Um planeta em colapso – A geração da desistência e as responsabilidades negadas

Por: Catharina Apolinário*

Ousada, a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável foi criada em setembro de 2015, junto a um plano de ação para erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade. Esta política pública mundial contém 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). As ODSs trazem uma ambiciosa lista de tarefas que todos nós precisamos cumprir até 2030. Com sucesso, seremos a primeira geração a erradicar a pobreza extrema e iremos poupar as gerações futuras dos piores efeitos adversos da mudança do clima.

Para desenvolver este programa é necessário no entanto o envolvimento das pessoas todas do globo terrestre, seu entendimento do que é a pobreza, das diferenças, dos conceitos de equidade e da responsabilidade de cada um de nós na condução deste processo minucioso. Mas não é isso que temos visto.

Talvez porque para haver sensibilização para a pobreza seja necessário conhece-la. Eu mesma nasci em Santos, em um bairro nobre, mas em uma família simples, humilde, de caiçaras migrantes. Se em muitos momentos me senti pouco privilegiada perante meus colegas de bairro e escola (eu tinha bolsa parcial), financeiramente mais preparados, em outros momentos, fora desta zona de conforto, eu fui levada a ver que a privilegiada era eu e isso me plantou uma responsabilidade.

No entanto, muita gente não viu, nem sentiu, nem nunca entendeu o que é necessidade e falta de oportunidade. Para quem nunca iogurte faltou, não é fácil acreditar que para outros falta água, a ponto de morrerem de sede. Algumas pessoas nunca sentiram medo de não conseguirem pagar contas, de suas perspectivas de futuro, nunca precisaram assumir responsabilidades. Outros, passaram a só pensar no ganho econômico, esquecendo das relações familiares e dos vínculos necessários em sociedade. Como cidadãos inclusive. Para essas pessoas o dinheiro tem comprado tudo, desde o conforto que buscam manter até os sonhos que desfazem por causa dele.

Mas sinto informar amigos que é urgente a mudança no planeta e não há dinheiro que resolva. Pelo contrário. O modo de vida que levamos, o consumo desenfreado, sem observar as consequências futuras e a situação dos recursos do nosso planeta, só me prova que estamos fazendo o contrário do que foi esperado de nós. Éramos a geração que mudaria o mundo. E acreditamos nisso a ponto de nos encher de orgulho. Mas vamos continuar esperando alguém que faça, que diga, que acerte, que resolva por nós.

Continuamos acreditando em falsos profetas com velhas estratégias de cooptação. Continuamos repetindo e acreditando em discursos vazios de ódio que só nos afastam e promovem distúrbios morais e psicológicos. E não menos importante, seguimos abrindo mão de construções reais e sólidas, partindo do diálogo, para a solução dos problemas. Seguimos ainda passando o Mico (lembram do jogo do mico?) como outrora uma geração antes de nós fez conosco. Ah! Mas temos agora a jovem Greta para lutar pelo meio ambiente, podemos relaxar e gozar. Dá um like no vídeo e a causa agradece.

Compromisso. É nisso que estamos errando, ninguém é obrigado a nada nesta vida, porém relações seguras e sólidas dependem de tempestades para se fortalecerem. E as decisões assertivas vem a partir de relacionamentos, diálogos e construções coletivas. Existem momentos de crise e eles são feitos para abrir espaço para soluções. Temos que enfrentar, juntos. As abelhas estão sumindo e em 5 anos nossa alimentação será escassa e com poucas opções. Mas se está na minha telha vou tocar fogo.

Ninguém, em nenhuma relação, seja de trabalho ou afetiva, está livre dos conflitos, e pasmem, eles são importantes para nossa evolução. Mas ao contrário do que deveríamos fazer desistimos, jogamos fora, culpamos o outro, minimizamos os problemas, abrimos mão da nossa responsabilidade, escolhemos o caminho mais fácil. Tudo é simples de se dissolver e as soluções devem ser rápidas. Estamos contaminados pelo imediatismo e ansiedade, que cria uma bruma sólida, impedindo que vejamos as consequências de nossos atos lá na frente.

Faço a minha mea culpa. Recentemente, foi mais fácil trocar o bebedouro da gata do que arrumar. Ora se eu mesma busquei na internet um lugar para arrumar e não encontrei, durante longos 30 minutos. Não presta mais, diria minha avó. Somos a geração que busca relacionamentos vazios na internet, que dissemina fakenews e prefere destruir a reconstruir.

A geração da busca pela felicidade individual, da alegria comprada, da liberdade sem responsabilidade. E de tanto se preocupar consigo mesma, essa geração esqueceu do seu propósito. Como as outras.

O equilíbrio não vem sem esforço, audição, trabalho e muita resolução de conflitos. Em um momento como esse no nosso planeta, quando nenhuma ação pode mais nos salvar e só nos restar minimizar os danos para tentar sobreviver, estamos preocupados com nosso umbigo, fugindo de batalhas importantes, fugindo de responsabilidades que nos cabem com desculpas oportunas e fechando os olhos para as diferenças, necessidades e dificuldades dos demais seres humanos.

Um dia eu ouvi que o ser humano é uma célula cancerígena em Gaia, pois vou além, somos os nossos próprios algozes, dominados por um vazio que ecoa, pelo medo de nos comprometer com causas, pessoas e com a mudança de nossos comportamentos. Não é fácil, nem rápido, nunca foi, é treino e exercício diário, estabelecendo uma consciência crítica e coletiva. Para quem acredita que tem o burro na sombra eu digo, não haverá sombra.

Texto e Autoria: Catharina Apolinário*

jornalista com pós-graduação em controle e gestão ambiental, militante das causas do planeta (e das pessoas).

Postagem: Márcio Ribeiro

Imagem: Pixabay

Contato: [email protected]

 

Sobre o autor

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Sou Jornalista, Técnico em Turismo, Monitor Ambiental, Técnico em Lazer e Recreação e observador de pássaros. Sou membro da Academia Peruibense de Letras e caiçara com orgulho das matas da Juréia. Trabalhei na Rádio Planeta FM, sou fundador do Jornal Bem-Te-Vi e participei de uma reunião de criação do Jornal do Caraguava. Fiz estágio na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Peruíbe e no Jornal Expresso Popular, do Grupo "A Tribuna", de Santos, afiliada Globo. Fui Diretor de Imprensa na Associação dos Estudantes de Peruíbe - AEP. Trabalhei também em outras áreas. Atualmente, escrevo para "O Garoçá / Editoria Livre" e para a "Revista Editoria Livre."


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