Crônica: O fim do Jornal Expresso Popular

Nesta segunda, fui à banca de Jornal e não vi o Expresso Popular me chamando com uma de suas manchetes criativas de algum assunto de interesse da população.

Lembrei-me da última quinta-feira…

Naquele dia, acordei ávido para saber as notícias e acompanhar as estatísticas do meu site, o que costumo fazer pela manhã… No dia anterior, meu aniversário, dei-me de presente o dia inteiro de folga e a ausência absoluta de qualquer sinal de internet ou meio eletrônico.

A quinta não estava legal. Trovões e negras nuvenzonas ameaçavam a minha querida Peruíbe. Parecia que o tempo ia fechar e mais uma vez a chuva forte cairia do céu para castigar meus conterrâneos.

Li que o granizo fez estragos em Iguape.  Recebi vídeos no Whatsapp mostrando a destruição por lá e também em outras cidades do Vale do Ribeira. No calhamaço de notícias ruins, soube do fim do Expresso Popular e quis não acreditar.

Após checar o calendário e ver que não estávamos no dia primeiro de abril, fui procurar a página de outros colegas para saber um pouco mais.

Sim, era verdade…

Na rede social, muitas homenagens de jornalistas que passaram pelo Expresso. Eram fotos, textos saudosos, declarações de amor, lamentos e agradecimentos.

Senti um vazio e fui tomado pela tristeza. Apesar de distante, ainda alimentava a esperança de um dia voltar a escrever naquele jornal.

Naquele instante, um trovão horripilante me acordou do breve devaneio e vi que o mundo desabara em Peruíbe.

Folguei mais uma vez, agora por medo dos alagamentos, pois decidi obedecer às orientações da Defesa Civil que chegaram ao meu celular.

Na sexta pela manhã, vi mais homenagens nos perfis do Facebook e desejei comprar a última edição que sairia naquele dia para guardar comigo.

Atravessei toda a cidade com o meu Chevrolet 98 e parei na casa da minha mãe para conversar e receber, com muito gosto, as felicitações atrasadas de aniversário.

Algum tempo depois, peguei uma bike e fui  em direção à banca mais próxima que pertence ao meu amigo,  o Luizinho, localizada ao lado da prefeitura.

E aí, Marcinho! Tudo bem?

– Beleza, Luis? Você tem aí a Edição do Expresso Popular?

Não tem mais, Márcio. Já era. Ele acabou. Não existe mais.

– Mas hoje era a última edição!

Mas ele deve estar circulando até Praia Grande. Há dois meses não chega aqui. Não vai encontrar em banca nenhuma da cidade…

Agradeci e saí ainda mais triste.

A chuva voltava a cair na cidade exibindo o céu totalmente preto.

Senti um vazio e a sensação de que a banca estava vazia.

Senti-me culpado.

Quantas vezes passei por ali e não comprei o jornal?

Por que não me dei conta que ele estava chegando ao fim?

O pior. Fui comprar a última edição e só então descobri que ele já não circulava na minha cidade havia dois meses…

Um fato que eu já tinha notado antes, mas no qual não quis pensar – talvez por um medo velado – me chamou a atenção: As bancas de jornal tentam sobreviver vendendo de tudo, já que o hábito de ler o impresso está rareando. Pipas, água, doces, salgadinhos, recargas, passagens, bolinhas de gude (sim elas ainda existem e o Expresso não) entre outras coisas.

Vender jornal está ficando cada vez mais difícil e produzi-lo também.

De quem é a culpa?

Será da internet?

Falta vontade, tempo ou saber ler?

O Expresso Popular sabia traduzir a necessidade das pessoas e trazia uma linguagem simples, popular e de fácil entendimento.

Foi o melhor jornal de todos os tempos da última semana! (?)

Ele se foi em um momento em que mais precisamos de jornalistas ou de veículos como o Expressinho. A existência de ambos é de suprema importância para um Brasil melhor. Isto é um fato verídico, venérico e genérico.

Um jornal tenta trazer a informação mais importante do dia, mas, sem ele, o leitor busca cada vez mais na internet os assuntos de seu interesse e ficam especialistas naquilo que acreditam. Buscam provas daquilo que acham que é certo, sem ter uma fonte segura. Com isso, a informação pode ficar sem contexto e os leitores passam a duvidar de tudo ou selecionam tanto a informação que fazem um pré-julgamento sem avaliar o conteúdo.

Veja só.

Recentemente, publiquei neste site uma matéria de divulgação de um show. Acredita que teve gente no Facebook perguntando o local e o horário da apresentação?  Não se deram ao trabalho de abrir a matéria e ler. Estava tudo lá. O que anda acontecendo com as pessoas? Não as respondi, mas felizmente responderam por mim e disseram o que eu gostaria de dizer.

Publiquei também a matéria em que o Bolsonaro fala que pretende revogar o decreto que criou a Estação Ecológica da Juréia, e já adianto aqui que eu não tenho culpa alguma por ele ter dito isso. Entre os comentários, fui chamado de “esquerdopata”, “petralha” e me fizeram o favor de informar que o “Lula tá preso”, seguido do adjetivo carinhoso: “babaca”. Chamaram a minha publicação de “fake news” mesmo com o áudio do presidente.

 Tempos difíceis.

Onde é que vai parar tudo isso?

A impressão que dá é que passamos por um período de transformação e o resultado final não se mostra muito animador.

Antes de terminar, deixo aqui o adeus ao Expressinho,  desejando força e sucesso aos colegas de profissão: O trabalho não pode parar e eu agradeço a tudo e a todos.

Resta saber agora quando será a vez das TVs…

Nesta segunda, fui à banca de Jornal e não vi o Jornal Expresso Popular me chamando com uma de suas manchetes criativas de algum assunto de interesse da população.

Ele se foi deixando um vazio na prateleira da banca e no coração e na alma deste que escreve este texto…

Texto, Criação e Autoria: Márcio Ribeiro

Charge: Ricardo Jottas

Agradecimentos: Ricardo Jottas, Jota Fagner e Erica Rodrigues

Contato: [email protected]

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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