Uma viagem por Peruíbe, Guaraú e Barra do Una em 1868 (Parte 1)
É bastante provável que você, caro leitor, prezada leitora, em algum momento durante esta temporada de verão em Peruíbe tenha reclamado — ou presenciado alguém reclamar — da qualidade das conexões de telefonia celular e internet. Com a cidade superlotada, fazer uma ligação ou conectar-se à internet torna-se exercício de paciência. Aqueles que há mais tempo frequentam este balneário certamente se lembrarão das longas filas que se formavam no prédio da TELESP, quando ansiosos turistas aguardavam sua vez para fazer chamadas DDD nos guichês telefônicos. Tempos em que ter telefone era luxo e ter telefone na praia luxo ainda maior.
Mas antes de telefonia celular, internet 4G, TELESP, etc, muito antes da televisão e do rádio, passavam por Peruíbe os cabos de um importante meio de comunicação utilizado no país a partir do século XIX, a telegrafia elétrica.
As primeiras linhas, restritas ao Rio de Janeiro, capital da Corte, começaram a funcionar em 1852. Apenas a partir de 1865 se iniciou um plano para expansão das instalações telegráficas no restante do Império. Inicialmente, o avanço seria em direção ao norte. Contudo, a eclosão da Guerra do Paraguai em 1865 fez com que a propagação fosse no sentido do sul do país. A Repartição Geral dos Telégrafos organizou um grande mutirão nacional para a construção de uma linha da Corte até o front. O apoio de autoridades das áreas por onde o fio passava foi primordial e proprietários de terras custearam parte das despesas com o fornecimento dos postes e mão-de-obra, ambos tirados das suas fazendas. A parte terrestre iniciou-se em setembro de 1865 e foi concluída em junho do ano seguinte, ligando a Corte até o Sul do território imperial. A linha Sul seguiu o seguinte trajeto: da capital do país ligava-se a Itaguaí, Mangaratiba, Angra dos Reis, Parati, no Rio de Janeiro; Ubatuba, São Sebastião, Santos e Iguape, em São Paulo; Paranaguá, no Paraná; São Francisco do Sul, Itajaí, Desterro (Florianópolis) e Laguna, em Santa Catarina; Torres, Conceição do Arroio e Porto Alegre, na província de São Pedro do Rio Grande do Sul.
Figura essencial para o sucesso deste empreendimento foi Guilherme Schüch de
Capanema (1824-1909) — agraciado por Pedro II com o título de Barão de Capanema —, então diretor da Repartição Geral dos Telégrafos. De acordo com o Dicionário Biobibliográfico Brasileiro , Capanema era filho de Roque Schüch e Cecília Bors, nascido em Minas Gerais, doutor em matemática e ciências físicas pela Escola Militar do Rio de Janeiro, engenheiro pela Escola Politécnica de Viena, lente da Escola Politécnica, professor honorário da Academia de Belas Artes, agraciado com o título de conselheiro do Imperador, major honorário do exército, comendador da ordem da Rosa e da de Cristo, sócio do IHGB, sócio do Instituto Fluminense de Agricultura, fundador da Sociedade Estatística do Brasil. Lecionou física e mineralogia na Escola Militar, fez parte da Comissão Científica do Ceará como diretor da seção geológica e mineralógica. Capanema também foi inventor e empresário em diversos outros ramos. Por exemplo, inventou e produziu o Formicida Capanema, comercializado até o início do século XX.

Em setembro de 1868, entre a segunda-feira, 28 de setembro, e a quinta-feira, 1 de outubro, o jornal Diário do Rio de Janeiro — editado na Corte , de propriedade do Bacharel Custódio Cardoso Fontes — publicou, em 4 partes, um relato elaborado pelo Barão de Capanema intitulado “Viagem por terra de Santos à Santa Catharina em serviço público”. O texto narra a expedição empreendida por Capanema a partir de junho de 1868 com o objetivo de substituir os cabos submarinos instalados nas 17 barras existentes ao longo do traçado da linha telegráfica Rio-Porto Alegre, os quais apresentaram defeitos e paralisaram o funcionamento da rede.

Com ironia refinada e humor ácido, o engenheiro apresenta um retrato interessante da burocracia, da falta de planejamento e da corrupção que (já) dominavam o Estado brasileiro. Demonstra, também, um pensamento prático e objetivo a fim de solucionar as mazelas da infraestrutura do país. Mas o que nos interessa no relato é a descrição feita pelo Barão de sua passagem pelo bairro de Peruíbe, pertencente ao distrito da Conceição de Itanhaém, e pelas regiões do Guaraú e da Barra do Una até alcançar Iguape. Convidamos você, leitor, a nos acompanhar, a partir do próximo artigo, nesta interessante viagem em companhia da expedição do Barão de Capanema.












Texto e Pesquisa: Fábio Ribeiro *
*Professor de História da Rede Pública e Mestre em História Social pela FFLCH/USP
Fotos: Márcio Ribeiro
Postagem: Márcio Ribeiro
Contato: [email protected]
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Sobre o autor
Sou Jornalista, Técnico em Turismo, Monitor Ambiental, Técnico em Lazer e Recreação e observador de pássaros. Sou membro da Academia Peruibense de Letras e caiçara com orgulho das matas da Juréia. Trabalhei na Rádio Planeta FM, sou fundador do Jornal Bem-Te-Vi e participei de uma reunião de criação do Jornal do Caraguava. Fiz estágio na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Peruíbe e no Jornal Expresso Popular, do Grupo "A Tribuna", de Santos, afiliada Globo. Fui Diretor de Imprensa na Associação dos Estudantes de Peruíbe - AEP. Trabalhei também em outras áreas. Atualmente, escrevo para "O Garoçá / Editoria Livre" e para a "Revista Editoria Livre."
Quanta história maravilhosa em nosso Guarau e Peruibe,pena que isso não é divulgado e explorado para um turismo de qualidade.