Vigilância jornalística faz falta

Vivemos numa sociedade bárbara e decadente que não sabe o que é civilização

 

Enquanto muitos decretam o fim do jornalismo, eu percebo que a necessidade deste ainda é muito forte para todos nós. Sem uma mídia que cobre e aponte os erros, o poder público dificilmente fará algum esforço no sentido de melhorar a prestação de serviço. A informação confiável ainda é artigo caro. Deixa eu contar uma história para ilustrar o que eu estou dizendo.

Meu primo foi assaltado nas proximidades da Rua 25 de Março, no Centro de São Paulo. Ele estava saindo do Terminal Parque D. Pedro II e caminhava em direção à Santa Ifigênia. Carregava uma mochila com seu notebook – recém comprado, diga-se de passagem – e o smartphone em uma das mãos. Havia acabado de atender uma ligação e, antes que pudesse guardar o aparelho, foi empurrado por um homem enquanto outro arrastava sua mochila e seu celular. Ambos os ladrões saíram correndo e desapareceram no período de tempo em que ele tentava entender o que estava acontecendo.

Antes que comecem os argumentos culpando a vítima é preciso lembrar que qualquer um de nós está sujeito a esse tipo de acontecimento. É muito fácil bradar táticas de segurança depois do acontecido, mas a verdade é que nada nos protege integralmente de um ataque desse tipo.

Meu primo retornou para casa destruído psicologicamente. O sentimento de impotência deixa qualquer um de nós desnorteado. Fui com ele até uma delegacia de polícia para prestar queixa sobre o ocorrido. Não esperávamos que algo efetivo fosse feito. Não tínhamos essa ilusão. Mas, qual não foi a minha surpresa ao ouvir do policial que deveríamos fazer o boletim de ocorrência via internet. Eles, os policiais, nada poderiam fazer para nos ajudar. Nem mesmo o consolo psicológico de prestarmos uma queixa.

Tudo bem. Voltemos para casa e prestemos essa queixa via internet. Bem, fizemos isso, mas o site da Polícia Civil do Estado de São Paulo recomenda que se procure uma delegacia perto da sua casa.

Fiquei refletindo sobre isso: o policial nos manda tentar pelo site, o site nos manda procurar um posto de polícia. Ao que parece, o crime compensa. A impunidade é garantida. Como eu já disse antes, não esperávamos que a Polícia tomasse alguma providência sobre esse caso específico, mas fomos prestar queixa como forma de exercer a cidadania. Explico: se houver uma mapa estatístico que delineie as áreas de maior periculosidade, será mais fácil para o Estado realocar suas tropas. Será mais fácil saber o que procurar e onde procurar. Mas parece que a própria Polícia anda desiludida. Não há o menor esforço para se fingir que algo será feito. Não há o menor esforço para definir onde vigiar.

Sem querer ser dramático, mas, ficou claro para mim que o Estado não apenas falha em garantir a nossa segurança, ele nem se esforça para fingir que algo está sendo feito. Só quando a mídia caí em cima e toda a sociedade começa a falar sobre o assunto é que alguma atitude é tomada. Se não me engano foi Lévi Strauss quem disse que o Brasil foi da barbárie à decadência, sem passar pelo período civilizatório.

Parece que ele estava certo.

José Fagner Alves Santos

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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