Roque Santeiro, o Musical

Foto João Caldas

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

Se você viveu a década de 80 e já era grandinho(a) o suficiente para se lembrar dos programas que marcaram época, certamente se recordará de um dos grandes sucessos exibidos pela TV Globo entre os anos de 1985 e 1986 e considerada, por muitos críticos e telespectadores, a melhor novela de todos os tempos: Roque Santeiro, de Dias Gomes e Aguinaldo Silva. Sua história é baseada na peça O Berço do Herói, escrita por Dias Gomes, que foi censurada e proibida no ano de 1963 por fazer uma espécie de crítica ao regime militar que se iniciava à época, por meio de uma história que exaltava heróis, os quais no fundo não passavam de farsas.

Agora a história é novamente resgatada no palco do Teatro Faap. Com direção geral de Debora Dubois e direção musical de Zeca Baleiro, o espetáculo ganhou uma nova adaptação e formato de musical. Mas esqueça os conflitos que você acompanhou na novela de Gomes e Silva. Com exceção dos personagens e cenário onde estão inseridos, a trama se desenrola de forma um pouco diferente, todavia sem perder a essência atrativa da história, muito pelo contrário: sua criticidade vem ainda mais acentuada, com toda a liberdade que a democracia atual a permite vir.

No palco, o ator Jarbas Homem de Mello – nome já consagrado no gênero do teatro musical brasileiro por suas inúmeras e brilhantes participações, como ator e diretor em espetáculos diversos – vive o fazendeiro Sinhozinho Malta. Um dos homens mais influentes e conhecidos da cidade fictícia de Asa Branca, ele vive em conluio com os deputados de Brasília em busca de formas que valorizem cada vez mais suas terras.

Junto com sua amante Porcina – que se diz viúva de Roque Santeiro, mas nem casada com ele foi – Malta mitifica Roque Santeiro como o santo da região onde viveu, por ter morrido num campo de batalha, em plena Segunda Guerra Mundial, como um verdadeiro herói, o que não passa de uma história inventada. Assim, não apenas o casal, como diversos aproveitadores de Asa Branca lucram com a situação, vendendo medalhas de Roque, promovendo eventos festivos, enfim, fomentando o turismo sobre um mito. A situação se agrava quando Roque Santeiro (Flavio Tolezani) retorna a sua cidade e se indigna com o que fizeram com a sua imagem.

Jarbas Homem de Mello, como sempre, se destaca em sua atuação tanto pela boa expressão corporal quanto vocal, sem cair no exagero, assim como Samuel de Assis, no papel de Zé das Medalhas. O texto é rico pela sua analogia com a realidade, marcada por tantas situações semelhantes, envolvendo corrupção e exploração populacional a custo de uma inverdade transformada em espetáculo. Cenários e figurinos repletos de cores quentes ao longo do musical ressaltam a cultura e forte energia brasileiras.

Serviço:

Roque Santeiro, o Musical

Onde: Teatro FAAP: Rua Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo – SP /Tel: (11) 3662 7233

Quando: sextas e sábados às 21h e domingos às 18h

Quanto: R$ 80 a R$ 90.

Até 14 de maio de 2017

 

 

Sobre o autor

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Mestra em Ciências Humanas. Jornalista. Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Comunicação Empresarial.
Assessora de Comunicação. Blogueira de Cultura e de Mídias.
Sou apaixonada por programas culturais – principalmente cinema, teatro e exposição – e adoro analisar filmes, peças e mostras que vejo (já assisti a mais de 150 espetáculos teatrais). Também adoro ler e me informar sobre assuntos ligados às mídias de modo geral e produzir conteúdos a respeito.


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