“Num Lago Dourado” aborda conflitos familiares e de gerações de forma leve e divertida

Foto Mariana Mascarenhas

Conflitos familiares, confronto de gerações, anseios da juventude e da velhice…, temas corriqueiros que fazem parte da vida e, por isso mesmo, acabam sendo retratados em filmes, peças e livros, já que a vida imita a arte e esta imita aquela. E, para tratar desses assuntos de forma bem-humorada, o espetáculo Num Lago Dourado conquista a plateia de maneira envolvente e sutil.

Escrito originalmente pelo inglês Ernest Thompson, o espetáculo virou filme em 1981, contando com as grandes atuações de Henry Fonda e Katharine Hepburn nos papéis principais, os quais conquistaram o Oscar de melhor ator e atriz pela produção na premiação do ano seguinte. A peça ganhou versão brasileira, com direção de Elias Andreato, e está em nova temporada no Teatro Novo, em São Paulo.

Na versão cênica nacional, Ary Fontoura interpreta Norman, um professor aposentado, prestes a completar 80 anos, que está passando as férias com sua mulher Ethel (Cléo Ventura) numa casa de campo. Ao longo da peça, Norman vai revelando sua forte personalidade, seu jeito rabugento de ser, em contraste com a meiguice e a docilidade de Ethel que, pacientemente, atura as chatices do marido.

Mas a paciência da esposa é abalada sempre que Norman faz questão de deixar claro suas desavenças com Chelsea (Tatiane De Marca), a única filha do casal, que nunca despertou um grande amor paternal nele. Algo que também acabou contribuindo para que ela fosse muito mais próxima da mãe do que do pai.

A situação se complica quando Chelsea resolve fazer uma visita aos pais, junto com seu namorado e futuro marido (André Garolli) e o enteado adolescente (Lucas Abdo). A partir de então, as discussões entre pai e filha expõem ao público os diversos conflitos familiares entre eles. Mas a proximidade gradativa de Norman com o enteado da filha acaba expondo um lado mais amoroso, que ele mesmo aparenta aprisioná-lo, muitas vezes.

Distanciamento entre pai e filha, problemas de memória na terceira idade, ressentimentos guardados: questões que nos assolam ao longo de nossa jornada e são tratados com delicadeza no espetáculo, de modo a arrancar muitos risos da plateia. Com uma atuação incrível, Ary Fontoura se destaca no elenco ao encarar um personagem rabugento, com problemas internos, e que consegue transmitir ao público a dramaticidade de seu papel, sem, no entanto, perder a leveza e a comicidade, que faz o público rir do seu jeito amargo de ser. Destaque também para Cléo Ventura, que está muito bem em seu papel e numa perfeita sintonia com Fontoura, para mostrar o dia o dia do casal Norman e Ethel, além do quanto são apaixonados, apesar de alguns conflitos esporádicos.

O ator Fabiano Augusto também integra o elenco, com uma participação mais curta na peça, interpretando um engraçado carteiro chamado Charlie.

Num Lago Dourado é uma ótima indicação para quem deseja se divertir e, ao mesmo tempo, refletir e se identificar com muitas das situações retratadas no palco. Uma comédia romântica que, antes de mais nada, nos conscientiza sobre a relevância de valorizar as coisas simples da vida e cultivar a boa convivência com aqueles que estão próximos de nós para, assim, sermos felizes de verdade.

Serviço:

Num Lago Dourado

Onde: Teatro Novo: Rua Domingos de Morais, 348, Vila Mariana, São Paulo (SP). Tel: (11) 2155-0665

Quando: sexta e sábado, às 21h; domingo às 18h

Quanto: R$ 70 (domingo); R$ 80 (sexta e sábado)

Até 16 de dezembro de 2018.

Sobre o autor

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Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.


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