O termo Ipiaú
Estive conversando recentemente com a Cláudia – bibliotecária do Museu do Café aqui da cidade de Santos – sobre o empobrecimento da língua, sobre reforma ortográfica, sobre mentiras que se perpetuam Ad infinitum, e da participação dos jornalistas nisso tudo.
Lembrei-me de que eu mesmo já repassei algumas idéias tolas que costumava ouvir constantemente, mas tão constante e tão intensamente que em alguns momentos se confundiam com a verdade.
Exemplo disso é o nome da minha cidade. Ipiaú já foi traduzido algumas vezes como “Dois Rios” outras como “Rio Novo”. Confesso que eu mesmo já repeti esses engôdos algumas vezes.
Mas, é bom que se lembre que as tribos que habitavam a região antes do processo de ocupação eram conhecidas como tapuias. Já expliquei aqui anteriormente que tapuia era um nome genérico dado àqueles que não pertenciam ao tronco linguístico tupi-guarani. O fato de a cidade ser batizada com um nome vindo exatamente do tupi-guarani é, no mínimo, um mal entendido.
De qualquer forma, fica a pergunta: O que significa Ipiaú? Bem, a palavra é, na verdade, a junção de duas outras: I + piahu. A primeira pode ser traduzida como água, pequeno, fino, delgado ou magro. Tomando alguns exemplos conhecidos, temos: Iara (deusa das águas), Itararé (pedra esculpida pelas águas) e tantos outros.
A segunda palavra é simplesmente a grafia antiga de piaú ou piau como ficou popularmente conhecido. Em tupi significa pele manchada, era um nome dado a um espécime de peixe de água doce mais conhecido como piaba.
A palavra Ipiaú, portanto, pode ser traduzida como Rio dos piaus ou Rio das piabas.
Não ficou convencido? Tomemos então outro exemplo: a palavra que dá nome ao estado do Piauí (piahu + I): Rio de piaus[1].
Abraço, e até a próxima!
[1] Para o popular brasileiro o adjetivo Piauí pode ser também um tipo de gado bovino de pequeno porte e dotado de cornos desenvolvidos, no entanto, este termo foi cunhado por causa do gado que era criado na região do Piauí, visto que esta é uma região pecuarista.
Fagner Alves
Leia outras histórias
Uma Viagem aos Clássicos dos Anos 80 com Giva Moreira e Jota Fagner
A eterna falta de tempo
Revista Editoria Livre terceira edição
Literatura e interpretação de mundo
Para quem sonha em ser jornalista #PEDAblogBr
House of Cards e o mito do jornalismo objetivo
Depois do #PEDAblogBR
Qual o rosto perdido de Jesus?
Sobre o autor
José Fagner Alves Santos é jornalista (MTB 0074945/SP), formado em Letras. Mestre em Educação, Doutor em Literatura. Fã de Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese, Hunter Thompson, John Hersey e Eliane Brum. Faz um arremedo de jornalismo literário. Publica sempre às segundas aqui no Editoria Livre e apresenta o podcast que é publicado às quartas. Colabora com o Portal Café Brasil.