Rei Lear
Iniciantes, amadores ou profissionais: encenar uma peça de William Shakespeare não se revela uma tarefa fácil para qualquer ator, especialmente em razão dos diálogos densos e dos acontecimentos trágicos característicos das obras deste que é considerado um dos maiores dramaturgos da história. E, se encarar um de seus personagens já é um tremendo desafio, imagina encarar vários deles ao mesmo tempo, transformando os textos shakespearianos em nada mais nada menos que um monólogo.
Pois é justamente assim que o famoso conto de Rei Lear, escrito por Shakespeare, nos é apresentado no palco do Teatro Eva Herz, que tem como cenário apenas uma cadeira em um fundo preto ocupado por um único ator: o grandiosíssimo Juca de Oliveira que, com 79 anos, encarou tal desafio de forma excepcional, sendo ovacionado pela plateia.
Dirigido por Elias Andreato, o monólogo Rei Lear traz a história de um rei octogenário tomado pela loucura, após a grande frustração sofrida ao deixar seu reinado para duas de suas três filhas, Goneril e Reagan, não deixando nada para a caçula, Cordélia – simplesmente por ela não ter adulado o pai como suas irmãs, dizendo amá-lo na medida certa, nem mais e nem menos – e ser traído e expulso justamente pelas duas filhas mais velhas, quando ele, já idoso e cansado, busca se aconchegar nos lares delas.
Tomado pelo ódio e pela tristeza, ele começa a caminhar sem rumo, na companhia de seu bobo da corte, e então passa a ter surtos de devaneios dada a tamanha decepção que lhe assola. A fidelidade à obra escrita por Shakespeare termina aí, já que Juca resolve dar um novo fim à história, que no monólogo escapa do final acentuadamente trágico destinado a cada um dos personagens, como é de praxe nas obras shakespearianas.
Pode até ser que o novo final não agrade muito os mais fascinados pelos textos do dramaturgo inglês, mas o fato é que, durante os 60 minutos de peça, Juca conduziu o texto de modo fantástico, dando a devida dramatização a cada palavra dita e denotando perfeitamente bem as diferenças entre cada personagem que ele interpretou, permitindo que o público os identificasse e os distinguisse claramente.
Sem qualquer figurino e numa postura bem à vontade no palco, Juca leva os espectadores para a trama apenas com sua atuação e entonação verbal, chegando até a emocionar a plateia. Isso ocorre principalmente nos momentos finais da peça, trazendo a história de Shakespeare para o mundo atual e despertando uma reflexão sobre quantos pais, após passarem grande parte de suas vidas se doando inteiramente aos filhos, são humilhados e esquecidos em asilos pelos seus próprios herdeiros, assim que estes crescem. Trata-se de um excelente monólogo para apreciar, se encantar e refletir.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas
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Sobre o autor
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