Um sentido para a vida

Esta semana eu completo 41 voltas em torno do Sol. Confesso que nunca entendi o motivo de se parabenizar alguém que faz aniversário. Parabéns pelo quê? Por continuar vivo? Como se pudéssemos controlar esse tipo de coisa. A data, no entanto, é importante para marcar o tempo que você está em cima da terra e o quanto você realizou durante esse período. Aniversário vem do latim, anniversarius, aquilo que acontece uma vez por ano (como semanário acontece uma vez por semana e mensal acontece uma vez por mês).

Curiosamente, a palavra latina para a festa de aniversário é natalis. Tanto um quanto o outro têm origem em festas pagãs. Os primeiros cristãos rejeitavam essas festividades até meados do século IV, quando se convencionou que a festa de 25 de dezembro seria o aniversário de Jesus. Mas, cá estou eu a divagar sobre questões históricas que nada tem a ver com a conversa de hoje.

Aos 15 anos de idade, eu sonhava que a minha vida estaria “resolvida” aos 25. Um bom emprego, uma boa esposa, filhos, realização profissional. Eu era muito bobo, mais do que sou hoje. E o que aconteceu?, você pergunta. A vida aconteceu.

Como um rio caudaloso, a vida nos arrasta. Se você tiver um motor potente, talvez possa lutar contra a correnteza. Remar apenas com a força dos seus braços seria utópico. Já faz um tempo que tenho tentado abandonar a utopia.

De tudo que tirei da vida, gosto de acreditar que aprendi a ser uma pessoa melhor do que eu era aos 20. Mas talvez isso também seja utópico. Como diria o poeta:

“Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José?”

Agora, no meu aniversário, releio ‘Em busca de sentido’, escrito pelo Viktor Frankl.  O autor passou por quatro campos de extermínio nazista e relata sua experiência nessa obra. Segundo ele, as chances de sobrevivência eram uma em 28. Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, Frankl seguiu seu rumo. Poderia ter desistido de viver, seria mais fácil. Mas ele criou uma meta para si, algo pelo que lutar. Sua narrativa nos deixa um tanto envergonhados dos nossos queixumes diários.

Contaminados pelas produções cinematográficas, aguardamos um final feliz que aconteça de forma mágica. Relutamos em suportar nossa carga de sofrimento e exigimos recompensa imediata. Esperamos que a deusa da fortuna nos sorria, mas não percebemos que isso é tão incerto quanto ganhar na megasena acumulada.

Amadurecer é aprender a morrer. Enquanto ignorarmos isso, continuaremos presos a fantasias cíclicas exaurindo nossas energias em ações estéreis e improdutivas.

Compreender quem você realmente é, aceitar suas limitações e assumir seu real papel na sociedade talvez seja o caminho para uma vida plena e com paz de espírito. Afinal, como bem disse o espanhol José Ortega y Gasset, “eu sou eu e minhas circunstâncias”. E é disso que nunca poderemos esquecer.

 

José Fagner Alves Santos

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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