O Som e a Sílaba
Foto Edson Lopes Jr.
Um encontro entre professora e aluna, unidas pela música, transcende o simples ato de ensinar e transforma a história das duas, com lições que se eternizam em suas vidas. Este é o cerne do espetáculo musical O Som e a Sílaba, em cartaz no Teatro Porto Seguro, apenas até dia 26 de novembro de 2017. Com texto inédito e direção de Miguel Falabella, a peça conta com Alessandra Maestrini e Mirna Rubim no elenco. Além de atrizes, ambas são cantoras com registro lírico e têm a oportunidade de mostrar tal potencial no palco. A peça, inclusive, foi escrita especialmente para elas.
O Som e a Sílaba narra os encontros de Sarah Leighton (Alessandra), uma jovem diagnosticada com autismo altamente funcional, e sua professora de canto Leonor Delise (Mirna). Logo no primeiro encontro, Leonor demonstra seu estranhamento pela aluna, desacreditando no potencial da garota para aprender algo. Conforme ela conhece melhor Sarah e novos encontros acontecem, a barreira invisível imposta entre as duas, por certo preconceito da professora, começa a se romper, à medida que uma adentra o universo da outra. Muito mais que aulas de música, os encontros tornam-se, então, verdadeiras terapias para que ambas desabafem seus anseios e Leonor elimine estereótipos construídos sobre pessoas diagnosticadas com autismo. Um aprendizado recíproco que transforma para sempre a vida das duas.
E não é somente a professora que muda sua percepção sobre a aluna, como a própria plateia que, muitas vezes, pode ser levada a adentrar a realidade da professora e descontruir, junto com ela, um universo imagético equivocado sobre pessoas autistas, afinal, involuntariamente, muitos tendem a expressar preconceitos enraizados ao longo da história. O espetáculo mescla música e diálogo, intercalando as conversas entre Sarah e Leonor com momentos em que cada uma delas canta ópera, enquanto as aulas são ministradas.
As duas atrizes estão em perfeita sintonia vocal, corporal e temporal. Destaque para o excelente trabalho de corpo de Alessandra Maestrini, que interpreta sua personagem sem cair no estereótipo representativo para encarar uma jovem autista. Tanto a fala quanto a desenvoltura corporal fluem naturalmente, sem excessos, como resultado de um excelente preparo cênico feito pela atriz. Também não há como deixar de exaltar o talento vocal das duas atrizes, com um registro lírico perfeito, ovacionadas pela plateia sempre que cantam.
É elogioso também o papel de Falabella tanto na direção, quanto na construção de um texto que, apesar de tratar de um tema que poderia ser dramático, se transforma numa história leve e envolvente, que chega a arrancar risos da plateia, já que é uma comédia musical com contornos poéticos e comoventes. Vale ressaltar que o humor é muito bem trabalhado, pois, em nenhum momento apela para clichês e piadas estereotipadas. Os momentos cômicos soam naturalmente e também se revelam uma forma de atrair as personagens ainda mais, conforme se descontraem e riem juntas, eliminando possíveis fronteiras entre elas e levando a plateia ao riso também.
Boa atuação, texto e crescimento cênico fazem parte da conjunção de fatores que engrandecem tanto o espetáculo. Uma peça que certamente mexe com as percepções de muitas pessoas, as quais começam a ver o musical com uma opinião formada e podem mudá-la ao seu término.
O musical mostra o crescimento de uma empatia entre professora e aluna, gradativamente, conforme ambas se conhecem melhor e, principalmente, quando Leonor se despe de sua imagem de pessoa indiferente, revelando seu “eu” amoroso e acolhedor. Um verdadeiro exemplo de como, numa relação entre mestre e aluno, ambos podem se permitir estar nos dois papéis, numa bela história, em que a aproximação dos dois os torna companheiros para toda uma vida.
Serviço:
Comédia musical O Som e a Sílaba
Onde: Teatro Porto Seguro: Al. Barão de Piracicaba, 740, Campos Elíseos, São Paulo (SP). Tel: (11) 3226-7300. Bilheteria: de terça a sábado, das 13h às 21h e domingos, das 12h às 19h.
O Teatro Porto Seguro oferece vans gratuitas da Estação Luz até as dependências do Teatro. COMO PEGAR: Na Estação Luz, na saída Rua José Paulino/Praça da Luz/Pinacoteca, vans personalizadas passam em frente ao local indicado para pegar os espectadores.
Quando: sextas e sábados às 21h e domingos às 19h
Quanto: R$ 120,00 plateia / R$ 90,00 balcão/frisas
Até 26 de novembro de 2017
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Sobre o autor
Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.