Eu também sou um idiota
Aproveitando meu comentário anterior sobre a imbecilidade humana, resolvi falar a respeito da minha própria estupidez. Há algum tempo eu cheguei a defender a tese de que o aquecimento global não era resultado direto da ação humana, mas fruto das constantes mudanças climáticas. Logo eu que não tenho nenhuma formação na área. Li o livro O ambientalista Cético, de Bjorn Lomborg, e vi o documentário A Grande Farsa do Aquecimento Global, produzido por Martin Durkin, pronto. Isso foi o suficiente para me convencer de que as informações que nos chegavam sobre o aquecimento global estavam sendo manipuladas.
Eu, como todo recém convertido, saí espalhando a boa nova aos quatro ventos, sem perceber o estrago que poderia estar causando. Não havia lido um único artigo científico sobre o assunto, nem conversado com algum profissional da área, nem me atentado para os interesses corporativos por trás de tamanha falácia.
Banquei o idiota útil. “Por quê?”, você me pergunta. Porque sou tão idiota quanto qualquer outro ser humano, respondo envergonhado. Esse tipo de atitude se explica pela necessidade de alimentar o ego. É prazeroso ser o primeiro a noticiar algo. Fazer a checagem pode levar tempo e outro pode noticiar antes de mim. É um raciocínio idiota, eu sei, mas só fui perceber isso depois de muitos erros.
Atualmente, tento ser mais cauteloso. Evito sair alardeando algo antes de verificar a informação. Isso não me impede de cometer erros, mas diminui consideravelmente sua incidência. Para além disso, tenho tentado ouvir sempre ou outro lado. Sou qualificado como isentão pelos mais radicais, mas sigo assim na esperança de minimizar os meus vacilos. Todos nós sofremos um pouco do efeito Dunning-Kruger, mas saber disso pode nos ajudar a corrigir a rota. Esse é um exercício que deve ser feito diariamente. É preciso desenvolver o hábito. Vez ou outra a gente acaba vacilando, mas a graça é continuar persistindo, tentando melhorar a cada dia.
É uma utopia, eu sei, mas eu preciso ter um norte a seguir. Gosto de pensar que estou amadurecendo com a idade. Estou ciente de que essa ideia pode não corresponder à verdade, mas peço que faça algumas concessões à minha vaidade.
José Fagner Alves Santos
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Sobre o autor
José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.