Como fazer uma reportagem

Com a pauta em mãos, chegou a hora de apurar as informações. O que é preciso para desenvolver uma boa reportagem?

Imagem de DarkWorkX por Pixabay

Não importa se você está preparando uma matéria para TV, Rádio, revista, jornal, blog, fanzine, podcast, panfleto ou qualquer outro meio de comunicação, a pauta sempre será necessária. É a partir dela que partiremos para o processo de apuração. Agora que já aprendemos como fazer a nossa pauta (veja Pauta: Como fazer? Para que serve?), vamos conversar sobre o ato de transformá-la em uma reportagem legal.

É bom que as fontes já estejam definidas na pauta, assim você não fica perdido sem saber quem entrevistar. No entanto, antes de partir para a entrevista em si, é preciso pesquisar, adquirir conhecimento prévio sobre o assunto que vai cobrir. Um dos grandes erros de jornalistas iniciantes é confiar apenas na fonte e reproduzir tudo o que ela falou. Todo bom repórter precisa saber que as fontes têm seus próprios interesses. É muito comum que mintam para o jornalista. Por isso, é importante que o profissional tenha noção do assunto que está cobrindo, assim ele tem menos chance de ser enganado. Além disso, é preciso checar com outras fontes, em documentos, pesquisas sobre o assunto, reportagens já publicadas.

Vamos usar como exemplo aquela pauta que eu apresentei sobre o buraco na rua atrapalhando o trânsito. Antes de sair para entrevistar as fontes é preciso saber se alguma matéria já foi feita sobre o assunto. Uma pesquisa rápida na internet pode ser um bom começo, mas o bom repórter não pode depender exclusivamente do Google. Mais adiante falaremos sobre isso. É necessário pesquisar nos jornais locais. Esse tipo de problema – o buraco naquela rua – já aconteceu antes? Foi noticiado? Em caso positivo, qual foi o enfoque dado? Quais foram as fontes entrevistadas? O que a prefeitura disse? Algum especialista foi consultado?

Todas essas informações são importantes para o desenvolvimento da matéria. Imagine que você está entrevistando o vereador do bairro. Seria bom deixar claro para ele que aquele é um problema recorrente, que os moradores estão constantemente sofrendo com a situação, que o especialista X ou Y já foi consultado e propôs soluções, que ele mesmo, o vereador, já fez promessas de corrigir o problema de forma definitiva, em entrevistas passadas.

Em resumo, a pesquisa serve para embasar os questionamentos que serão feitos, para conhecer o histórico da fonte que será entrevistada, descobrir o que já foi publicado sobre o assunto, analisar quais fontes já foram consultadas e muito mais.

Imagem de Heiko Behn por Pixabay 

Vamos a um exemplo prático:

O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, ao comentar as chuvas que arrasavam seu município disse que aquelas eram chuvas “atípicas”. Imediatamente várias pessoas, incluindo historiadores e jornalistas, começaram a publicar em suas redes sociais o histórico de chuvas similares ao longo da história daquela região. Alguns relatos são do século XVI. Em resumo, o prefeito estava mentindo ou mal informado. A função do jornalista é estar atento a isso para não ficar reproduzindo o discurso oficial.

Sempre que encontrar matérias sobre o assunto que você está pesquisando, anote o nome das fontes, os documentos citados, os estudos, os livros. Esse material pode te ajudar futuramente. Tenha sempre um caderninho à mão. Anote tudo que considerar importante.

Como eu já disse ali em cima, não podemos depender exclusivamente do Google. É importante que o jornalista tenha outras fontes de pesquisa: dicionários, biografias, enciclopédias, livros de referências, pesquisas oficiais, especialistas ou pesquisadores que aceitem conversar conosco sobre o tema. Além disso, é importante também que o repórter vá montando seu arquivo pessoal com as matérias, reportagens e informações sobre os assuntos que costuma cobrir. Esse é um investimento a longo prazo, mas que em muito facilita o trabalho do repórter.

Na nossa próxima conversa falaremos sobre montar esse arquivo.

Em seu livro Jornalismo Diário, Ana Estela de Sousa Pinto diz que, para fazer uma boa reportagem é preciso quatro colunas que a sustentem:

  • Pesquisa;
  • Observação;
  • Documentação e
  • Entrevista

Se ficarmos atento a esses pontos conseguiremos desenvolver uma boa matéria. Se um deles faltar ou estiver em tamanho desproporcional, a reportagem ficará manca. Não é fácil, mas a prática leva à perfeição – ou quase isso. Não se assunte com os detalhes, na segunda ou terceira matéria você começa a pegar o jeito.

 

José Fagner Alves Santos

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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