A Garota Dinamarquesa
Publicado em 13 de março de 2016
Por Mariana da Cruz Mascarenhas
Copenhague, Dinamarca, ano de 1926: uma época ainda fortemente marcada por costumes tradicionais e rigorosos, repleta de tabus. Este é o cenário do longa A Garota Dinamarquesa, inspirado em fatos reais. O filme nos mostra a complicada trajetória do pintor Einar Wegener (Eddie Redmayne) tentando compreender a própria sexualidade e lidando com os preconceitos muito mais fortes daquele período. Casado com a pintora Gerda (Alicia Vikander), o artista passa por uma reviravolta em sua vida, graças a uma brincadeira da esposa que resolve pintar um retrato seu vestido de mulher, transformando-o em “sua” modelo.
Mas o que para Gerda não passaria de uma brincadeira, para Wegener acabaria se tornando algo sério: ao colocar o vestido, com certa resistência, a pedido da mulher, o artista descobre sensações diferentes e parece gostar da experiência. A situação ganha contornos ainda maiores depois que ele é incentivado por Gerda – talvez por provocação, ao constatar o comportamento estranho do marido – a ir a uma festa travestido de mulher, apresentando-se como Lili, prima do pintor. Lá o artista acaba confirmando sua homossexualidade de vez, ao passar por uma situação inesperada, para desespero da esposa, que o proíbe de vestir-se como Lili novamente.
Porém, com o decorrer do tempo, o instinto feminino de Wegener vai falando cada vez mais alto até ele “desenterrar” sua prima fictícia novamente, fomentando gradativamente seu desejo de ser mulher. A forte resistência inicial da sua esposa a toda esta reviravolta acaba dando lugar a um forte apoio da parte dela ao esposo, quando ela passa a aceitar a situação e a compreender que seu casamento havia chegado ao fim. A partir de então, desde este momento até os minutos finais da produção, ambos saem numa jornada desenfreada a fim de realizarem o sonho do pintor de virar uma mulher.
Com direção de Tom Hooper, o longa merecia estar na lista dos indicados a Melhor Filme, se destacando em diversos aspectos, entre eles na brilhante abordagem psicológica sobre a descoberta do novo, esmiuçada claramente para o espectador, dando-lhe a oportunidade de praticamente ler a mente do protagonista.
Contribui para isso o trabalho impecável de Redmayne, que não cai no estereótipo para encarar a transformação do seu personagem, mas, pelo contrário, confere grande realismo às cenas, conforme entrega para a plateia a descoberta de suas preferências sexuais, sofrimentos e angústias, além do grande preconceito sofrido especialmente na época, pois muitos achavam que ele padecia de uma doença grave. O ator foi indicado a estatueta de Melhor Ator.
Outra grande atuação é a de Alicia Vikander, que mexe com o público conforme ela exterioriza suas emoções – conseguindo transparecer as reais intenções de sua personagem, que por fora tenta manter a calma, mas por dentro está corroída. Alicia levou o merecido Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. O longa ainda concorreu às estatuetas de Melhor Figurino – muito bem produzido, com a predominância de cores frias, especialmente o azul que denotava o drama das cenas – e Melhor Design de Produção.
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Sobre o autor
Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.