“O Pai” traz delicada situação da oscilação de memória
Foto João Caldas
Encarar os desafios da terceira idade nem sempre se revela uma tarefa fácil, especialmente quando essa fase da vida é acompanhada da chegada de problemas como a perda da memória e/ou confusões mentais. Mas, ainda assim, tais problemas podem se tornar mais ou menos graves. O amor e o cuidado depositados naquele que necessita de atenção podem fazer toda a diferença, mesmo que não seja uma tarefa fácil e exija paciência e sabedoria.
É o caso da relação entre um pai e sua filha abordada na comédia dramática O Pai, em cartaz no Teatro Renaissance. Escrita pelo francês Florian Zeller e considerada um fenômeno mundial, em cartaz em mais de 30 países, a peça aborda a vida de André (papel de Fulvio Stefanini), um senhor que sofre oscilações em sua memória. Enquanto isso, sua filha Ana (Carol Gonzalez) se divide entre o trabalho e o tempo dedicado a cuidar do pai, levando-o, inclusive, a morar com ela.
No decorrer da peça, as oscilações mentais do protagonista tornam-se mais recorrentes e visíveis ao público, por meio das alterações de elementos cenográficos e troca de atores para encarar um mesmo personagem. O espetáculo, então, leva os espectadores a acompanhar a trama com o olhar do pai que, muitas vezes, confunde o rosto da própria filha e de seu suposto namorado (Wilson Gomes e Paulo Emílio Lisboa), da cuidadora contratada por Ana (Carol Mariottini) e de uma enfermeira (Déo Patrício).
As recorrentes trocas de atores e as mudanças contextuais chegam a confundir a plateia intencionalmente, de modo que esta já não sabe mais no que acreditar, criando nela a mesma sensação do personagem, em seus momentos de conturbação mental. Uma conturbação que se agrava a tal ponto que André já não sabe mais ao que se apegar, pois tudo parece instável e confuso. Sensação também experimentada pelo público, com o aceleramento das trocas cênicas. Por isso, a peça tem mais aspecto de drama, com pequenas pitadas de humor, do que uma comédia dramática em si, girando em torno de uma situação bem delicada e real para muitos.
É louvável a atuação de Stefanini que nos convence o tempo todo de seu personagem e suas dificuldades mentais, sem cair no estereótipo, cuja naturalidade é tão envolvente, que seríamos capazes de nos colocar em seu lugar, mesmo se a peça não tivesse trabalhado elementos que contribuíssem para isso. O papel, inclusive, rendeu ao ator o Prêmio Shell 2017 de Melhor Ator, quando ele também celebrou 60 anos de carreira. O Pai tem direção de Léo Stefanini e permanece em cartaz até o dia 10 de junho de 2018. A versão francesa ganhou três Prêmios Molière de melhor peça, ator e atriz principal e, na Inglaterra, a versão inglesa foi eleita a melhor peça do ano pelo The Guardian.
Serviço:
Peça O Pai
Onde: Teatro Renaissance (Hotel Renaissance): Alameda Santos, 2233, Cerqueira César, São Paulo – SP
Quando: sextas e sábados às 21h30; domingo às 18h
Quanto: R$ 80 (sexta e domingo) e R$ 100 (sábado)
Bilheteria: quinta, das 14h às 20h. Sexta, sábado e domingo, das 14h até o início do espetáculo.
Vendas pelo site: www.ingressorapido.com.br
Até 10 de junho de 2018
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Sobre o autor
Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
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