Como fazer uma reportagem
Com a pauta em mãos, chegou a hora de apurar as informações. O que é preciso para desenvolver uma boa reportagem?

Não importa se você está preparando uma matéria para TV, Rádio, revista, jornal, blog, fanzine, podcast, panfleto ou qualquer outro meio de comunicação, a pauta sempre será necessária. É a partir dela que partiremos para o processo de apuração. Agora que já aprendemos como fazer a nossa pauta (veja Pauta: Como fazer? Para que serve?), vamos conversar sobre o ato de transformá-la em uma reportagem legal.
É bom que as fontes já estejam definidas na pauta, assim você não fica perdido sem saber quem entrevistar. No entanto, antes de partir para a entrevista em si, é preciso pesquisar, adquirir conhecimento prévio sobre o assunto que vai cobrir. Um dos grandes erros de jornalistas iniciantes é confiar apenas na fonte e reproduzir tudo o que ela falou. Todo bom repórter precisa saber que as fontes têm seus próprios interesses. É muito comum que mintam para o jornalista. Por isso, é importante que o profissional tenha noção do assunto que está cobrindo, assim ele tem menos chance de ser enganado. Além disso, é preciso checar com outras fontes, em documentos, pesquisas sobre o assunto, reportagens já publicadas.
Vamos usar como exemplo aquela pauta que eu apresentei sobre o buraco na rua atrapalhando o trânsito. Antes de sair para entrevistar as fontes é preciso saber se alguma matéria já foi feita sobre o assunto. Uma pesquisa rápida na internet pode ser um bom começo, mas o bom repórter não pode depender exclusivamente do Google. Mais adiante falaremos sobre isso. É necessário pesquisar nos jornais locais. Esse tipo de problema – o buraco naquela rua – já aconteceu antes? Foi noticiado? Em caso positivo, qual foi o enfoque dado? Quais foram as fontes entrevistadas? O que a prefeitura disse? Algum especialista foi consultado?
Todas essas informações são importantes para o desenvolvimento da matéria. Imagine que você está entrevistando o vereador do bairro. Seria bom deixar claro para ele que aquele é um problema recorrente, que os moradores estão constantemente sofrendo com a situação, que o especialista X ou Y já foi consultado e propôs soluções, que ele mesmo, o vereador, já fez promessas de corrigir o problema de forma definitiva, em entrevistas passadas.
Em resumo, a pesquisa serve para embasar os questionamentos que serão feitos, para conhecer o histórico da fonte que será entrevistada, descobrir o que já foi publicado sobre o assunto, analisar quais fontes já foram consultadas e muito mais.

Vamos a um exemplo prático:
O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, ao comentar as chuvas que arrasavam seu município disse que aquelas eram chuvas “atípicas”. Imediatamente várias pessoas, incluindo historiadores e jornalistas, começaram a publicar em suas redes sociais o histórico de chuvas similares ao longo da história daquela região. Alguns relatos são do século XVI. Em resumo, o prefeito estava mentindo ou mal informado. A função do jornalista é estar atento a isso para não ficar reproduzindo o discurso oficial.
Sempre que encontrar matérias sobre o assunto que você está pesquisando, anote o nome das fontes, os documentos citados, os estudos, os livros. Esse material pode te ajudar futuramente. Tenha sempre um caderninho à mão. Anote tudo que considerar importante.
Como eu já disse ali em cima, não podemos depender exclusivamente do Google. É importante que o jornalista tenha outras fontes de pesquisa: dicionários, biografias, enciclopédias, livros de referências, pesquisas oficiais, especialistas ou pesquisadores que aceitem conversar conosco sobre o tema. Além disso, é importante também que o repórter vá montando seu arquivo pessoal com as matérias, reportagens e informações sobre os assuntos que costuma cobrir. Esse é um investimento a longo prazo, mas que em muito facilita o trabalho do repórter.
Na nossa próxima conversa falaremos sobre montar esse arquivo.
Em seu livro Jornalismo Diário, Ana Estela de Sousa Pinto diz que, para fazer uma boa reportagem é preciso quatro colunas que a sustentem:
- Pesquisa;
- Observação;
- Documentação e
- Entrevista
Se ficarmos atento a esses pontos conseguiremos desenvolver uma boa matéria. Se um deles faltar ou estiver em tamanho desproporcional, a reportagem ficará manca. Não é fácil, mas a prática leva à perfeição – ou quase isso. Não se assunte com os detalhes, na segunda ou terceira matéria você começa a pegar o jeito.
José Fagner Alves Santos
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Sobre o autor
José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.