Sucesso eternizado nos palcos

Marcelo Médici fala da peça Cada Um Com Seus Pobrema, que vem lotando os teatros desde a primeira estreia, em 2004, e de sua carreira de modo geral

Há personagens que se eternizam na mente e no coração do público; independente de quanto tempo passe, eles continuam a avivar a memória de quem os acompanha, assim que reaparecem. No mundo das artes cênicas não é diferente, o que explica o sucesso de certas produções por longos anos, lotando o teatro sempre que voltam em cartaz. É o caso de Cada Um Com Seus Pobrema, comédia-solo encenada pelo grande ator e comediante Marcelo Médici, onde ele encara oito hilários e amalucados personagens completamente distintos uns dos outros.

No espetáculo, Marcelo Médici interpreta um ator tímido que trava em cena e então começa a falar de sua vida. Conforme a narração é feita, ele também encarna os demais personagens que vai citando ao decorrer da comédia. Como não gargalhar com um antipático Mico Leão Dourado Gay, narrando suas peripécias, uma apresentadora infantil que detesta criança, Tia Penha, uma Smurfete em fim de carreira com o término de Os Smurfs, uma mãe de santo que incorpora uma Branca de Neve completamente diferente da figura dos contos infantis, entre outros personagens… A versatilidade de Médici em encarar personagens tão diferentes é excepcional e certamente é a fórmula principal para a manutenção de um espetáculo que estreou, pela primeira vez, em 2004.

Atualmente a comédia está em cartaz no Teatro FAAP, onde permanecerá apenas até 26 de julho de 2017, com direção de Ricardo Rathsam. A partir do dia 4 de agosto, o espetáculo ficará em cartaz no Teatro Porto Seguro. Quem já viu, certamente vale a pena rever e dar gargalhadas do começo ao fim. Afinal, trata-se daquelas obras que podem ser repetidas incontáveis vezes e que sempre nos arrancarão um sorriso, também porque os diálogos trazem algumas adaptações da atualidade. A seguir, uma entrevista com o ator Marcelo Médici, em que ele aborda um pouco da peça e de sua carreira de modo geral:

A repórter Mariana Mascarenhas com o ator Marcelo Médici

Mariana Mascarenhas: Cada Um Com Seus Pobrema é considerado um dos maiores espetáculos de sucesso de público e crítica do Brasil. A que você atribui tamanha repercussão?

Marcelo Médici: Adoraria saber a receita, mesmo (risos). Sempre estreamos um espetáculo desejando que o público goste, mas confesso que esse superou minhas expectativas.

Mariana: Em setembro de 2017, o espetáculo será apresentado fora do Brasil, em Orlando, Boston e Miami, nos EUA. É a primeira vez que se apresenta no exterior?

Médici: Sim, é a primeira vez.  Estou indo com muito amor, porque faremos para os brasileiros que moram lá! Muitos ficam anos sem voltar ao Brasil, acompanhando o que acontece apenas pelos jornais, sites e redes sociais. Acho que terá um sabor especial.

Mariana: Sua última participação no teatro, antes de voltar com Cada Um Seus Pobrema foi em Rocky Horror Show. Como foi participar deste espetáculo?

Médici: Foi a realização de um sonho. Vi o espetáculo nos anos 90, uma montagem no Rio de Janeiro, com Claudia Ohana e Léo Jayme, depois me apaixonei pelo filme, pela trilha sonora. O espetáculo é politicamente incorreto e o personagem do Dr. Frank-N-Furter tem uma partitura dramática que é o sonho de qualquer ator: cômico, trágico, patético, debochado. Um vilão encantador! Foi uma festa.

Mariana: Rocky Horror Show é baseado no roteiro escrito pelo australiano Jim Sharman e pelo neozelandês Richard O’ Brien, em 1973, e foi duramente criticado na estreia original, em 1975, por tratar de conceitos como busca de identidade, homossexualismo, liberdade sexual, entre outros aspectos. Passadas mais de quatro décadas, a versão brasileira foi bem aceita, afinal estamos em outros tempos. Mas ainda há preconceitos fortemente enraizados na sociedade, na sua opinião?

Médici: Infelizmente sim. Todo mundo tem um discurso de aceitação em relação à homossexualidade, mas o Brasil ainda é líder em violência contra gays e transgêneros.

Mariana: Em 2006 você atuou em outro espetáculo musical, Sweet Charity, ao lado de Cláudia Raia. Como foi participar desta peça? O número de musicais produzidos no Brasil cresceu muito na última década. Como avalia este cenário?

Médici: Eu já havia feito vários espetáculos musicais, mas não nessa proporção da Broadway. O teatro musical desse estilo é grandioso, emprega muita gente e quase sempre tem um padrão de qualidade que nada fica a dever aos espetáculos de Nova York. Acho que o Brasil merece essa qualidade, merece ter essa opção.

Mariana: Você começou a se destacar na comédia quando participou do programa A Praça é Nossa, graças ao personagem Zoinho. Hoje, mesmo com a explosão de opções de entretenimento na internet, o programa segue no ar assim como o humorístico Zorra Total. A que você atribui a manutenção destes programas?

Médici: A fórmula da praça é eterna, sempre que houver um banco, um grande ator fazendo “escada” e um como comediante, a comédia será estabelecida. Parece simples, mas como eu disse, precisa do banco, do bom ator fazendo a escada e de um bom comediante (risos). O Carlos Alberto de Nóbrega sabe tudo. Ele sabe fazer a escada, sabe valorizar os comediantes e sabe dar espaço a novos talentos.

Mariana: Em Cada Um Com Seus Pobrema, você usa do humor para fazer uma crítica aos problemas do cotidiano de forma sutil, gostosa e envolvente. Você acha que há um limite para o humor, a partir do momento que pode ofender alguém? O politicamente correto atrapalha o trabalho dos humoristas?

Médici: O problema é que a expressão “politicamente correta” acabou sendo banalizada. Não posso concordar com uma nova forma de censura disfarçada de bom mocismo. Nenhuma forma de censura pode ser bem-vinda.

Mariana: Você já participou de várias novelas, peças teatrais e programas televisivos. Considera-se um ator realizado?

Médici: Sim. Eu me lembro de todo o apoio que tive de minha mãe e de minha avó em tempos bem difíceis. Eu adoraria que elas pudessem ver que deu tudo certo! Minha avó chegou a me ver em novelas, minha mãe não. Pode parecer piegas, mas realmente gostaria que minha mãe tivesse me visto em uma novela, num teatro lotado, no cinema, ao lado de Tony Ramos. Agora, no Brasil, nada disso quer dizer nada. A batalha para pagar as contas continua (risos).

Mariana: Atualmente também está dirigindo a peça Brincando em cima daquilo – texto de Dario Fo e Franca Rame –, em cartaz no Teatro Renaissance, em São Paulo. Do que fala a peça?

Médici: A peça é uma obra prima, e Wilson de Santos (ator da peça) uma referência que tenho na arte da comédia. O texto fala da condição da mulher oprimida numa sociedade machista, fala sobre os desejos, sobre as imposições, sobre a solidão. O fantástico é que Franca Rame e Dario Fo falam de tudo isso com humor. É um espetáculo em que o público vai rir, se reconhecer e pensar. Quando a comédia atinge esse patamar, estamos em contato com algum tipo de genialidade proporcionada pelos autores. Dario Fo é ganhador do Nobel de Literatura. É a primeira vez que um ator é autorizado a encenar os textos. Aqui no Brasil foi feito por Marília Pera nos anos 80, e continua atual.

Serviço:

Cada Um Com Seus Pobrema

Onde: Teatro FAAP: Rua Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo – SP.

Informações e vendas: (11) 3662.7233 e (11) 3662.7234

Bilheteria: de terça à sábado, das 14h às 20h. Domingo das 14h às 17h.

Quando: Quartas às 21h

Quanto: R$ 70 (inteira)

Até 26 de julho de 2017

Sobre o autor

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Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.


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