto da vida. Que isso me ensinaria a ter mais responsabilidade — de fato ela estava correta.

Depois que terminei o ensino médio, não sabia que curso escolher. Faculdade e eu eram coisas extremamente distantes. Levei cinco anos da minha vida para decidir o que fazer. Passei por telemarketing, jovem aprendiz — ou faz tudo, como queira — vendedora, consultório dentário e auxiliar administrativo, etc. Em quase todos fui um fracasso e escorri muitas lágrimas. De alguma forma sabia que estava no lugar errado.

Certa vez fui procurar emprego como recepcionista em um colégio perto da minha casa. A diretora do colégio olhou meu currículo e disse: “você não tem perfil para recepção” seguido de um “quer ser instrutora de informática?”. Fiquei surpresa, mas não tinha nada a perder. Aceitei feliz. E certamente não levava o menor jeito para aquilo. Meus alunos sabiam mais de excel que eu que só sabia fazer fórmula de adição e subtração. O colégio também tinha um escritório administrativo. Fui chamada para fazer um teste e mudar de função. Seria designer.

Lá ganhei confiança e descobri que era muito boa. A rotina, certas situações e meu íntimo não suportavam mais ficar ali. Resolvi mudar o rumo das coisas e comecei a faculdade. Foi meu primeiro contato profissional na área. Mudei completamente “a cara” do colégio e vejo frutos do meu trabalho até hoje lá — e acho tudo horrível. Alguns meses depois do início da faculdade, algo me irritou e pedi demissão. Simplesmente cansei e saí.

E é nesta hora que você me pergunta o que houve com a faculdade. Apenas reduzi a quantidade de matérias para apenas uma no semestre até que encontrasse outro trabalho. Sabia que não ficaria desempregada por muito tempo.

Lembro-me de ter feito muitas entrevistas e algumas me humilharam sem piedade (ou necessidade), afinal, eu não tinha experiência nenhuma comprovada. Só alegria, força de vontade e uma dose de loucura. Nesta época dificilmente alguém te contratava sem você ter alguma experiência. Hoje vejo que as coisas estão melhorando. Ou eu que percorri estradas mais longas, quem sabe. Mas sempre fui meio bizarra neste sentido. Se me sinto humilhada por falta de conhecimento eu passo por um processo de choro, tristeza, logo em seguida vou para a rebeldia e termino da estupidez, ou seja, estudo freneticamente. Sempre estudei todos os dias, até hoje. Ser designer significa estudar muito mais que um médico pelo resto da vida, não ver a luz do sol por dias, recusar sair com os amigos se pintar um freela e deixar os jogos que comprou no Steam de lado, dolorosamente.

Depois de correr o Rio de Janeiro inteiro atrás de emprego, fui chamada para fazer estágio em uma agência no Centro da Cidade e logo em seguida consegui contato em outra na Barra da Tijuca. Fiquei feliz. Decidi pela que me pagaria mais, afinal, era a mensalidade da faculdade que estava em jogo, embora sentisse algo bom em relação ao Centro da Cidade.

Optei pela agência da Barra da Tijuca. Esta agência foi minha primeira experiência comprovada na área. Do estágio passei a ser contratada. “Comi o pão que o diabo amassou”. O tempo corria muito rápido e sempre havia muito a ser feito. Fazer um logotipo em seis horas era motivo de esporro — levei muito tempo. E só para que você compreenda, o prazo para criação de logotipo varia de cinco dias — ainda acho loucura — a um mês, aproximadamente, ou mais tempo, dependendo da agência. Mas tem louco para tudo, até para entregar coisas do tipo “trago seu logotipo em 48h”. Acontece…

Meu salário significava pagar faculdade e nada mais. Mas apesar de tudo, esta empresa foi o lugar que mais aprendi em toda minha carreira como Designer. Lá fiz um grande amigo e parceiro de negócios que julgo ser para a vida inteira. Também tenho contato com algumas pessoas até hoje.

Enquanto me cansava de lá, concorri a outras vagas, até que de repente, recebi no LinkedIn uma mensagem da designer que me entrevistou na agência do Centro da cidade, mais de um ano depois (ou mais). Ela lembrou da minha entrevista e me disse que não queria outra pessoa para substituí-la que não fosse eu. Fiquei extremamente feliz e confiante. E trabalho lá até hoje.

Por que estou contando essa história?

As respostas mais simples são sempre as mais difíceis de se encontrar. Nem tudo é o que parece ser. Todos estes lugares loucos que trabalhei me moldaram para o que sou hoje. É sempre possível tirar algum benefício das empresas que você julga ruim. É uma questão de escolha. Você pode passar um tempo desnecessário reclamando ou achar algum sentido naquilo. É algo que você percebe depois de enjoar de se ouvir contestar. Não posso dizer que estou satisfeita. Ainda quero dominar o mundo. Mas depois de um tempo você percebe que precisa plantar pequenas sementes e esperar germinar. E continuar adubando a terra em prol de uma plantação mais fértil, viva. E caso não dê certo, você tenta de novo, com outras sementes, outras técnicas.

Não existe empresa perfeita mas existem circunstâncias. Se não passasse por tudo isso, ainda seria péssima profissional. Empresas fora do contexto servem para nos preparar para algo maior. Você vai chorar, chegar com os pés doendo, ficar infeliz e sentir que não faz diferença. Mas talvez você simplesmente não tenha encontrado algo que seja “a sua cara”, que te faça querer alcançar o “estado da arte”. Se existe força de vontade e incômodo pela vida que leva hoje, encontrar algo que satisfaça os neurônios é questão de tempo, e este muitas vezes precisa ser respeitado. Nem sempre seu tempo é o momento certo. Esperar também é empreender. A maior lição empreendedora que tive na vida foi compreender aonde mora a linha tênue do equilíbrio. Não se precipite fazendo uma jogada questionável mas não leve muito tempo até o xeque-mate.

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