Crônica: Quando a mulher é soberana e o homem chora

“Analisando esta cadeia hereditária, quero me livrar desta situação precária…”

E parece que quem está na situação precária é o homem, se analisarmos as letras de algumas músicas atuais que tocam por aí.

O começo não ficou bom? Não gostou de relembrar “As Meninas” com “Xibom bombom”, de 1999? Deixa eu tentar de novo:

Analisando as letras de algumas músicas atuais, podemos dizer que as mulheres tornaram-se independentes e soberanas, enquanto os homens não passam de uns bêbados e chorões.

É sério, meu chapa. O que andou acontecendo para as coisas mudarem assim? Ficou muito tempo no bar e não viu o bloco das mulheres passando? Passou um bom tempo azarando as gostosas e não viu que a tua mulher te largou? Então arraste uma cadeira, pegue um copo e sente nesta mesa para “tomarmos uma” e conversarmos sobre o assunto.

Lembra-se daquelas histórias antigas? Pois é, parece que naquele tempo só existiam donzelas doces e inefáveis, enquanto os homens eram fortes viajantes que viviam a deflorar pobres inocentes por aí. Já, a maioria das mulheres, ficava trancada em casa e sem direito a nada.

Muitas delas sofriam pela partida de um príncipe encantando que vivia trocando a amada por qualquer rabo de saia que encontrava pelo caminho. Pedro Bandeira até disse em um dos seus livros infantis que a Branca de Neve deveria ter se casado com o Caçador…

Mas você viu como o mundo mudou? Hoje, elas são protagonistas de quase tudo e, inclusive, no cenário musical. No sertanejo, mostram-se fortes nas suas letras e atitudes, ao contrário dos homens, veja este exemplo:

Na letra de Gian e Giovani, “Pedido de Casamento”, o cara gosta da menina desde pequeno (pior, não sabe disso), ela casa com outro e ainda manda um bilhete dizendo que ele era o grande amor da vida dela. E o que ele faz? Nada! No máximo faz uma música lamentando a situação e contando como é a merda da sua vida. Ah, e ainda chorou de emoção. Veja um trecho:

O tempo passou e eu sofri calado. Não deu pra tirar ela do pensamento

Eu ia dizer que estava apaixonado. Recebi o convite do seu casamento

Com letras douradas num papel bonito. Chorei de emoção quando acabei de ler

Num cantinho rabiscado no verso. Ela disse meu amor eu confesso

Estou casando mas o grande amor da minha vida é você”

Na mesma melancolia cantou Reginaldo Rossi, na música “Garçom”, lembra desta?

Saiba que o meu grande amor hoje vai se casar. Mandou uma carta pra me avisar.

Deixou em pedaços meu coração. E para matar a tristeza só mesa de bar.

Quero tomar todas vou me embriagar. Se eu pegar no sono, me deite no chão”

Agora, meu caro amigo, veja uma música recente cantada por Maiara e Maraisa e se atente na diferença de como elas agem na situação. Olha a classe e a luta:

No dia do seu casamento. Na igreja eu vou entrar correndo

Que se exploda os convidados. Essas flores, esses vasos.

Essa sua mentira. Dane-se esse teatro.

Olha pro seu dedo agora. E jogue essa aliança fora

Eu sei bem quem você ama. É a mim que você chama.

Na saúde, na tristeza. Na alegria e na cama”

Viu só a diferença? Foi só dar corda e condições para a mulherada mostrar a sua força.

E na hora da tristeza? Vamos analisar um exemplo masculino e outro feminino?

Pablo cantou assim, entrando para a lista dos chorões. Sim, seu canto é digno de um rouxinol suicida:

Você foi a culpada desse amor se acabar. Você quem destruiu a minha vida

Você que machucou meu coração. Me fez chorar. E me deixou num beco sem saída.

Estou indo embora agora. Por favor, não implora. Por que homem não chora…”

Que fossa, não? Veja a diferença de postura na letra de Simone e Simaria:

Deixa esse cara de lado. Você apenas escolheu o cara errado

Sofre no presente por causa do seu passado. Do que adianta chorar pelo leite derramado?

Põe aquela roupa e o batom. Entra no carro, amiga, aumenta o som

E bota uma moda boa. Vamos curtir a noite de patroa

Azarar uns boys, beijar na boca. Aproveitar a noite, ficar louca”

Elas chegaram do jeito que a Ludmilla falou:

“Cheguei. Cheguei chegando bagunçando a zorra toda. E que se dane, eu quero mais é que se exploda por que ninguém vai estragar o meu dia…”

Os exemplos podem ser vários. Muitas músicas masculinas seguem este enredo vegetativo, enquanto muitos exemplos femininos ostentam confiança.

O que fazer? “Bora” pagar a conta, sair do bar e valorizar a mulher que temos em casa.

Criação e Autoria: Márcio Ribeiro

Foto: Márcio Ribeiro

Contato: [email protected]

Publicado na Revista Editoria Livre, edição 9

Acesse a revista na íntegra aqui: https://editorialivre.com.br/revista-editoria-livre-edicao-09/

Sobre o autor

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Sou Jornalista, Técnico em Turismo, Monitor Ambiental, Técnico em Lazer e Recreação e observador de pássaros. Sou membro da Academia Peruibense de Letras e caiçara com orgulho das matas da Juréia. Trabalhei na Rádio Planeta FM, sou fundador do Jornal Bem-Te-Vi e participei de uma reunião de criação do Jornal do Caraguava. Fiz estágio na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Peruíbe e no Jornal Expresso Popular, do Grupo "A Tribuna", de Santos, afiliada Globo. Fui Diretor de Imprensa na Associação dos Estudantes de Peruíbe - AEP. Trabalhei também em outras áreas. Atualmente, escrevo para "O Garoçá / Editoria Livre" e para a "Revista Editoria Livre."


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