Os intelectuais de internet

Existe uma diferença muito grande entre conversar pessoalmente com alguém e manter um diálogo por meio dos aplicativos de comunicação. Quando protegido pelo aparato tecnológico, o indivíduo tem o recurso de pesquisar antes de dar uma resposta. As fotos publicadas são sempre aquelas que retratam o melhor ângulo, com a melhor iluminação e uma ajuda do Photoshop ou similares, que ninguém é de ferro.

Caso esse interlocutor imaginário saiba que você domina alguma área do conhecimento, é muito provável que ele busque informações de comentadores de Youtube, decore algumas frases polêmicas e vomite tudo durante esse diálogo intermediado pelos aplicativos de mensagens.

“Mas não dá para sustentar uma argumentação polêmica sem algum conhecimento de causa”, você pode argumentar. É verdade. Mas essas pessoas não estão interessadas nisso. Elas querem apenas passar uma primeira impressão da sua genialidade, amparadas por opinadores que não fazem a menor ideia do que estão falando.

Você estudou o assunto? Tem uma formação na área? Trabalha no ramo? Não importa. Nada disso importa. De modo geral, essas pessoas não sabem como usar uma vírgula, mas não renunciam um verniz de erudição que não se sustenta por trinta segundos.

Muitas vezes escondidos por trás de uma retórica pseudoprogressiva, eles te qualificarão como agente do mal, defensor do neoliberalismo, fascismo, nazismo e sei lá mais o quê. E ai de você se não repetir as frases feitas das militâncias às quais o seu interlocutor diz fazer parte. Antes que me apedrejem, não tenho nada contra os movimentos pelos direitos das minorias. Considero esses movimentos extremamente necessários e emergenciais. O que não tolero são pessoas pegando carona no sofrimento alheio, almejando posar de “cidadão de bem”.

O que fazer diante de tudo isso? Eu não sei. Estou aprendendo a não bater palma para maluco dançar. Se você tiver alguma solução mais eficiente, por favor, compartilhe comigo.

Esse tipo de pessoa pode até ser desagradável no trato pessoal, mas certamente será insuportável em seu comportamento nas redes sociais e aplicativos de mensagens.

 

José Fagner Alves Santos

 

Sobre o autor

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José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.


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